A rede de conexões construída por Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master e preso nesta terça-feira (18) pela Polícia Federal, revela a influência central do senador Ciro Nogueira (PP-PI) em sua trajetória no ambiente político e empresarial. A apuração é do jornalista Daniel Weterman, do Estado de S. Paulo, que detalha como o banqueiro transitaria com facilidade entre figuras de destaque do mercado financeiro e lideranças de diferentes espectros ideológicos.
Vorcaro foi detido ao tentar deixar o país, segundo informações da PF. Em público, o empresário defendia a importância de “escolher as pessoas com quem se conectar”, premissa que orientou a formação de seu círculo de influência. Essa teia de relações está no centro das investigações que motivaram a liquidação extrajudicial do Banco Master pelo Banco Central e o afastamento do presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa.
Ciro Nogueira é apontado como principal articulador político de Vorcaro
Entre os diversos nomes que integravam o entorno do banqueiro, nenhum exerceu papel tão relevante quanto o senador Ciro Nogueira. Segundo interlocutores citados pelo Estadão, Ciro era considerado o aliado mais próximo de Vorcaro em Brasília.
Pessoas que acompanharam as negociações afirmam que o senador foi consultado antes de o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, autorizar o BRB a avançar nas tratativas para adquirir parte do Banco Master. O grupo político ligado a Ciro — que inclui o presidente do União Brasil, Antônio Rueda — articulava apoio ao governador nas eleições de 2026, o que ampliava a influência do senador nessas tratativas.
Nessa engrenagem, Ciro também teria apadrinhado a escolha de Alexandre Cordeiro para a presidência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão classificou a operação envolvendo BRB e Banco Master como “simples”, decisão que agora volta a ser analisada à luz das investigações. Procurados, nem Nogueira nem Ibaneis comentaram o caso.
Vorcaro e o senador apareciam juntos com frequência em eventos e seminários internacionais que reuniam empresários e políticos — encontros que reforçavam a imagem de proximidade entre os dois.
Como avançaram as negociações entre BRB e Banco Master
As tratativas para uma possível aquisição de parte do Banco Master pelo BRB começaram em novembro do ano passado. Em janeiro, o banco brasiliense iniciou auditorias para avaliar o potencial de fortalecimento de sua atuação em áreas como cartões privados, crédito e banco digital.
A operação chamou rapidamente a atenção do Banco Central. As propostas de expansão, somadas ao modelo de negócios do Master — que incluía a oferta de títulos cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) a taxas muito acima das praticadas pelo mercado — acenderam alertas entre reguladores.
Paralelamente, a Polícia Federal passou a investigar irregularidades na emissão de títulos de crédito, o que levou à deflagração da operação que resultou na prisão de Vorcaro e de seu sócio, Augusto Lima. A PF suspeita que o banco participava de um esquema de fraude bilionário com repercussões sistêmicas.
Influência de outros aliados: aproximação com Fábio Faria
Outro nome citado como parte da rede de articulação política de Vorcaro é o de Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações e aliado de Ciro Nogueira no governo Bolsonaro. Segundo apuração do Estadão, Faria apresentou o banqueiro a outros interlocutores influentes, ampliando seus canais de acesso em Brasília. O ex-ministro não se manifestou sobre o caso.
A combinação de relações com integrantes tanto do Centrão quanto de grupos ligados ao bolsonarismo fortaleceu o trânsito político de Vorcaro e contribuiu para abrir portas em diferentes setores do poder público.
Prisão e intervenção do Banco Central interrompem avanço político do grupo
Vorcaro foi preso ao tentar deixar o país, em um momento em que sua relação com autoridades políticas estava sob crescente escrutínio. A ação policial ocorre em paralelo à decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master e de sua corretora de câmbio — medida tomada menos de um dia após o Grupo Fictor anunciar interesse em adquirir a instituição, operação que gerou forte ceticismo no mercado.
A liquidação encerra todas as negociações e retira de Vorcaro qualquer controle sobre o banco. O BC nomeou a EFB Regimes Especiais de Empresas como liquidante, responsável por levantar ativos, apurar passivos e conduzir o encerramento das operações.
Caso deve aprofundar investigação sobre articulação política e financeira
A PF, o Banco Central e o Coaf atuam de forma integrada nas apurações, e a prisão reacendeu o debate sobre a influência de redes político-financeiras no sistema bancário. Para investigadores, o papel desempenhado por intermediários políticos — especialmente Ciro Nogueira — será um dos eixos centrais da próxima fase do inquérito.
As revelações também ampliam questionamentos sobre a participação do BRB nas tratativas e sobre eventuais interferências políticas na tentativa frustrada de compra do Master.
Enquanto as investigações avançam, a crise envolvendo o banco e seus dirigentes se consolida como um dos episódios mais delicados do setor financeiro recente, com potenciais desdobramentos no Congresso, no sistema regulatório e no campo político.