Brasil recebe apoio de mais de 80 países para eliminar combustíveis fósseis e amplia pressão na COP30

Foto: COP30

Mais de 80 países declararam apoio ao “mapa do caminho” proposto pelo Brasil para conduzir o mundo à eliminação gradual dos combustíveis fósseis. O anúncio ocorreu nesta terça-feira (18), durante o Mutirão Call for a Fossil Fuel Roadmap, que reuniu na COP30 representantes de nações do Norte e do Sul Global em Belém.

O roadmap — um plano que define etapas e metas para alcançar um objetivo — ganhou força logo no início da conferência, depois que o presidente Lula convocou líderes mundiais a construir um calendário global para abandonar petróleo, gás natural e carvão.

Embora a lista completa dos países ainda não tenha sido divulgada, autoridades da Alemanha, Dinamarca, Reino Unido, Quênia, Serra Leoa e Ilhas Marshall participaram do anúncio e manifestaram apoio público.

O secretário de Estado do Reino Unido, Ed Miliband, descreveu a iniciativa como um movimento sem precedentes. “Esta é uma grande coalizão do Sul Global e do Norte Global dizendo, em uma só voz, que este problema não pode mais ser ignorado. Temos uma oportunidade, nos próximos dias, de transformar a COP30 no marco da transição para longe dos combustíveis fósseis”, afirmou.

Para países altamente vulneráveis, a urgência é vital. O ministro Jiwoh Abdulai, de Serra Leoa, lembrou que a elevação de 1,5°C na temperatura global já coloca em risco a sobrevivência de populações inteiras. “É um problema climático, mas também de existência e economia. O custo da adaptação cresce mais rápido do que conseguimos acompanhar”, alertou.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, celebrou o avanço diplomático, mas afirmou que ainda é preciso transformar compromisso em ação concreta. “Estamos há mais de 30 anos tentando enfrentar a principal causa do aquecimento global: as emissões de CO₂, sobretudo da queima de petróleo, gás e carvão. Não existe solução mágica. É preciso financiamento, diversificação econômica e base tecnológica para fazer essa transição. Temos pressa”, disse.

O protagonismo jovem também marcou o encontro. Marcelle Oliveira, campeã jovem do clima da COP30, destacou a mobilização das novas gerações, presente nas intervenções da Blue e da Green Zone e na marcha da Cúpula dos Povos, que levou milhares às ruas de Belém. “Para proteger nosso futuro e nosso presente, precisamos de ação. Precisamos de um mundo novo, uma economia nova, uma nova cultura”, afirmou.

Para Marcio Astrini, do Observatório do Clima, o apoio expresso ao roteiro brasileiro demonstra força política inédita. “O que vimos hoje é que boa parte da audiência subiu ao palco ao lado do presidente. Mais de 80 países querem ver o mapa do caminho aprovado como resolução final da COP30”, disse.

Mas, enquanto diplomatas celebravam, movimentos sociais e organizações territoriais criticaram a forma como o processo vem sendo conduzido. Em nota, o Instituto Internacional Arayara afirmou que o roteiro global não contempla a participação de comunidades diretamente afetadas pela infraestrutura fóssil — como indígenas, quilombolas e povos tradicionais.

“Um mutirão feito apenas por líderes de Estado, sem lideranças comunitárias, não reflete a sabedoria de quem está no território e não promove justiça climática. Assim, o processo fica incompleto”, afirmou a organização.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.