Fundo com suposta ligação com o PCC revela rede financeira sofisticada ligada a Daniel Vorcaro e o Banco Master

A complexa rede financeira que sustentava os negócios do banqueiro Daniel Vorcaro — preso nesta terça-feira (18) pela Polícia Federal — passou a ser detalhada com mais precisão a partir de novos documentos envolvendo o fundo Hans 95. Segundo reportagem do UOL, que teve acesso a dados fiscais e judiciais sigilosos, a estrutura operada pelo fundo formava um sistema de interligações capaz de dificultar o rastreamento de aportes bilionários associados ao empresário.

O Hans 95 utilizava uma cadeia de veículos subordinados para movimentar recursos, mecanismo semelhante ao identificado pela Operação Carbono Oculto, que apura lavagem de dinheiro com participação de facções criminosas. Com patrimônio próximo de R$ 35 bilhões, o fundo deixou de enviar declarações obrigatórias à Receita Federal desde 2022 e não apresentou auditorias à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre 2022 e 2024. A última avaliação, feita em 2021, teve abstenção dos auditores por falta de informações suficientes — fato que, para investigadores, pode indicar tentativa de inflar artificialmente o patrimônio declarado.

Modelo de operação se aproxima de estruturas investigadas pela PF

Uma decisão judicial que embasou buscas da Operação Compliance Zero afirma que o Banco Master ofertava títulos sem lastro por meio de empresas de fachada controladas pela própria instituição. Embora o documento não cite diretamente o Hans 95, a Operação Carbono Oculto ou a gestora Reag, o modelo de atuação descrito é semelhante ao utilizado pelo fundo em diversas transações, segundo analisaram investigadores.

A apuração indica que os vínculos entre o Hans 95, fundos subordinados e empresas ligadas ao círculo pessoal de Vorcaro formavam um esquema de difícil rastreabilidade, com operações cruzadas e aportes que se multiplicavam em diferentes veículos.

Aportes bilionários em títulos do Banco Master

Um dos eixos mais evidentes da investigação envolve a compra de ativos do Banco Master pelo Hans 95 e fundos sob seu controle. Em outubro de 2024, o fundo registrou R$ 124 milhões aplicados em CDBs do Master. Essa relação se intensifica com o Astralo 95 — controlado em 95% pelo Hans 95 — que detinha R$ 622 milhões em títulos do banco em março de 2025. Desse total, R$ 436 milhões estavam em CDBs e R$ 186 milhões em crédito privado.

Outro fundo ligado ao grupo, o Murren 41, possuía R$ 103 milhões em CDBs do Master em junho de 2024. Em conjunto, esses veículos financeiros movimentaram ao menos R$ 849 milhões em títulos da instituição desde o ano passado.

Investimentos na mansão usada por Vorcaro

A investigação aponta ainda que o Hans 95 era o principal investidor — de forma indireta — da empresa proprietária da mansão onde Vorcaro vivia em Brasília. Quatro níveis abaixo da estrutura estava o fundo Termopilas, cujas cotas pertenciam majoritariamente ao Hans 95 em junho de 2024. O Termopilas concentrava R$ 1,65 bilhão em ações da Super Empreendimentos, dona do imóvel.

A Super comprou a casa de 1.699 metros quadrados por R$ 36,1 milhões em 2024. Embora não divulgue seu quadro societário, documentos revelam que seu diretor entre 2021 e 2024 foi Fabiano Zettel, cunhado de Vorcaro. Em nota, Zettel disse ter deixado o cargo antes de o Hans 95 surgir como investidor, mas dados da CVM indicam que o fundo já tinha posição majoritária indireta naquele período.

R$ 1 bilhão em empresa ligada ao banqueiro

Outra empresa vinculada a Vorcaro, a Akka Empreendimentos, também recebeu aportes expressivos. O fundo Murren 41 investiu R$ 1 bilhão em ações da Akka — valor muito superior ao capital social declarado da companhia, de R$ 31 milhões. Desse montante, R$ 28 milhões foram aportados em 2022 pelo próprio Vorcaro e por seu então sócio, Augusto Lima, também preso pela PF.

Assim como a Super, a Akka não possui registros públicos de atividade e é uma sociedade anônima fechada. A defesa de Augusto Lima afirmou que as operações investigadas ocorreram após sua saída do Banco Master, em 2024.

Relação com o Atlético-MG e fundos paralelos

O Estadão informou que o Hans 95 também tinha ligação com o fundo utilizado por Vorcaro para adquirir parte do Atlético Mineiro. O Astralo 95 era o principal cotista do fundo Galo Forte FIP, responsável por aportar recursos no clube. Em março de 2025, o fundo tinha R$ 300 milhões investidos na equipe mineira.

Transações suspeitas e conexões com investigado ligado ao PCC

A Receita Federal identificou ainda que o Hans 95 recebeu R$ 17 milhões, em 2023, da esposa de Mohamad Hussein Mourad, acusado de integrar o PCC — acusação negada pela defesa. O fundo também recebeu R$ 45 milhões do BK Bank, instituição investigada por lavagem de dinheiro.

Além disso, o Hans 95 investiu em dois fundos supostamente controlados por Mohamad — o Gold Style e o Mabruk II — que realizavam operações financeiras via BK Bank. A Receita aponta que o patrimônio do Mabruk II estava concentrado em debêntures de empresas relacionadas ao suspeito, levantando a hipótese de ativos “inexistentes”.

Outro lado

Vorcaro e o Banco Master não responderam aos questionamentos da reportagem. Sobre a prisão, a defesa do banqueiro afirmou: “Advogados [de Vorcaro e do Banco Master] colocaram-se, como já haviam feito antes, à disposição para cooperar com as autoridades, prover informações, participar de audiências, inclusive com a presença de Vorcaro”.

A gestora Reag, responsável pela administração do Hans 95, também não comentou. Em comunicado anterior, divulgado durante a Operação Carbono Oculto, afirmou estar colaborando com as autoridades.

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