PF amplia investigação sobre Banco Master e pode chegar ao Centrão

A Polícia Federal prepara novas diligências para aprofundar as circunstâncias das operações bilionárias realizadas pelo Banco Master com fundos de previdência estaduais e municipais. A ampliação das investigações ocorre após a prisão do CEO do banco, Daniel Vorcaro, e de executivos da instituição, em operação que apura supostas fraudes na venda de créditos ao Banco de Brasília (BRB). As informações são de Malu Gaspar, do O Globo.

Segundo a PF, um dos focos agora é entender a comercialização de letras financeiras sem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — papéis de risco elevado que renderam ao menos R$ 1,867 bilhão ao Banco Master. Esses títulos foram amplamente oferecidos a fundos de pensão de governos locais, apesar de não terem proteção do FGC e de serem classificados como investimentos agressivos pela Caixa Econômica Federal, que em 2024 já havia emitido parecer contrário a esse tipo de aplicação.

Com a liquidação extrajudicial do Master decretada pelo Banco Central, o FGC deverá realizar o maior resgate de sua história para cobrir depósitos e investimentos protegidos. Entretanto, letras financeiras adquiridas por entes públicos não têm qualquer garantia, o que potencializa o impacto para fundos previdenciários estaduais e municipais.

Rioprevidência concentrou metade dos recursos aplicados

Um levantamento citado por O Globo indica que cerca de metade de toda a arrecadação do Master com letras financeiras — cerca de R$ 970 milhões — veio do Rioprevidência, fundo de previdência do Estado do Rio de Janeiro. A escolha dos investimentos é considerada, por fontes do setor, historicamente influenciada pelo União Brasil, partido comandado por Antonio Rueda, dirigente com relação próxima a Vorcaro.

O alcance político das operações se estende para além do Rio. Governos do Amapá e do Amazonas — ambos administrados por grupos ligados ao União Brasil — também adquiriram volumes expressivos: juntos, aplicaram cerca de R$ 150 milhões nessas letras financeiras. Em Maceió, o Instituto de Previdência dos Servidores Municipais investiu R$ 117,9 milhões nos títulos. A capital alagoana está inserida em um contexto de apoio do União Brasil à reeleição do prefeito João Henrique Caldas (PL), o JHC.

A Cedae, empresa pública influenciada pelo mesmo grupo político, também adquiriu R$ 200 milhões em papéis do Master. Somados, os investimentos de órgãos e fundos alinhados ao partido alcançam quase R$ 1,5 bilhão.

Amapá e Amazonas também aparecem entre os maiores investidores

O Amapá surge como o segundo maior investidor em letras financeiras do Master. Embora governado pelo Solidariedade, seu fundo de previdência é influenciado por lideranças do União Brasil, incluindo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. O Amazonas, administrado pela mesma sigla partidária, destinou outros R$ 50 milhões às aplicações.

Essas operações foram realizadas mesmo após alertas regulatórios e recomendações formais. No fim de 2024, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) já havia identificado riscos e recomendado ao Rioprevidência a suspensão imediata de novos aportes em instituições que não garantissem padrões mínimos de segurança financeira — incluindo o Master.

Corretora intermediou operações investigadas

Em muitos casos, as vendas não foram feitas diretamente pelo Banco Master. A corretora Planner intermediou a oferta de R$ 510 milhões em títulos para o Rioprevidência. A empresa já foi investigada na Operação Greenfield, que apurou desvios bilionários em fundos de pensão federais.

Um dos sócios da Planner, Maurício Quadrado, posteriormente se tornou sócio do Master. Quadrado já foi citado em delações antigas, incluindo a de Roberto Madoglio, ex-superintendente da Caixa, que afirmou ter pagado propina de R$ 8 milhões para direcionar investimentos do FI-FGTS para a Odebrecht. Esse histórico levou a Caixa a rejeitar uma operação de R$ 500 milhões em letras financeiras do Master, classificada como de risco elevado por seus gerentes. Após parecer contrário, esses funcionários foram afastados, mas a transação acabou suspensa após repercussão pública.

Pressão por captação cresceu após mudanças do Banco Central

A busca por recursos se intensificou no fim de 2023, quando o Banco Central exigiu que instituições financeiras diversificassem suas fontes de capital além de precatórios e CDBs — regra com prazo de dois anos para adaptação. Com dificuldade de atender às novas exigências, o Master passou a mobilizar interlocutores políticos e institucionais para ampliar a venda de letras financeiras a entes públicos.

Fundos federais estavam impedidos de adquirir esses papéis desde as fraudes reveladas pela Operação Greenfield, que geraram perdas significativas para Petros, Postalis e Funcef. Na ausência dessas entidades, estados e municípios tornaram-se o principal alvo das operações.

Cenário futuro é incerto e depende dos próximos passos da PF

Com a liquidação do Master e a inexistência de garantia do FGC para letras financeiras de entes públicos, fundos estaduais e municipais enfrentam risco elevado de perdas expressivas. As autoridades aguardam avanços nas investigações para mensurar o impacto financeiro e político das operações.

A PF prepara novas ações para analisar documentos, identificar responsáveis e mapear eventuais conexões políticas por trás das aplicações. O caso deve se tornar um dos principais eixos de investigação envolvendo fundos previdenciários nos últimos anos.

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