Autoridade ucraniana nega ter aprovado proposta de paz dos EUA que atende a exigências de Moscou

Foto: Ozan Kose/AFP/Getty Images

A principal autoridade de segurança do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, negou nesta sexta-feira (21) ter concordado com o esboço de um plano de paz do governo Trump, após autoridades americanas afirmarem que ele havia aceitado a maioria de seus termos. Washington apresentou a Kiev um documento de 28 pontos que endossaria várias das principais demandas da Rússia, exigindo que o país abra mão de mais território, reduza o tamanho de suas Forças Armadas e abandone de forma permanente a possibilidade de integrar a Otan.

Segundo autoridades dos Estados Unidos, o plano foi elaborado após consultas com Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, ex-ministro da Defesa e aliado próximo de Zelensky. “Este plano foi elaborado imediatamente após discussões com um dos membros mais graduados da administração do presidente Zelensky, Rustem Umerov, que concordou com a maior parte do plano, depois de fazer várias modificações, e o apresentou ao presidente Zelensky”, afirmou uma autoridade sênior dos EUA na quinta-feira (20).

Umerov, porém, rejeitou essa versão. Ele afirmou nesta sexta-feira (21) que não discutiu os termos do plano e tampouco os aprovou. “Durante minha visita aos Estados Unidos, meu papel foi técnico — organizar reuniões e preparar o diálogo. Não fiz nenhuma avaliação ou, muito menos, aprovação de nenhum ponto. Isso não está dentro de minha autoridade e não corresponde ao procedimento”, escreveu no Telegram.

Zelensky, que se reuniu com uma delegação do Exército norte-americano na quinta-feira (20), reconheceu ter recebido o documento, mas evitou comentários diretos sobre o conteúdo. “Nossas equipes — Ucrânia e EUA — trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra”, afirmou durante a noite no Telegram. “Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido.”

O governo da Rússia disse que ainda não foi informado de que Kiev estaria preparada para negociar o plano. Moscou vem mantendo cautela em público.

O documento inclui pontos que Kiev já havia descartado anteriormente por considerá-los equivalentes à rendição, após quase quatro anos de resistência à invasão em grande escala da Rússia. Pela proposta, a Ucrânia teria de se retirar de áreas que ainda controla nas províncias do leste que Moscou afirma ter anexado, enquanto a Rússia abriria mão de uma quantidade menor de territórios conquistados em outras regiões.

A Ucrânia seria permanentemente impedida de entrar na Otan, suas Forças Armadas seriam limitadas a 600 mil soldados e a aliança ocidental concordaria em nunca enviar tropas para o país. As sanções contra Moscou seriam suspensas gradualmente, a Rússia poderia retornar ao G8 e ativos russos congelados seriam reunidos em um fundo de investimento, do qual Washington receberia parte dos lucros.

Embora o documento detalhe muitos elementos de interesse da Rússia, atende apenas de forma vaga a uma das principais demandas ucranianas: garantias de segurança equivalentes ao mecanismo de defesa mútua da Otan. O texto menciona apenas uma linha, sem especificações: “A Ucrânia receberá garantias robustas de segurança”.

Países europeus, que hoje financiam praticamente sozinhos a defesa de Kiev após o presidente Donald Trump cancelar o apoio financeiro dos EUA, foram excluídos da elaboração da proposta. Uma delegação americana em Kiev deve informar as embaixadas europeias sobre o conteúdo ainda nesta sexta-feira. “Quanto ao plano de paz que entendemos ter sido apresentado ao presidente Zelensky, sempre dissemos que, para que qualquer plano funcione, ele precisa ter a Ucrânia e os europeus a bordo”, afirmou a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, em Bruxelas.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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