Candidata de esquerda do Chile muda a campanha

A busca por atores, músicos e influenciadores revela a aposta em aproximar o discurso progressista de um eleitorado apático e decisivo / Reprodução

A equipe de Jara aposta em novos rostos, de ex-ministros a influenciadores, para reverter desvantagem nas pesquisas


A corrida presidencial chilena ganha novos contornos a poucas semanas do decisivo segundo turno, marcado para o próximo mês. Jeannette Jara, a candidata de esquerda que corre como azarão na disputa, promoveu uma reformulação profunda na liderança de sua campanha, em um movimento claro para injetar novo ânimo e ampliar seu alcance em um cenário eleitoral polarizado.

A medida vem dias após seu adversário, o ultraconservador José Antonio Kast, atrair o foco com a contratação de respeitados nomes do establishment econômico, dando um impulso percebido como favorável aos investidores em sua plataforma. Em resposta, Jara, que defende bandeiras como o fortalecimento da segurança pública, a reforma do sistema público de saúde e o aumento da renda mínima para os mais pobres, buscou uma reoxigenação estratégica para a reta final.


Mudança de foco e nova coordenação

A principal alteração foi anunciada por Jara à imprensa na última sexta-feira: a nomeação de Paulina Vodanovic, a influente líder do Partido Socialista, como a nova coordenadora-geral de campanha. Essa decisão veio um dia após o pedido de renúncia do seu principal assessor, Darío Quiroga. Segundo Jara, a saída de Quiroga e a subsequente reestruturação fazem parte de uma iniciativa deliberada “para fortalecer a equipe e mudar o foco da campanha”. A intenção é clara: sinalizar dinamismo e capacidade de autocrítica.

A nova formação da equipe de Jara busca conciliar a experiência política com a representatividade de diversos setores. No vital grupo econômico, o nome de peso é o do ex-senador e ex-ministro Carlos Ominami. A estratégia da campanha será coordenada pelo senador do Partido Comunista, Daniel Núñez. Já como porta-vozes, a equipe contará com a experiência política dos ex-ministros Alejandra Krauss e Francisco Vidal. Nas relações internacionais, o ex-ministro das Relações Exteriores, Heraldo Muñoz, ganha o reforço de Tomás Rementería.


Abrindo as portas para a sociedade civil

Consciente de que a vitória exige mais do que apenas o apoio da estrutura partidária, a candidata busca ativamente ampliar o seu apelo para além dos círculos políticos tradicionais. Jara anunciou que está incorporando pessoas de fora da política em funções específicas, incluindo atores e músicos, ao lado de influenciadores de mídia social e atletas.

Esta estratégia se alinha com o desafio de mobilizar um eleitorado ainda disperso. Os resultados do primeiro turno, realizados no último domingo, apontaram um cenário de forte fragmentação: Jara obteve 26,9% dos votos, enquanto Kast ficou logo atrás com 23,9%, segundo o órgão eleitoral Servel. A matemática eleitoral é inequívoca: a chave para o Palácio de La Moneda está na metade do eleitorado que não votou em nenhum dos dois — e naqueles que optaram pela abstenção ou votos nulos.

Em um tom de reconhecimento e de prospecção, Jara fez um apelo direto a este segmento da população:

“Metade das pessoas não votou em Kast nem em mim. Vou entrar em contato com a outra metade que não votou em mim — eles são minha prioridade.”

Com as pesquisas recentes indicando que ela está atrás de Kast – cuja plataforma promete reduzir drasticamente a burocracia, cortar impostos corporativos, combater o crime e deportar milhares de imigrantes ilegais – a revitalização da campanha de Jeannette Jara é vista como um movimento de sobrevivência e uma tentativa de última hora para reconquistar a confiança dos eleitores que buscam uma alternativa progressista para o futuro do Chile.

Com informações de Bloomberg*

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