Por Ana Luiza Helpe e Rayssa Veras
No dia 17 de novembro de 2025, o governador Cláudio Castro (PL) promoveu, no Palácio Guanabara, um encontro com prefeitos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para apresentar o programa “Barricada Zero”. O programa faz parte da estratégia de Cláudio Castro de enfrentamento ao crime organizado que busca agora a mobilização conjunta dos âmbitos governamentais regionais e estaduais para sua expansão e continuidade. A operação objetiva a retirada de 13.604 pontos de bloqueio construídos pelo crime organizado em 12 municípios do estado na sua fase inicial: Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Belford Roxo, Japeri, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Itaboraí, Queimados, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita e Maricá.
O programa “Barricada Zero” denota o interesse do governador em construir uma articulação voltada para as eleições de 2026 que, ao que tudo indica, terá como foco principal a disputa pela narrativa da segurança pública. Ao articular medidas para a resolução do problema da segurança pública com chefes das prefeituras do estado — que operam como amplificadores do discurso —, o governador promove a centralidade desta pauta no debate público.
Após realizar a denominada “Operação Contenção” nos Complexos do Alemão e da Penha, no dia 28 de outubro, o governo do Estado do Rio de Janeiro reuniu chefes das prefeituras de diversos municípios para anunciar a próxima iniciativa na área de segurança pública. A presença dos prefeitos não se justifica por alguma medida legal, visto que não possuem competência no campo da segurança pública, mas atende a um propósito político, uma vez que estes líderes locais buscam oferecer respostas aos munícipios de suas localidades. Aproveitando o espaço oferecido, os prefeitos se pronunciaram a respeito da iniciativa do governador. A título de exemplo, Eduardo Paes (PSD), prefeito da cidade do Rio de Janeiro, elogiou a ação endossando: “o Rio não vai ficar refém de grupos criminosos”. Em contrapartida, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá (PT), apesar de reconhecer a importância de ações de combate ao crime, criticou a forma que a operação foi posta em prática.
Nesse contexto, o Barricada Zero se insere em um ambiente político altamente estratégico. De um lado, o governo estadual utiliza o programa para consolidar sua imagem de liderança firme contra o crime e ampliar a visibilidade de aliados em prefeituras e municípios impactados. De outro, a oposição tenta capitalizar as críticas sobre letalidade, legalidade e impactos sociais das operações, questionando a eficácia e a segurança das ações. Essa disputa reflete não apenas divergências ideológicas, mas também interesses eleitorais, já que o tema da segurança pública tende a se tornar central nas discussões de candidaturas e alianças políticas rumo às eleições de 2026.
As recentes manifestações no cenário político do Rio de Janeiro permitem observar como diferentes atores políticos usam a segurança pública como instrumento de visibilidade e articulação eleitoral. Prefeitos e parlamentares aliados ganham destaque ao participar de ações conjuntas com o governo estadual, enquanto líderes da oposição e entidades civis aproveitam os episódios de violência ou controvérsia para reforçar seu discurso crítico. Dessa forma, as operações de segurança deixam de ser apenas medidas administrativas e passam a ter papel determinante na construção de narrativas políticas, mobilização de eleitores e definição de estratégias eleitorais para os próximos anos no Rio de Janeiro.
Ana Luiza Helpe é graduanda em Ciências Sociais pela UFRJ e pesquisadora no Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada da UFRJ (Lappcom-UFRJ), com atuação nos GT Mulheres Eleitas e Política Local.
Rayssa Veras é graduanda em Ciências Sociais pela UFRJ e pesquisadora no Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada da UFRJ (Lappcom-UFRJ), com atuação nos GTs Cartpol e Política Local.