O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um esboço de plano de paz para a Ucrânia que gerou críticas por parte de Kiev e de aliados europeus. Segundo autoridades americanas, o plano tem 28 pontos e exige que a Ucrânia faça concessões territoriais, reduza o tamanho de suas Forças Armadas e renuncie permanentemente à adesão à OTAN.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recebeu esse esboço na quinta-feira (20) e aguarda conversar com Trump nos próximos dias. Em comunicado no Telegram, a equipe de Zelensky se mostrou propensa a aceitar a proposta: “Nossas equipes — Ucrânia e EUA — trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra … Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido.”
O plano propõe que a Ucrânia confirme sua soberania, mas limita sua autonomia militar e reduz seu exército para cerca de 600 mil soldados. Ainda se estipula que o país deve integrar em sua constituição uma cláusula para nunca ingressar na OTAN, enquanto a aliança se comprometeria a adotar em seus estatutos uma proibição a futura entrada da Ucrânia. O documento também prevê que a Ucrânia receba “garantias robustas de segurança”, mas sem detalhar totalmente como essas garantias funcionariam.
Em troca, a Rússia seria reintegrada à economia global, possivelmente retornando ao G8, e veria as sanções econômicas impostas ao seu país removidas de forma gradual. Parte dos ativos russos congelados seria usada para reconstruir a Ucrânia por meio de um fundo de investimento.
Em relação ao território, o plano reconhece como de fato pertencentes à Rússia regiões como Crimeia, Donetsk e Luhansk; outras, como Kherson e Zaporizhzhia, ficariam “congeladas” segundo as linhas de frente vigentes, enquanto a usina nuclear de Zaporizhzhia ficaria sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a energia por ela gerada seria compartilhada entre Rússia e Ucrânia.
Durante uma cúpula no Alasca, Trump afirmou que havia feito “grandes avanços” com Putin, embora tenha dito que ainda não havia um acordo fechado: “Quando houver, vou ligar para Otan e para outras pessoas também, para o Zelensky …”, declarou. Já Putin disse que, para haver relações de boa vizinhança, a Ucrânia precisaria aceitar a neutralidade: “Se não houver neutralidade, é difícil imaginar a existência de relações de boa vizinhança entre a Rússia e a Ucrânia.”
Embora Zelensky tenha saudado a promessa de garantias como um “passo importante”, ele afirmou que espera que elas sejam formalizadas “em papel dentro de dez dias”, citando seu desejo de investir na compra de armas americanas no valor de US$ 90 bilhões para reforçar a defesa ucraniana.
O Kremlin, por sua vez, tem adotado uma postura cautelosa: o porta-voz Dmitry Peskov afirmou que há “contatos”, mas “não há um processo que possa ser chamado de consultas”, e ressaltou que qualquer acordo de paz deve abordar “as causas fundamentais do conflito”, expressão que Moscou vem repetindo para referir-se às suas demandas históricas.