O uso de áreas desérticas para a instalação de usinas solares tem avançado em diferentes regiões do mundo e consolidado um modelo de expansão energética baseado em grandes extensões de terreno pouco habitado. A estratégia combina disponibilidade de radiação solar, baixo custo de ocupação e técnicas de conversão energética em larga escala. As iniciativas também abrem espaço para estudos sobre impactos econômicos e novas formas de utilização do solo.
A crescente adoção de projetos em ambientes áridos acompanha políticas de transição energética que buscam reduzir emissões de carbono e ampliar fontes renováveis na matriz global. A instalação em desertos é vista como alternativa para evitar disputas por terras agrícolas e diminuir a pressão sobre regiões urbanas e produtivas.
Condições que favorecem a instalação de grandes usinas
Os desertos oferecem condições que facilitam a implantação de sistemas fotovoltaicos. A incidência constante de luz solar, o baixo índice de nebulosidade e a ausência de vegetação reduzem as perdas de captação. O relevo plano diminui custos de infraestrutura e montagem. A ocupação dessas áreas também apresenta menor impacto sobre cadeias produtivas, ampliando a disponibilidade de grandes blocos de terreno.
Pesquisadores destacam que a densidade de radiação solar em regiões áridas é uma das maiores do planeta, o que amplia a produtividade das usinas. A combinação entre disponibilidade e baixos custos de arrendamento ou aquisição de terras tem incentivado governos e empresas a planejarem instalações com capacidade muito superior à média observada em países de clima temperado.
Projetos de grande escala em execução e desenvolvimento
Diversos países têm anunciado ou concluído iniciativas que demonstram o potencial de geração energética em desertos. Na China, uma usina com capacidade de 3,5 GW entrou em operação no deserto de Xinjiang e passou a fornecer energia diretamente à rede nacional. Em outra região chinesa, na Mongólia Interior, o projeto conhecido como Solar Great Wall prevê a instalação de módulos capazes de atingir até 100 GW, integrando novas linhas de transmissão e sistemas de armazenamento.
A província de Gansu inaugurou uma planta que utiliza torres de aproximadamente 200 metros e sistema de armazenamento térmico por sais fundidos. Essa tecnologia integra o grupo de soluções conhecidas como energia solar concentrada (CSP), que permite manter a geração em períodos sem luz solar direta por meio do calor acumulado. O projeto integra a política energética chinesa de diversificação de tecnologias solares e teste de soluções híbridas que combinam CSP e painéis fotovoltaicos.
Essas iniciativas têm sido observadas por analistas internacionais como exemplos de capacidade de expansão rápida em regiões áridas e como plataformas para testar novas combinações entre geração, transmissão e armazenamento.
Benefícios econômicos e integração com atividades locais
A construção de usinas solares em desertos tem impacto sobre a economia de comunidades próximas. As obras demandam mão de obra local para montagem, instalação e manutenção. A fase operacional gera postos de trabalho estáveis para monitoramento, limpeza de módulos e gestão das unidades.
Em algumas regiões, empresas e autoridades locais passaram a adotar formas de integração entre a produção de energia e atividades econômicas tradicionais. O pastoreio de ovelhas entre fileiras de painéis fotovoltaicos é um exemplo recorrente. O sombreamento das estruturas reduz a evaporação do solo, permitindo o crescimento de vegetação adaptada ao clima árido. A prática se transformou em fonte adicional de renda para famílias da região.
Modelos semelhantes são testados em diferentes continentes para avaliar o potencial de combinar geração solar com agricultura de baixo impacto, conhecida como agrovoltaica. Em desertos, a aplicação é mais restrita devido às condições climáticas, mas o pastoreio tem sido considerado economicamente viável em alguns locais.
Tecnologias empregadas nas usinas solares de grande porte
Os projetos utilizam principalmente módulos fotovoltaicos convencionais, responsáveis pela conversão direta de radiação solar em eletricidade. Entretanto, iniciativas de maior escala têm incorporado sistemas de energia solar concentrada (CSP), que utilizam heliostatos — espelhos móveis — para concentrar luz em uma torre central, onde sais fundidos armazenam calor.
Esse calor é utilizado para acionar turbinas mesmo à noite ou durante períodos nublados, permitindo operação contínua. A combinação entre CSP e fotovoltaicos resulta em sistemas híbridos que ampliam a estabilidade da produção e reduzem oscilações na rede elétrica.
O uso de armazenamento térmico em larga escala está entre as principais apostas de países que buscam integrar grandes volumes de energia renovável sem depender exclusivamente de baterias. Os custos de implantação permanecem elevados em comparação a soluções convencionais, mas projetos em desertos têm permitido testar economias de escala.
Perspectivas para expansão e desafios regulatórios
O avanço dos projetos solares em desertos está relacionado ao interesse de governos em diversificar matrizes energéticas e reduzir dependência de combustíveis fósseis. A expansão também depende de licenças ambientais, gestão de impactos sobre fauna e flora locais e disponibilidade de linhas de transmissão para integrar a produção aos centros de consumo.
Especialistas afirmam que o crescimento tende a continuar, impulsionado pela queda no custo de módulos fotovoltaicos e pela necessidade de ampliar fontes de energia de baixa emissão. Países do Oriente Médio, norte da África, China e regiões do oeste dos Estados Unidos têm discutido novos projetos.
A transformação de áreas áridas em polos de geração de energia pode alterar a geografia da oferta global, desde que acompanhada por investimentos em infraestrutura elétrica e políticas de mitigação de impactos. A integração entre geração renovável e atividades econômicas adjacentes permanece em avaliação, com estudos sobre viabilidade social, ambiental e energética.