Governo alemão diz que Trump e Merz trataram ações contra a Ucrânia

Alemanha diz que Merz e Trump discutiram medidas contra a Ucrânia em telefonema / Bloomberg

Conversa entre líderes ocorre sob pressão dos EUA por acordo que cede territórios e limita soberania de kiev


O chanceler alemão Friedrich Merz e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discutiram nesta sexta-feira (21) as propostas de paz para a Ucrânia, segundo informou o porta-voz do governo alemão, Stefan Kornelius. A conversa telefônica acontece em um momento de intensa pressão por parte dos EUA para que seja aceito um acordo com a Rússia que, na prática, atende às principais exigências do Kremlin e enfraquece a posição de Kiev.

O chanceler Merz deverá informar os parceiros europeus sobre o teor do diálogo com Trump antes de seguir para a cúpula do G20, na África do Sul. A intenção é que as lideranças europeias se reúnam à margem do evento, no sábado, para definir os próximos passos em relação ao conflito. Kornelius confirmou que Merz e Trump concordaram em dar seguimento às discussões no âmbito dos conselheiros de segurança nacional.


O plano de 28 pontos: vitórias para Putin

O centro das discussões é um plano de paz de 28 pontos, elaborado em conjunto por enviados de Trump e do presidente russo, Vladimir Putin. A proposta, negociada pelo enviado dos EUA, Steve Witkoff, e pelo enviado de Putin, Kirill Dmitriev, representa um conjunto de concessões consideradas drásticas pela Ucrânia e seus aliados ocidentais.

Entre os termos mais críticos da proposta, obtida pela Bloomberg News, estão:

  • Cessão Territorial: A Ucrânia seria obrigada a ceder grandes porções de território atualmente ocupadas pela Rússia. Além disso, as regiões da Crimeia, Luhansk e Donetsk seriam “reconhecidas como russas de facto, inclusive pelos Estados Unidos”.
  • Neutralidade e Desarmamento: O plano exige que a Ucrânia renuncie a qualquer esperança de adesão à OTAN, e esta promessa teria que ser consagrada na Constituição ucraniana. O país também precisaria limitar o tamanho de suas Forças Armadas.
  • Sanções e Reintegração: As sanções contra Moscou seriam gradualmente suspensas, e a Rússia seria reintegrada ao G8, um passo altamente simbólico que encerraria seu isolamento internacional.
  • Condicionalidades para Kiev: A Ucrânia seria obrigada a realizar eleições no prazo de 100 dias.

Embora o presidente Volodymyr Zelenskiy tenha afirmado que está analisando a ideia, há pouquíssimos indícios de que ele esteja disposto a aceitar termos que foram veementemente rejeitados por Kiev e seus aliados no passado.


Envolvimento financeiro e pressão de Washington

A proposta de paz não beneficia apenas a Rússia, mas também prevê uma significativa participação financeira dos Estados Unidos na reconstrução da Ucrânia.

  • Garantia de segurança e lucro: A Ucrânia receberia uma garantia de segurança dos EUA, mas Washington seria compensado por ela.
  • Ativos russos: Cerca de US$ 100 bilhões em ativos russos congelados seriam destinados aos esforços de reconstrução liderados pelos EUA, com o governo americano recebendo 50% do lucro. Os ativos não utilizados seriam alocados a um fundo de investimento russo-americano.

O plano é apoiado por Trump, conforme declarado pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. “Não vou discutir os detalhes deste plano, pois ele ainda está em andamento e sujeito a mudanças, mas o Presidente o apoia”, disse ela. “É um bom plano tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia e acreditamos que deva ser aceitável para ambos os lados.”

No entanto, a grande dimensão das concessões exigidas e o significativo ganho financeiro para os EUA e a Rússia levantam sérias questões sobre quanta margem de manobra Zelenskiy realmente possui para se opor à proposta. A pressão sobre Kiev pode incluir a ameaça de reter suprimentos de armas e informações de inteligência por parte dos EUA.

Leia também: Recorde de desemprego entre americanos com diploma revela o preço das políticas de Trump

O secretário de Estado Marco Rubio, que adota uma linha mais dura em relação a Moscou do que o negociador Witkoff, afirmou que os negociadores “continuarão a desenvolver uma lista de ideias potenciais para pôr fim a esta guerra, com base nas contribuições de ambos os lados do conflito”.


A rejeição dos aliados e a limitação da soberania

A resposta dos principais aliados da Ucrânia foi rápida e negativa. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e a principal diplomata europeia, Kaja Kallas, ecoaram o mesmo princípio: qualquer acordo de paz deve ter a aprovação da Ucrânia.

“O futuro da Ucrânia deve ser determinado pela Ucrânia e nunca devemos perder de vista esse princípio que sustenta a paz justa e duradoura que todos desejamos”, afirmou Starmer.

Embora o documento imponha algumas limitações à Rússia — como a expectativa de que o princípio de não agressão em relação à Europa seja consagrado em lei e a promessa de não invadir outros países —, o balanço da proposta pende de forma esmagadora para o lado do Kremlin. Ao exigir que a Ucrânia ceda vastos territórios, limite suas forças armadas e abandone sua aspiração à OTAN, o plano essencialmente compromete a soberania e a segurança futura de Kiev em troca de um fim imediato do conflito.

Com informações de Bloomberg*

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