A China avançou mais uma etapa na expansão de sua rede ferroviária de alta velocidade com o desenvolvimento do CR450, novo modelo que amplia limites técnicos alcançados pelo país nas últimas duas décadas. O trem, que atingiu 450 km/h em testes e deve operar comercialmente a 400 km/h, está previsto para entrar em serviço em 2026. Se confirmada a velocidade operacional, ele se tornará o trem mais rápido do mundo em serviço contínuo.
O CR450 foi apresentado em duas versões, CR450AF e CR450BF, ambas compostas por oito vagões com distribuição equilibrada entre unidades motorizadas e não motorizadas. O modelo representa a evolução do atual CR400 Fuxing, que opera a 350 km/h e compõe grande parte da malha de alta velocidade do país.
Avanços estruturais e economia de energia
O projeto inclui alterações estruturais para melhorar eficiência, consumo energético e performance. Segundo informações divulgadas pelo setor ferroviário chinês, o CR450 alcança redução de 22% na resistência operacional e diminuição de 10% no peso total, fatores que contribuem para menor demanda energética e maior estabilidade em alta velocidade.
As melhorias aerodinâmicas também são parte central do desenvolvimento. O formato da dianteira, o redesenho da carenagem e a adoção de vidros especiais no para-brisa visam reduzir a resistência do ar, um dos principais fatores limitantes em velocidades superiores a 350 km/h. Essas alterações têm como consequência adicional a redução de ruído dentro dos vagões e o aumento do conforto dos passageiros.
Sistema de tração refrigerado a água e sensores distribuídos
Uma das inovações de maior destaque é o sistema de tração baseado em ímãs, resfriado a água. A tecnologia permite maior estabilidade térmica e eficiência na transferência de energia, além de suportar regimes prolongados de operação em velocidades extremas. A adoção desse sistema representa mudança relevante em relação ao CR400, ampliando a margem de segurança e o desempenho global do conjunto ferroviário.
O CR450 utiliza ainda milhares de sensores distribuídos ao longo da composição para monitoramento contínuo de componentes estruturais, sistemas elétricos e comportamento dinâmico. O monitoramento em tempo real é apontado como ferramenta crucial para detectar anomalias e reduzir riscos operacionais, especialmente em linhas de longas distâncias.
Entre os itens de segurança, destaca-se ainda um sistema atualizado de frenagem de emergência, projetado para atuar em condições de alta velocidade sem comprometer a integridade da composição.
Comparação com trens de alta velocidade de outros países
Com velocidade operacional prevista de 400 km/h, o CR450 pode ultrapassar de forma significativa os principais trens de alta velocidade atualmente em circulação. Entre os modelos mais conhecidos no cenário internacional, o Shinkansen japonês atinge cerca de 320 km/h, enquanto o ICE 3, da Deutsche Bahn alemã, opera próximo de 330 km/h. Na França, o TGV mantém serviços comerciais entre 300 km/h e 320 km/h.
Alguns trens já superaram esses limites em testes — como o próprio TGV, que atingiu 574 km/h em condições experimentais —, mas nenhum opera regularmente acima de 350 km/h. Com isso, o CR450 se posiciona como marco tecnológico e operacional dentro do setor ferroviário global.
Expansão da rede ferroviária chinesa e impacto internacional
A China possui hoje a maior malha ferroviária de alta velocidade do mundo, com mais de 45 mil quilômetros em operação. Desde 2008, quando inaugurou seu primeiro trecho de alta velocidade, o país adotou expansão contínua, interligando grandes centros urbanos e polos industriais.
O desenvolvimento do CR450 insere-se nesse movimento e também na busca por ampliar exportações de tecnologia ferroviária. Projetos internacionais como a ferrovia Jacarta–Bandung, na Indonésia, evidenciam a estratégia chinesa de consolidar presença no mercado global de infraestrutura. A linha, que utiliza trens de alta velocidade derivados da série Fuxing, é considerada a primeira desse tipo no Sudeste Asiático.
Além da expansão comercial, a China sediará em 2025 o Congresso Mundial sobre Ferrovias de Alta Velocidade, ocasião em que deve apresentar novos dados técnicos e projeções sobre o futuro do CR450. O país também tem ampliado a cooperação com parceiros internacionais para modernização de sistemas ferroviários, incluindo países da Ásia, África e Europa Oriental.
Início da operação comercial e próximos passos
A operação comercial do CR450 está prevista para começar em 2026, em rotas ainda não confirmadas oficialmente, mas que tendem a incluir corredores de grande demanda, como Pequim–Xangai e Chengdu–Chongqing. Esses trechos já são estruturados para velocidades acima de 350 km/h e passam por adaptações adicionais para suportar o novo patamar técnico.
A implementação do modelo pode alterar padrões de transporte doméstico, reduzindo tempos de viagem e ampliando a integração regional. Para especialistas do setor, o avanço representa não apenas uma atualização tecnológica, mas também o fortalecimento da posição chinesa no mercado global de ferrovias.
O desenvolvimento do CR450 reforça a estratégia do país de unir inovação, capacidade produtiva e expansão de infraestrutura, consolidando sua influência sobre o futuro do transporte de alta velocidade em escala mundial.