Tragédia em Hong Kong: incêndio deixa ao menos 65 mortos e expõe falhas em segurança de edifícios

Foto: Dale De La Rey/AFP

Bombeiros seguem nesta quinta-feira (27/11) em Hong Kong à procura de centenas de desaparecidos após o pior incêndio dos últimos 30 anos. O fogo começou na tarde de quarta-feira no complexo habitacional Wang Fuk Court, em Tai Po, subúrbio ao norte da cidade, e atingiu sete dos oito prédios do conjunto, que abriga mais de 4.600 moradores. Até agora, ao menos 65 pessoas morreram.

Mais de 24 horas após o início das chamas, quatro torres já tiveram o fogo controlado, mas outras três ainda queimam, embora sob controle parcial. A operação de resgate, segundo as autoridades, pode se estender até a noite. Enquanto isso, multidões se aglomeram nas proximidades para ajudar moradores desabrigados e apoiar os bombeiros, num esforço comunitário espontâneo. “O povo de Hong Kong é cheio de amor”, disse Stone Ngai, de 38 anos, um dos organizadores de um posto de socorro.

A polícia prendeu dois diretores e um consultor de engenharia de uma construtora sob suspeita de homicídio culposo. Segundo a superintendente sênior Eileen Chung, materiais inflamáveis deixados durante reformas fizeram as chamas “se espalharem rapidamente e ficarem fora de controle”. O escritório da Prestige Construction & Engineering Company, citada pela AP como responsável pelas obras, foi revistado e documentos foram apreendidos. A empresa não respondeu aos contatos.

As autoridades suspeitam que materiais nas fachadas dos edifícios não atendiam às normas de resistência ao fogo. Isopor foi encontrado até na única torre não atingida, instalado perto dos halls de elevadores. O incêndio teve origem em um andaime externo de bambu — comum em Hong Kong, mas já em fase de substituição por riscos de segurança — e se propagou pelas telas de proteção e com a ajuda do vento.

Moradores relataram que não ouviram alarmes e tiveram que bater de porta em porta para alertar vizinhos. Lawrence Lee contou que orientou a esposa a sair, mas ela teve de voltar ao apartamento por causa da fumaça nos corredores. Outro residente, Wong Sik-kam, ficou surpreso com a gravidade do fogo: “Achei que fosse um acidente comum… Quem diria que ficaria tão grave?”.

O Corpo de Bombeiros confirmou a morte de um de seus integrantes, de 37 anos, além de 61 feridos — 15 em estado crítico. O governo havia relatado 279 desaparecidos na madrugada, mas já entrou em contato com alguns. Mais de 900 pessoas passaram a noite em abrigos temporários, e dois dos mortos eram indonésios, segundo o consulado deles. O presidente chinês, Xi Jinping, expressou condolências às vítimas.

Este é o incêndio mais letal em Hong Kong desde 1996, quando 41 pessoas morreram em Kowloon. Embora incêndios fatais tenham sido comuns no passado, especialmente em áreas pobres, as normas de segurança mais rígidas nas últimas décadas reduziram drasticamente esses casos — até agora.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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