Aliados de Bolsonaro espalham desinformação sobre prisão no X

Foto: SERGIO LIMA / AFP

Entre os dias 22 e 25 de novembro, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicaram dezenas de conteúdos desinformativos sobre sua prisão preventiva no X, revelando novamente as falhas do sistema de Notas da Comunidade da plataforma. Um levantamento realizado pelo Aos Fatos identificou que 24 publicações feitas por parlamentares e influenciadores que visitaram o ex-presidente enquanto ele cumpria prisão domiciliar foram sinalizadas por usuários como enganosas.

Todas receberam sugestões de notas, mas nenhuma foi aprovada. Juntos, esses posts acumularam mais de 17 milhões de visualizações. Além disso, outras 27 publicações que continham alegações falsas sequer receberam tentativas de contextualização por parte dos usuários.

A desinformação se concentrou sobretudo em uma narrativa: a de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, teria decretado a prisão preventiva de Bolsonaro apenas em razão de uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A tese, repetida por diferentes parlamentares e amplificada por influenciadores, levou alguns deles a afirmar que o STF estaria “criminalizando a oração”. Nada disso corresponde à decisão judicial.

Moraes converteu a prisão domiciliar em preventiva após Bolsonaro violar a tornozeleira eletrônica, utilizando um ferro de solda para abrir o equipamento — fato que o ex-presidente confirmou mais tarde. No despacho, o ministro destaca ainda outros elementos que, em seu entendimento, colocavam em risco o cumprimento da medida anterior. Em nenhum trecho a decisão interfere no exercício de atividade religiosa; a própria vigília ocorreu mesmo após a prisão preventiva ser decretada.

Os conteúdos também incluíram alegações já desmentidas anteriormente, como a afirmação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de que as eleições de 2022 no Brasil e de 2020 nos Estados Unidos teriam sido fraudadas — acusações que não possuem provas. Outras postagens distorciam informações básicas, como a comparação feita por Carlos Bolsonaro (PL-RJ) entre a vigília convocada por seu irmão e as manifestações realizadas por apoiadores de Lula em Curitiba; a situação, porém, era distinta, já que o petista estava preso na sede da Polícia Federal quando os atos ocorreram.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também recebeu sugestão de nota ao afirmar que não havia sido informado sobre a proibição do uso de celular durante uma visita a Bolsonaro, embora essa restrição fosse expressamente prevista na decisão do STF. Uma postagem compartilhada por Osmar Terra (PL-RS) ainda distorceu um habeas corpus impetrado a favor de Bolsonaro e já rejeitado pela ministra Cármen Lúcia.

Mesmo conteúdos mais fantasiosos circularam sem freios. Parlamentares e influenciadores propagaram a teoria de que a prisão preventiva seria uma “cortina de fumaça” criada por Moraes para desviar a atenção da investigação envolvendo o Banco Master. A hipótese não encontra respaldo em fatos, apesar de tentativas de associar o ministro à instituição financeira por serviços prestados anteriormente por um escritório de advocacia ligado à sua família. A base da decisão judicial, no entanto, é objetiva: Bolsonaro não apenas violou a tornozeleira eletrônica como também admitiu ter tentado abrir o dispositivo.

Em outro caso, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) compartilhou uma imagem produzida por inteligência artificial sugerindo apoio internacional ao ex-presidente; a manipulação era visível, com distorções nas roupas e inscrições sem sentido.

O funcionamento do sistema de Notas da Comunidade ajuda a explicar por que tantas sugestões não são aprovadas. As notas só se tornam visíveis quando avaliadores inscritos no programa, provenientes de grupos politicamente diferentes, consideram o conteúdo útil. Pesquisadores já mostraram que essa exigência de consenso ideológico inviabiliza a aprovação de notas em temas politizados. Dados citados pela Bloomberg apontam que, em fevereiro de 2025, apenas 8,2% das notas sugeridas se tornaram públicas, percentual que vem caindo à medida que a participação dos usuários diminui. A Meta testa um modelo semelhante desde janeiro, nos Estados Unidos, como possível substituto à checagem de fatos terceirizada.

Procurados pelo Aos Fatos, os parlamentares e influenciadores citados foram convidados a comentar. A influenciadora Bárbara Destefani rebateu a reportagem e afirmou que, em sua visão, a Polícia Federal pediu a prisão de Bolsonaro por causa da vigília. Embora a solicitação da PF tenha sido anterior, a decisão de Moraes só foi tomada após a violação da tornozeleira, na madrugada de 22 de novembro. Os demais citados não responderam até a publicação do texto.

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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