A China consolidou uma liderança absoluta no mercado global de ostras ao industrializar o cultivo em uma escala inédita. Segundo dados da FAO e do China Fisheries Yearbook, o país alcançou em 2023 a marca de mais de 700 mil toneladas produzidas, volume que representa mais de 80% de toda a produção mundial. O avanço é resultado de um sistema de fazendas flutuantes que converte trechos inteiros do mar em verdadeiras linhas de montagem oceânicas.
O que antes era uma atividade artesanal, baseada na coleta natural ao longo da costa, tornou-se um setor completamente integrado, tecnologicamente monitorado e com forte capacidade de processamento. O país transformou a ostra — um organismo marinho simples e frágil — em um dos pilares mais rentáveis da economia do mar.
Fazendas flutuantes formam megaparques de produção marinha
As maiores áreas de cultivo estão concentradas no litoral da província de Fujian e na Baía de Bohai. Vistas do alto, parecem cidades industriais flutuantes compostas por boias, cabos, coletores submersos e plataformas de madeira.
A lógica segue etapas padronizadas, como ocorre em cadeias agroindustriais tradicionais:
Produção de sementes
Hatcheries especializadas geram bilhões de larvas por ano, selecionadas por velocidade de crescimento e resistência. Essas sementes são implantadas em coletores que serão levados ao mar.
Crescimento em estruturas suspensas
As larvas se fixam aos coletores e permanecem por meses se alimentando exclusivamente do fitoplâncton natural. As plataformas flutuantes protegem o cultivo e mantêm estabilidade ecológica.
Engorda acelerada em áreas ricas em nutrientes
As fazendas são instaladas em zonas de correntes oceânicas intensas, onde a oferta de nutrientes reduz o tempo de engorda. Como não há necessidade de ração, o custo operacional é significativamente menor que o da criação de camarões, peixes ou outros mariscos.
Colheita em escala industrial
Barcos especializados realizam a retirada dos coletores, enviando as ostras diretamente para centros de processamento costeiros. A operação ocorre em fluxo contínuo e pode mover toneladas de produto por dia.
O resultado é um sistema industrial capaz de operar sem interrupções, aproveitando o ambiente natural como motor de produtividade.
Quatro fatores explicam o domínio chinês
Especialistas afirmam que a liderança da China não depende apenas de seu vasto litoral, mas de uma combinação de estratégia estatal, tecnologia e integração logística.
1. Extensa área costeira
Com mais de 14 mil quilômetros de litoral, o país dispõe de múltiplas zonas adequadas para cultivo extensivo.
2. Cadeia industrial completa
Além de abastecer o mercado consumidor, a China desenvolveu um setor robusto de processamento de subprodutos:
cápsulas de cálcio e suplementos minerais;
colágeno marinho;
pós proteicos utilizados em alimentos e cosméticos;
produtos farmacêuticos derivados das conchas.
3. Baixo custo operacional
A ausência de ração — uma das etapas mais caras na aquicultura — torna o cultivo de ostras altamente competitivo.
4. Monitoramento tecnológico contínuo
Sensores instalados nas plataformas medem salinidade, temperatura e qualidade da água em tempo real. Esse controle reduz perdas e melhora taxas de conversão.
Essa estrutura permite ao país abastecer com folga o Sudeste Asiático e ampliar exportações para EUA, Europa e Oriente Médio.
Impacto econômico e ambiental
O setor move bilhões de dólares por ano e emprega centenas de milhares de trabalhadores. A cadeia envolve pescadores, operadores de plataformas, processadores, equipes de logística, distribuição e vendas.
Do ponto de vista ambiental, especialistas apontam que ostras têm papel relevante na filtragem natural da água. Uma única ostra adulta pode filtrar cerca de 200 litros por dia, contribuindo para a recuperação de ecossistemas costeiros degradados.
Esse potencial levou diversos países a estudarem modelos chineses para tentar replicar técnicas de cultivo intensivo, embora em escala muito menor.
Uma linha de montagem oceânica
Durante períodos de pico, barcos circulam entre quilômetros de plataformas retirando coletores, lavando as ostras e enviando lotes inteiros para classificação e embalagem. Em algumas regiões, o tempo entre colheita e distribuição não ultrapassa 24 horas.
A eficiência logística faz com que poucas cadeias agroindustriais no mundo rivalizem com o modelo chinês.
Inovações e tendências
Empresas do setor já testam:
sistemas automáticos de coleta;
plataformas flutuantes mais duráveis;
cultivo vertical no mar;
monitoramento por inteligência artificial.
A previsão do Ministério da Agricultura da China é que a produção ultrapasse 800 mil toneladas por ano até o fim da década, consolidando ainda mais a supremacia global do país no cultivo de ostras.