A operação Poço do Lobato revelou cifras bilionárias que mostram como estruturas fraudulentas corroem a concorrência e pressionam quem cumpre a lei
Em um país marcado por profundas desigualdades, a simples menção à cobrança de impostos costuma acender debates acalorados. É fácil confundir, propositalmente ou não, a necessária responsabilidade fiscal com um suposto assalto ao cidadão. No entanto, o que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem colocado em pauta vai muito além de uma discussão contábil: é uma questão de soberania, justiça social e combate implacável ao crime organizado.
A defesa intransigente da aprovação do Projeto de Lei Complementar 125/22, que trata do “devedor contumaz”, não é uma mera medida de arrecadação. É, antes de tudo, uma estratégia de Estado para proteger a imensa maioria dos brasileiros que cumprem suas obrigações.
Quando Haddad afirma que a proposta visa “asfixiar financeiramente organizações criminosas”, ele está deslocando o debate de um plano econômico para o da segurança pública e da integridade nacional.
A operação “Poço do Lobato”, citada pelo ministro, serve como um raio-X de um câncer que corrói a economia legal. Um grupo que movimenta R$ 70 bilhões em um ano, mas que acumula uma dívida de R$ 26 bilhões com os cofres públicos, não é um mero problema de inadimplência.
É a materialização de um modelo de negócios perverso, que transforma a sonegação estrutural em sua principal vantagem competitiva. Enquanto o pequeno e médio empresário luta para pagar impostos, folhas salariais e fornecedores, estas organizações fraudam o sistema, vendem mais barato por não incorrer em custos legítimos e estrangulam a concorrência leal.
O aspecto mais alarmante, no entanto, é a simbiose entre a sonegação e o crime organizado. A conexão com a operação “Carbono Oculto” e a menção ao PCC não são acidentes. O que Haddad e o governo Lula expõem é um mecanismo sofisticado de lavagem de dinheiro, onde a sonegação de impostos no Brasil se funde com a evasão de divisas para paraísos fiscais como Delaware, nos EUA.
O ciclo é claro: o dinheiro do crime é sonegado aqui, enviado ilegalmente para o exterior e, então, retorna “limpo” ao país, mascarado como investimento estrangeiro. É uma afronta à inteligência e uma burla àqueles que acreditam no trabalho honesto.
Neste contexto, a insistência do Ministro Haddad na urgência do PL 125/22 é um ato de coragem e lucidez. O projeto, parado há três anos na Câmara dos Deputados, não deveria ser uma bandeira partidária, mas um consenso nacional.
Ele não atinge 99% dos empresários; pelo contrário, os defende da concorrência desleal promovida pelo 1% que opera na ilegalidade. Trata-se de proteger o emprego formal, a geração de renda legal e o tecido produtivo que sustenta o país.
O governo Lula, ao priorizar esta agenda, demonstra uma compreensão profunda de que não há desenvolvimento com privilégios, nem justiça social com impunidade para os grandes devedores. A Receita Federal, sob este comando, deixa de ser um “inimigo” do contribuinte para se tornar um escudo do cidadão de bem contra a canalhice financeira e o crime.
Enfrentar o devedor contumaz é, portanto, muito mais do que equilibrar as contas públicas. É desmontar uma engrenagem que financia o crime, prejudica os trabalhadores e empresários honestos e enfraquece o Estado em sua capacidade de oferecer saúde, educação e segurança.
É uma luta pela ética na economia e pela afirmação de que, no Brasil que queremos construir, o trabalho honesto deve, finalmente, valer a pena. A urgência apontada por Haddad é a urgência de resgatar a dignidade da nossa economia. O Congresso Nacional não pode ficar surdo a esse chamado.