Apoio silencioso de senadores evangélicos pode garantir votos para Jorge Messias no Senado, dizem aliados

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Aliados do advogado-geral da União, Jorge Messias, intensificaram as articulações para garantir os votos necessários à sua aprovação no Senado e avaliam que o apoio discreto da bancada evangélica poderá ser determinante na disputa. A análise, revelada por Malu Gaspar no jornal O Globo, indica que o voto secreto e o ambiente de tensão entre governo, oposição e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), abriram espaço para dissidências longe do escrutínio público.

Segundo interlocutores do Planalto, parte expressiva dos 13 senadores evangélicos tende a votar a favor do indicado de Lula, ainda que dificilmente admita apoio antes da votação. Trata-se de um grupo que, desde 2018, ampliou significativamente sua presença no Senado, passando de sete para treze representantes — parlamentares que têm forte peso em pautas que tramitam ou podem chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), como aborto, união homoafetiva, células-tronco e discussões sobre gênero.

“A pressão está grande”, diz integrante da bancada evangélica

Nos bastidores, líderes ligados ao segmento afirmam que o clima é de cautela. Um integrante da Frente Parlamentar Evangélica descreveu a situação:
“Os senadores não podem declarar apoio ao Messias para não se queimar com seus eleitores bolsonaristas nem se indispor com Davi. A pressão está grande e ninguém quer sofrer represália do Alcolumbre.”

A avaliação interna entre apoiadores de Messias é de que esse “apoio silencioso” pode ser decisivo em um cenário de disputa apertada. Segundo um assessor próximo ao advogado-geral da União, os cálculos mais otimistas projetam entre 45 e 48 votos — Messias precisa de 41 para ser aprovado. O núcleo político considera que o voto secreto reduz a influência de grupos organizados, como as bases bolsonaristas, e enfraquece o poder de constrangimento do presidente do Senado sobre aliados.

Projeção de Alcolumbre é mais pessimista

Já o grupo coordenado por Davi Alcolumbre trabalha com números significativamente mais baixos. Parlamentares próximos ao presidente do Senado estimam que Messias teria hoje apenas entre 28 e 31 votos consolidados. A avaliação dessa ala é de que o indicado enfrenta resistência entre senadores evangélicos e conservadores, que veem sua trajetória vinculada ao PT e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um senador bolsonarista sintetizou essa visão:
“Não convence esse aspecto de Messias ser evangélico. Isso não vira voto aqui, porque as condutas dele mostram alinhamento ideológico ao PT e ao Lula, não religioso.”

Além da resistência política, aliados de Alcolumbre consideram que o indicado enfrenta dificuldade para percorrer gabinetes e construir apoio devido ao calendário enxuto estabelecido pelo próprio presidente do Senado.

Calendário apertado gera tensão entre governo e Senado

A disputa se agravou depois que Alcolumbre marcou a sabatina de Messias na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para o dia 10 de dezembro, com leitura do relatório prevista para o dia 3. O governo considera o prazo curto e avalia adiar formalmente o envio da indicação ao Senado para ganhar tempo — embora Alcolumbre tenha afirmado que, com a publicação no Diário Oficial, o processo está legitimado.

Dentro do Planalto, a leitura é de que Alcolumbre tenta impor uma derrota política ao presidente Lula após divergências recentes sobre indicações ao STF e sobre o avanço de projetos de impacto fiscal no Congresso.

Mendonça e Nunes Marques viram cabos eleitorais de Messias

Nos últimos dias, dois nomes de peso passaram a atuar nos bastidores em favor da aprovação de Messias: os ministros do STF André Mendonça e Kassio Nunes Marques. Ambos chegaram à Corte indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o que confere legitimidade junto à ala conservadora do Senado.

A interlocução de Mendonça é vista como especialmente relevante. Ele próprio enfrentou resistência conduzida por Alcolumbre em 2021, quando o presidente do Senado retardou por mais de quatro meses a sabatina e tentou emplacar Augusto Aras na Corte. A vitória de Mendonça, vista como improvável à época, teria fortalecido sua relação com Messias, já que ambos comandaram a Advocacia-Geral da União.

Kassio Nunes Marques também tem atuado na articulação, sobretudo com senadores do Nordeste e parlamentares que mantêm relação direta com lideranças evangélicas. Fontes próximas ao Planalto afirmam que o apoio dos dois ministros pode ajudar a reduzir a resistência de setores que temem um desequilíbrio no STF em debates sobre temas sensíveis ao conservadorismo.

Aposta evangélica: barrar avanços progressistas no STF

Para líderes evangélicos que cogitam apoiar Messias, o argumento principal não é sua identidade religiosa, mas a possibilidade de que ele ajude a reforçar um bloco mais resistente a pautas progressistas na Corte.

Entre os temas acompanhados de perto estão:

  • descriminalização do aborto em fases iniciais da gestação;
  • decisões sobre união homoafetiva e direitos LGBTQIA+;
  • pesquisas científicas envolvendo células-tronco;
  • julgamentos sobre participação de crianças em eventos do orgulho LGBTQIA+;
  • debates sobre ensino e políticas de gênero.

Segundo um aliado da Frente Parlamentar Evangélica, Messias teria sinalizado que pretende se guiar por “prudência constitucional” nesses assuntos, o que animou parte da bancada.

Placar segue imprevisível

Apesar do avanço nas negociações e da atuação de novos articuladores, o cenário segue indefinido. O governo acredita que o voto secreto favorece Messias. Alcolumbre, por outro lado, diz a aliados que pode controlar mais votos contrários do que o Planalto imagina.

Com menos de duas semanas para a sabatina, o quadro geral é de disputa intensa, cálculos divergentes e um fator determinante: o peso da bancada evangélica, que deve decidir a votação longe dos holofotes.


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