Com investimento de R$ 9,8 bilhões, o AdaptaSUS estabelece metas e ações para garantir que unidades de saúde sigam funcionando diante de enchentes, calor extremo ou longos períodos de seca
Em um momento em que eventos extremos se tornam cada vez mais frequentes e impactam diretamente a vida da população, o Governo do Brasil anunciou um pacote de R$ 9,8 bilhões para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) frente à mudança do clima. A decisão, revelada no domingo, 30 de novembro, durante o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), representa um avanço significativo na construção de um sistema de saúde mais preparado, mais justo e mais acessível — sobretudo para as regiões mais vulneráveis do país.
O investimento integra o AdaptaSUS, plano estratégico apresentado pelo governo durante a COP30, em Belém (PA). A iniciativa estabelece 27 metas e 93 ações, pensadas para curto, médio e longo prazo, que devem ser implementadas até 2035. O objetivo é fortalecer sistemas de alerta, ampliar a vigilância em saúde, qualificar equipes, apoiar pesquisas e realizar obras estruturantes em localidades que sofrem com efeitos cada vez mais severos da crise climática.
Plano AdaptaSUS mira continuidade da assistência em tempos críticos
O conjunto de ações prevê recursos destinados a garantir que unidades de saúde continuem funcionando mesmo diante de enchentes, ondas de calor, secas prolongadas ou outros eventos climáticos extremos. Parte do investimento será direcionada à ciência e tecnologia, com foco no desenvolvimento de estudos capazes de antecipar riscos e orientar políticas públicas mais eficazes.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o desafio climático já é uma realidade urgente e afeta diretamente a rede assistencial. “A crise climática é um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, um a cada 12 hospitais paralisa atividades por causa de eventos climáticos extremos. Para nós, debater saúde e clima é questão de equidade. Precisamos de um sistema que se antecipe, responda e se adapte às mudanças climáticas para garantir atendimento a todos”, afirmou.
Com essa diretriz, o governo busca impedir que populações mais pobres — historicamente as mais expostas aos impactos ambientais — sejam novamente as que mais sofrem quando catástrofes atingem o território nacional.
Guia de resiliência orienta construção de unidades mais seguras
Durante o Abrascão, o Ministério da Saúde apresentou o Guia de Unidades de Saúde Resilientes, documento que passa a integrar os projetos do Novo PAC Saúde. O material reúne diretrizes minuciosas sobre como UBSs, UPAs e hospitais devem ser construídos ou adaptados para resistir a eventos climáticos cada vez mais intensos.
As orientações abrangem desde estruturas reforçadas até autonomia energética e hídrica, além de padrões de segurança e soluções de inteligência predial. Para viabilizar a aplicação dessas regras, foi instituído um grupo técnico encarregado de detalhar cada etapa da implementação.
Reconhecimento da profissão de sanitarista avança
O governo também assinou portarias que instituem a Comissão Técnica de Registro Profissional do Sanitarista e o Comitê de Acompanhamento de Formação da Profissão do Sanitarista, dando andamento ao que determina a Lei nº 14.725/2023. Esses novos espaços serão responsáveis por definir critérios de formação, organizar o sistema digital de registro, analisar pedidos profissionais e consolidar a identidade da categoria.
“Valorizar o sanitarista é reconhecer a essência do SUS”, pontuou Padilha, destacando o papel central desses profissionais na defesa de políticas públicas inclusivas e na construção de um sistema de saúde que priorize a vida e o bem-estar coletivo.
Nova instância moderniza ética em pesquisa no país
Outro anúncio importante foi a criação da Instância Nacional de Ética em Pesquisa, que moderniza o sistema brasileiro de avaliação ética em estudos envolvendo seres humanos. A estrutura pretende acelerar os processos de análise, reduzir duplicidades, definir com clareza os critérios de risco e regulamentar biobancos — aproximando o Brasil das melhores práticas internacionais.
Com o AdaptaSUS, o país assume um compromisso de longo prazo com a proteção da saúde pública em um cenário global de instabilidade climática. O plano demonstra que, diante dos desafios ambientais que já afetam o cotidiano da população, fortalecer o SUS é também fortalecer a capacidade do Brasil de enfrentar desigualdades históricas e garantir que nenhuma comunidade fique para trás.