O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, afirmou que Jair Bolsonaro é um “serial killer” e defendeu punição exemplar a militares de alta patente envolvidos na tentativa de golpe de Estado. As declarações foram feitas em entrevista ao programa “Juca Kfouri Entrevista”, da TVT, em que o jurista analisou o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), a participação de generais na trama golpista e os efeitos institucionais do processo.
Ao longo da conversa, Kakay revisitou as previsões que havia feito meses antes sobre datas, penas e consequências do julgamento. Ele explicou que não teve acesso a informações internas, mas usou sua experiência de décadas atuando em ações de grande repercussão no Supremo. “Quando saiu a denúncia, dia 18 de fevereiro, eu li, vi quantos fatos, vi as imputações, eu advoguei em quase todo caso importante do Supremo. Eu conheço o rito do Supremo”, afirmou. A partir disso, concluiu: “Olha, setembro esse processo vai ser julgado”.
O advogado disse ainda que a existência de um réu preso, o general Walter Braga Netto, aceleraria o ritmo do processo, o que se confirmou com a condenação e prisão dos envolvidos.
Advogado diz que recusou defender acusados de participação na trama golpista
Kakay afirmou que, embora tenha representado figuras públicas envolvidas em casos de grande repercussão, recusou atuar na defesa de acusados ligados à tentativa de golpe. “Eu fui procurado por pessoas para atuar nesse caso. Eu me neguei a atuar”, disse. Segundo ele, sua decisão foi motivada pelo entendimento de que “o que esteve em jogo foi a democracia brasileira”.
O criminalista relatou também que Jair Bolsonaro tentou contratá-lo. Um empresário teria intermediado o encontro, que o jurista diz não ter aceitado caso soubesse previamente quem desejava a reunião. Após ouvir o ex-presidente, Kakay disse ter sido direto: “Não tem hipótese de eu advogar pro senhor”.
Sobre argumentos apresentados por aliados de Bolsonaro para contestar sua prisão, o advogado classificou como “desatino” as afirmações de que o ex-presidente teria sido vítima de tortura durante a detenção.
“Bolsonaro é um serial killer” e ainda deve ser julgado pela pandemia, diz Kakay
Em tom crítico, o jurista afirmou que a condenação de Bolsonaro pelo caso do golpe representa apenas parte dos processos que o ex-presidente deve enfrentar. “O Bolsonaro ele é uma pessoa, ele é um serial killer, ele ainda vai ser condenado, espero, pelo que fez na pandemia”, afirmou. Ele disse considerar “inacreditável” que o país tenha eleito Bolsonaro e o classificou como “misógino” e “racista”.
Apesar da radicalização histórica do bolsonarismo, Kakay avaliou que a reação popular à prisão do ex-presidente demonstrou maturidade institucional. Para ele, a incapacidade de mobilização após a condenação reflete “o fim de uma ilusão golpista”.
Punição a generais tem peso simbólico maior que a condenação de Bolsonaro, afirma advogado
Embora reconheça a relevância da condenação de um ex-presidente, Kakay afirma que a prisão de militares de alta patente é ainda mais significativa. “Para mim, eu não tenho nenhuma dúvida de uma importância bastante maior da condenação e prisão dos militares, generais”, disse.
Ele destacou nomes como o general Augusto Heleno e Braga Netto e defendeu que oficiais que atentam contra a ordem democrática devem perder posto e patente no Superior Tribunal Militar (STM). “Se isso não for indigno, temos que fechar o STM”, afirmou.
Kakay relatou que há “mal-estar” nas Forças Armadas por ter de custodiar militares condenados por longas penas. Segundo ele, a tendência é que, com a perda da patente, os envolvidos sejam enviados para o sistema prisional comum.
Jurista descarta tese de “recurso milagroso” e elogia atuação do STF
Kakay classificou como falsa a narrativa de que recursos poderiam levar o caso de Bolsonaro à segunda turma do Supremo, o que mudaria o resultado do julgamento. “Nenhum estudante de direito falaria tal absurdo processual”, afirmou. Ele explicou que o regimento do Supremo, atualizado em 2023, define que ações criminais sejam julgadas nas turmas, sem brechas para manobras.
Ele também avaliou como “raríssima” a possibilidade de uma revisão criminal reverter a condenação.
O advogado elogiou a atuação do STF durante a tentativa de golpe e destacou o papel do ministro Alexandre de Moraes. “O ministro Alexandre, seguramente, a história também lhe fará justiça”, afirmou.
Kakay pede mutirão para revisar prisões e critica sistema carcerário
O criminalista disse enxergar ironia no fato de setores da direita agora defenderem direitos humanos após a prisão de Bolsonaro. Ele defendeu aproveitar o momento para revisar situações semelhantes no sistema penitenciário brasileiro. “Se o Bolsonaro for para domiciliar, nós temos que fazer um grande mutirão no Brasil”, afirmou, mencionando precedentes do CNJ.
Para o jurista, o sistema é “absolutamente falido”, e decisões do STF que reconheceram um “estado de coisas inconstitucional” não produziram mudanças práticas.
Risco de novos golpes e futuro político do bolsonarismo
Sobre a possibilidade de novas tentativas de ruptura institucional, Kakay afirmou: “Eu não diria completamente, mas eu digo quase completamente”. Ele alerta que financiadores e parlamentares ligados às articulações golpistas ainda não responderam judicialmente.
Para o advogado, o bolsonarismo deve perder força política. Ele afirmou não acreditar que a família Bolsonaro terá competitividade eleitoral para 2026 e avaliou que extradições de aliados que fugiram para os EUA são “questão de tempo”.