Com a inelegibilidade e a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, representantes do agronegócio e do setor financeiro começaram a avaliar alternativas dentro da direita para a eleição presidencial de 2026. A leitura predominante é que, apesar do capital político de Bolsonaro, nenhum integrante do clã deve superar Lula nas urnas.
Entre gestoras de investimento, o nome mais citado é o de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. No campo, produtores avaliam que Tarcísio tem potencial, mas Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Jr. (PSD) também aparecem no radar. A chapa considerada ideal por lideranças do agro incluiria um desses quatro nomes com a ex-ministra Tereza Cristina como vice.
Segundo Fabio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, “a possibilidade de exclusão do ex-presidente Bolsonaro do processo eleitoral já estava incorporada aos preços dos ativos. Por isso, não houve reação do mercado. A expectativa agora se volta para o reposicionamento da direita e a identificação de possíveis nomes com potencial eleitoral”.
No setor financeiro, a avaliação é que uma eventual continuidade do governo do PT, com a reeleição de Lula, pode ampliar o desequilíbrio fiscal, elevando a dívida bruta do governo a 100% do PIB em 2030. Já produtores rurais reclamam de falta de diálogo com o governo federal, pouco apoio no Plano Safra e no seguro agrícola, além de críticas antigas ao PT por causa do apoio ao MST.
A escolha de um nome competitivo, na visão do mercado, passa por compromisso com estabilidade fiscal, previsibilidade institucional e continuidade de reformas e privatizações. Para Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, a ausência de Bolsonaro na disputa torna Tarcísio de Freitas o nome mais evidente. “Avalio que não há espaço para alguém da família Bolsonaro sair como candidato porque a rejeição seria muito forte. O caminho natural seria o ex-presidente usar seu capital político para manter o bolsonarismo vivo e ter Tarcísio como o candidato da direita, embora o nome dele não seja consenso entre o próprio Bolsonaro e seus filhos”, afirma.
Tarcísio, que repete buscar a reeleição em São Paulo, chamou atenção do mercado na semana passada após uma declaração interpretada como sinalização presidencial. “Eu quero fazer parte do time, não importa a posição que eu vou jogar. Isso é o mais importante. Eu não preciso necessariamente ser um protagonista”, disse o governador. O movimento foi associado ao otimismo na Bolsa, onde o Ibovespa fechou com alta de 1,70%, aos 158.582 pontos, um recorde histórico. “O mercado gostou desse posicionamento mais claro. E ele disse também que Bolsonaro será importantíssimo na corrida eleitoral. Agora é entender como será esse próximo passo”, comenta Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos.
Nos bastidores, um executivo de banco, que prefere não se identificar, afirma que a família Bolsonaro deve ter papel decisivo na escolha final da direita. Mesmo inelegível, Bolsonaro segue central na articulação, e existe a possibilidade de que Flávio Bolsonaro tente herdar o espólio político. Segundo o executivo, “os banqueiros já jogaram a toalha para Bolsonaro”, mas o apoio no Congresso permanece forte, o que poderia ajudar Flávio. Ele cita ainda que, em pesquisa interna da bancada do agro, feita em setembro, mais de 70% dos parlamentares eram favoráveis à anistia do ex-presidente.
Na avaliação desse mesmo executivo, Tarcísio teria capacidade de unir a direita, além de dialogar com o agro e o mercado financeiro. O fator considerado sensível é a falta de entusiasmo de parte da família Bolsonaro, o que dificulta a consolidação de seu nome para 2026.
Alguns analistas avaliam que a família Bolsonaro pode atrapalhar mais do que ajudar. Paulo Bittencourt, estrategista-chefe da MZM Wealth, observa que críticas como as feitas por Carlos Bolsonaro a Tarcísio — chamando o governador de “candidato do sistema” — criam obstáculos. Para ele, “o setor financeiro aposta as fichas de largada em Tarcísio, mas ainda como um balão de ensaio. Ele tem o apoio de Gilberto Kassab, é um tecnocrata e tem fama de bom gerente. Mas se ele se enrolar em discussões com a família Bolsonaro, o mercado tira o pé”.
No agronegócio, Zema, Ratinho Jr. e Caiado participaram de praticamente todos os eventos do setor no ano, defendendo políticas permanentes para o agro, o que os coloca como alternativas relevantes, ainda sem consenso. Para Tirso Meirelles, presidente da Faesp, Caiado conhece profundamente o setor, enquanto Tarcísio vem realizando bom trabalho em São Paulo. Ele diz que o cenário econômico exige uma estratégia clara para o país, citando a dívida pública crescente, o impacto do tarifaço de Trump — que retirou US$ 5 bilhões das exportações brasileiras — e o aumento dos custos de produção. Para Meirelles, o candidato da direita precisa apresentar um plano de nação.
Antônio de Salvo, presidente da Faemg e do Senar, avalia que o agro apoiará o nome da direita com maior viabilidade eleitoral no momento, o que, para ele, aponta para Tarcísio e Zema, governadores de estados populosos e capazes de atrair mais votos. “Precisamos de candidatos e governantes que nos ouçam e nos entendam, já que grande parte do PIB vem do agro”, afirma.