O Financial Times não engoliu a farsa bolsonarista sobre “ditadura judicial” no Brasil

Paul Krugman / Youtube

Enquanto a narrativa bolsonarista se esforça para pintar o Brasil como uma “ditadura judicial”, a percepção internacional caminha na direção oposta. Os processos e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por atos antidemocráticos têm sido amplamente vistos no exterior como um sinal de vigor e resiliência das instituições brasileiras.

Ironicamente, a mesma direita que acusa o Brasil de autoritarismo frequentemente aponta os Estados Unidos como um modelo de democracia a ser seguido. No entanto, em uma conversa com o jornalista Martin Wolff para um podcast do Financial Times, o economista e prêmio Nobel Paul Krugman ofereceu uma visão bem diferente sobre o estado da democracia americana sob a influência de Donald Trump.

Questionado sobre a saúde da democracia americana em uma escala de 1 a 10, Krugman atribuiu uma nota baixa: entre 3 e 4. Ele descreveu um país onde “agentes governamentais mascarados sequestram pessoas nas ruas” se tornou uma “ocorrência rotineira”.

Ao criticar o autoritarismo nos EUA, Krugman faz uma comparação surpreendente:

“E olhamos com inveja para lugares que sabem como fazer democracia, seriamente, como o Brasil, e é bastante humilhante para um americano.”

Martin Wolff, o entrevistador, aprofunda a comparação, afirmando que o Brasil possui não apenas uma democracia funcional, mas também “um sistema legal funcional, porque eles colocaram Bolsonaro na prisão”. A responsabilização do ex-presidente brasileiro é vista como um marco de força institucional. Wolff descreve com ironia a reação de Donald Trump ao fato: “a reação do presidente americano a isso foi aplicar uma tarifa de 50% sobre eles pela ousadia de colocar alguém que tentou derrubar uma eleição na prisão”, o que, na visão de Trump, seria um “precedente horrível”.

Krugman detalha a questão das tarifas, explicando por que as considerava ilegais. “O Presidente pode fazer algumas coisas especiais para lidar com emergências econômicas, mas quando Trump impõe tarifas ao Brasil porque eles têm a audácia de julgar Bolsonaro, isso não se encaixa na definição de emergência econômica”, afirma.

A discussão revela ainda a influência de fatores econômicos pragmáticos na diplomacia. Segundo Krugman, as sanções foram revertidas em parte porque “os consumidores americanos estão indignados com o preço do café”. Ele conclui que, no fim, “o que realmente está matando a tentativa MAGA de tomar conta da América é o preço dos mantimentos”.

A visão expressa no podcast do Financial Times, um dos veículos mais respeitados do mundo liberal, exemplifica como a resposta do Brasil aos ataques à sua democracia é percebida no exterior. Enquanto a retórica de perseguição política é consumida internamente por uma parcela da população, os principais analistas e formadores de opinião no Ocidente enxergam um sistema de freios e contrapesos que funcionou. Essa percepção coexiste com as alianças estratégicas do Brasil no âmbito dos BRICS, consolidando uma posição singular do país no cenário global.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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