Ao defender que clima é questão de geopolítica, Cristina Reis destaca que o Brasil assume protagonismo global ao articular sustentabilidade, soberania e desenvolvimento
Em um momento em que crises ambientais e disputas globais se entrelaçam cada vez mais, o Brasil reforçou sua posição estratégica no cenário internacional. A secretária extraordinária do Mercado de Carbono do Ministério da Fazenda, Cristina Reis, destacou que o país passou a ocupar um papel de protagonismo nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, justiça social e enfrentamento da crise climática — debates que, segundo ela, ultrapassam a dimensão ambiental e se tornaram centrais na geopolítica contemporânea.
A declaração foi feita nesta sexta-feira (28/11), durante o VI Encontro Nacional de Economia Política Internacional (ENEPI), realizado no Rio de Janeiro. O evento, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, teve como tema “Ruínas no Velho Mundo: em busca de uma nova ordem mundial” e reuniu especialistas para discutir os rumos da transição energética no planeta.
Brasil assume posição central nas negociações climáticas
Cristina Reis ressaltou que os avanços obtidos pelo país no campo ambiental estão diretamente ligados ao Plano de Transformação Ecológica (PTE), lançado em 2023 e conduzido pelo Ministério da Fazenda. Ela lembrou que, ao assumir uma postura assertiva, o Brasil ampliou sua capacidade de defender seus interesses em meio a disputas internacionais que envolvem comércio, tecnologia, regulação e proteção climática.
Nas palavras da secretária, “as discussões de clima não são meramente ambientais. São pura geopolítica”. A frase sintetiza o entendimento de que, na disputa por novos modelos de desenvolvimento, países que lideram a agenda verde tendem a ocupar posições estratégicas no sistema global — e o Brasil, com sua matriz limpa e seus recursos naturais, acumula vantagens consideráveis.
Estruturação do mercado de carbono fortalece posição do país
A representante do Ministério da Fazenda detalhou as iniciativas que integram o PTE, com destaque para a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), previsto na Lei nº 15.042/2025, e para o avanço da Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), estabelecida pelo Decreto nº 12.705/2025. Ambos os instrumentos foram concebidos e estruturados pelo Ministério da Fazenda e agora caminham para regulamentações que darão segurança jurídica e previsibilidade ao mercado.
Segundo Reis, essas iniciativas ganharam escala global durante a COP 30, em Belém (PA), com o lançamento da Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono e do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). As propostas já receberam apoio de diferentes países interessados em modelos que integrem preservação ambiental, desenvolvimento econômico e cooperação internacional.
Vantagens estratégicas colocam o Brasil em posição privilegiada
Cristina Reis afirmou que “a chave da sustentabilidade” abre um leque de oportunidades para o país, especialmente em áreas onde o Brasil já demonstra robustez tecnológica e produtiva. Ela destacou o setor de biocombustíveis, exemplo de como inovação e vantagens comparativas podem impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento.
Entretanto, a secretária ponderou que ainda existem desafios profundos a enfrentar. Ela mencionou os problemas estruturais históricos que atravessam a sociedade e a economia brasileiras, alertando que avanços ambientais só farão sentido se vierem acompanhados de redução das desigualdades sociais e regionais. Nesse ponto, reforçou que o PTE busca justamente esse equilíbrio, ao alinhar compromisso ambiental e justiça social.
Transformação ecológica é vista como novo paradigma econômico
Para Cristina Reis, o Plano de Transformação Ecológica se apresenta como um marco estruturante da economia brasileira: “É o novo paradigma econômico, tecnológico, produtivo e cultural no qual o País consegue resolver desigualdades, gerar trabalho decente e ter essa sustentabilidade ambiental e climática”.
Ela explicou que essa mudança envolve temas como uso do solo, economia circular, gestão de resíduos, segurança hídrica e a elaboração de uma nova matriz produtiva nacional. A transição está sendo acompanhada de instrumentos regulatórios, fiscais, financeiros e de monitoramento criados no âmbito do PTE, muitos deles já com resultados concretos — como a captação de recursos via Títulos Soberanos Sustentáveis, que reforçam o Fundo Clima.
Debate acadêmico reforça importância da transição energética
A participação de Cristina Reis no painel “A geopolítica da transição energética” destacou a convergência entre academia e governo na busca por soluções para a crise climática. O diálogo, ressaltou ela, é fundamental para que o país continue avançando em políticas públicas robustas, capazes de posicionar o Brasil como liderança ambiental em um mundo que tenta reorganizar suas prioridades diante dos limites do planeta.
Em meio às disputas internacionais, o recado da representante da Fazenda é claro: soberania, hoje, também se constrói com política ambiental. E o Brasil, ao que tudo indica, decidiu ocupar esse espaço com firmeza e visão estratégica.
Com informações de Agência Gov | via MFaz