Durante a abertura da Cúpula Popular dos BRICS, realizada no Armazém da Utopia, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, nos dias 2 e 3 de dezembro de 2025, João Pedro Stédile, liderança histórica do MST, fez uma fala defendendo que o Banco dos BRICS crie um Conselho Popular próprio, com participação direta de movimentos sociais. Ele ressaltou que o conselho popular dos BRICS — o espaço de representação da sociedade civil no bloco — já existe, foi aprovado em Kazan e está em processo de consolidação, mas que agora é necessário avançar para dentro da estrutura financeira do BRICS.
A abertura do encontro reuniu referências da política, da gestão pública e dos movimentos populares do Brasil e do exterior. A plenária estava lotada quando Stédile tomou a palavra para apresentar o que chamou de “nova etapa” da participação popular no bloco.
Logo no início de sua fala, Stédile explicou que o conselho popular dos BRICS nasceu da iniciativa russa, apresentada diretamente à cúpula presidencial durante a reunião de Kazan. A proposta foi aprovada formalmente e marcou o ingresso institucional dos movimentos populares na estrutura do bloco, apesar da resistência de alguns governos.
Ele relatou que a primeira reunião brasileira desse conselho ocorreu em março de 2025, no Rio de Janeiro, com apoio decisivo do Itamaraty. Stédile agradeceu publicamente a diplomacia brasileira e afirmou que o convite do Itamaraty e a vontade política do presidente Lula foram fundamentais para inserir os movimentos populares na dinâmica internacional dos BRICS.
Stédile lembrou, ainda, que uma segunda reunião — embrionária — ocorreu em julho, paralelamente à cúpula presidencial. Mas advertiu que a participação segue desigual: alguns governos não comunicaram seus próprios movimentos sociais sobre a existência do conselho, o que mostra que o processo de consolidação ainda é lento e exige coordenação.
O ponto central da fala, porém, foi outro: a defesa da criação de um Conselho Popular no Banco dos BRICS. Stédile afirmou que não é admissível que recursos de cooperação internacional — financiados majoritariamente por governos progressistas do bloco — continuem sendo decididos apenas por ministros da Fazenda. Para ele, iniciativas populares, cooperativas, empresas sociais e projetos de interesse da maioria precisam participar diretamente das decisões sobre financiamentos e acessar os recursos do banco.
Ele citou áreas estratégicas como soberania alimentar, combate à fome, defesa da natureza e formação tecnológica da juventude, especialmente no campo da inteligência artificial: “sem recursos, não conseguiremos colocar em prática as boas ideias de cooperação que todos nós temos”, afirmou.
A fala seguiu com uma análise da conjuntura internacional. Stédile criticou as agressões imperialistas e as guerras em curso; denunciou o domínio do dólar como principal arma econômica dos Estados Unidos; e atacou o tarifaço imposto por Donald Trump às exportações brasileiras e do Sul Global. Segundo ele, essas tarifas transferem parte do ajuste fiscal americano para os trabalhadores dos países exportadores, configurando uma “exploração legal”.
Stédile também voltou sua crítica para a COP30, dizendo que a conferência se transformou em um “teatro” marcado pela pressão das grandes corporações e pela incapacidade dos governos de romper com estruturas que bloqueiam medidas ambientais de escala global. Para ele, o encontro expôs que, sem participação direta de organizações populares, as negociações climáticas permanecem limitadas e distantes das necessidades reais da humanidade.
Ele afirmou que a Cúpula Popular deve produzir propostas concretas para orientar os governos do bloco. Disse esperar que, em 2026, a Índia dê continuidade ao processo, com novas reuniões e expansão do papel da sociedade civil nos BRICS.
A fala de João Pedro Stédile marcou a abertura da Cúpula Popular dos BRICS no Armazém da Utopia, reunindo movimentos populares de diversos países em torno da disputa por soberania, participação e alternativas ao sistema internacional dominado pelo dólar e pelas potências ocidentais.
Quem participou da abertura:
Dilma Rousseff – presidenta do Banco dos BRICS e ex-presidenta do Brasil.
Elias Jabbour – presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), órgão de planejamento urbano vinculado à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Marco Fernandes – analista de geopolítica do jornal Brasil de Fato.
Jandira Feghali – deputada federal (PCdoB-RJ).
Marina do MST – dirigente nacional do MST, atuante em soberania alimentar.
Victoria Panova – representante da Rússia nas iniciativas sociais e acadêmicas dos BRICS.
João Pedro Stédile – liderança histórica do MST.