Trump joga Zelensky ao ‘mar’ e diz que corrupção enfraquece a Ucrânia

Sarah Meyssonnier/POOL/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a levantar dúvidas sobre a estabilidade interna da Ucrânia ao afirmar que a corrupção no país europeu é um obstáculo relevante nas negociações para um acordo de paz.

Em declarações divulgadas pela agência Sputnik nesta segunda-feira (1º), Trump afirmou que “a Ucrânia tem alguns pequenos problemas difíceis” e que “a situação de corrupção em andamento… não ajuda”. As falas surgem no momento em que Kiev enfrenta uma das maiores crises políticas desde o início da guerra.

As declarações ocorrem em meio às conversas conduzidas por Washington para tentar construir um plano de paz aceito tanto por ucranianos quanto por russos. O governo norte-americano apresentou recentemente um rascunho revisado da proposta, que passou de 28 para 19 pontos após reuniões entre representantes dos Estados Unidos, da Ucrânia e da União Europeia em Genebra, em 23 de novembro. Embora os detalhes não tenham sido divulgados oficialmente, a redução do documento reflete ajustes feitos para acomodar interesses divergentes entre as partes envolvidas.

Escândalo de corrupção provoca terremoto político em Kiev

Enquanto a diplomacia avança, a Ucrânia enfrenta turbulência interna. Na última sexta-feira, o Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) confirmou que realizou buscas no gabinete de Andriy Yermak, ex-chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky. A operação ocorreu em conjunto com a Procuradoria Especializada Anticorrupção (SAPO) e faz parte de uma investigação confidencial envolvendo acusações de corrupção em altos escalões do governo.

Yermak era considerado o principal articulador político de Zelensky e uma das figuras mais influentes do governo ucraniano. Após a ação do NABU, o presidente assinou um decreto demitindo seu aliado de longa data, gesto interpretado por analistas como uma tentativa de conter o desgaste político e demonstrar cooperação com as instituições de controle interno. A saída de Yermak também foi vista como um sinal de que o próprio Zelensky busca afastar suspeitas sobre sua administração em meio a críticas de aliados ocidentais sobre falta de transparência em setores estratégicos.

Embora o NABU não tenha divulgado detalhes da investigação, autoridades locais sugerem que ela envolve possíveis irregularidades em contratos relacionados ao esforço de guerra e à reconstrução de infraestrutura crítica. A expectativa é de que novas ações possam ocorrer contra outros integrantes do círculo próximo ao presidente.

Reação internacional e pressão por reformas

Os Estados Unidos e países europeus acompanham com atenção o caso, pois a integridade das instituições ucranianas é considerada peça chave para a continuidade do apoio financeiro e militar. Washington já vinha pressionando Kiev por reformas anticorrupção antes mesmo da guerra. Com o prolongamento do conflito, o tema ganhou ainda mais relevância.

A fala de Trump, portanto, reflete uma preocupação que já está presente entre diplomatas e legisladores ocidentais, que temem que denúncias internas minem a confiança pública e fragilizem a posição da Ucrânia em futuras negociações. Ao mesmo tempo, o governo ucraniano tenta demonstrar que está disposto a avançar com reformas profundas, mesmo em meio ao conflito.

Para analistas ouvidos por veículos europeus, a demissão de Yermak pode ter um duplo efeito: recuperar credibilidade entre parceiros internacionais e reorganizar o núcleo político de Zelensky em um momento de crescente contestação interna.

Plano de paz dos EUA ganha novo impulso após revisão

As acusações de corrupção surgem em um momento sensível. Em 21 de novembro, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o novo plano de paz elaborado por Washington poderia servir de base para um acordo final. Embora o Kremlin não tenha comentado o conteúdo da proposta, a sinalização positiva chamou a atenção internacional.

A versão reduzida do documento norte-americano teria sido reformulada após longas conversas conduzidas pelo enviado americano Steve Witkoff e pelo conselheiro Jared Kushner. Os dois vêm se reunindo com autoridades em Kiev e Moscou para tentar aproximar posições, em meio à expectativa de que Trump queira demonstrar avanços diplomáticos em seu retorno à Casa Branca.

Fontes diplomáticas afirmam que os 19 pontos revisados incluem propostas relacionadas ao cessar-fogo, ao controle de territórios ocupados, à segurança nuclear, à reconstrução de áreas devastadas e a garantias de longo prazo à soberania ucraniana. No entanto, qualquer avanço depende da superação de impasses históricos e da disposição de ambos os governos de ceder em questões sensíveis.

Guerra prolongada aumenta desgaste interno e externo

A crise envolvendo Yermak expõe problemas que se acumulavam silenciosamente dentro da administração Zelensky. A guerra já entrou no seu terceiro ano sem perspectiva de solução imediata. A população enfrenta desgaste econômico, incertezas e frustração com a estagnação no campo de batalha.

Para o governo norte-americano, a instabilidade interna é um fator adicional que pode influenciar a viabilidade de qualquer acordo. Washington teme que o enfraquecimento da liderança de Zelensky prejudique a implementação de compromissos assumidos em eventual pacto de paz.

Ao mesmo tempo, especialistas em segurança alertam que a Rússia pode se beneficiar do momento para intensificar pressão militar e política, explorando divisões internas na Ucrânia e eventuais hesitações entre aliados ocidentais.

Perspectivas: crise política e pressão diplomática caminham juntas

A combinação entre o avanço das negociações internacionais e o escândalo de corrupção em Kiev coloca o governo ucraniano sob forte escrutínio. Para a Ucrânia, o desafio é duplo: preservar a estabilidade institucional e convencer aliados de que está comprometida com reformas, enquanto tenta manter força política e militar suficiente para negociar em posição de vantagem.

As próximas semanas devem indicar se a crise envolvendo Yermak será contida ou se abrirá uma fissura mais profunda na estrutura de poder ucraniana. Ao mesmo tempo, a diplomacia segue acelerada, com olhos voltados para o plano de paz de Trump e a reação do Kremlin.

O sucesso de qualquer negociação dependerá da capacidade de Kiev de responder às denúncias internas, manter apoio internacional e equilibrar pressões externas em um dos momentos mais críticos da guerra.


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