Ibovespa supera 161 mil pontos pela primeira vez e renova recordes com expectativa de corte de juros nos EUA

Ilustração de Germano Lüders/InfoMoney

O Ibovespa renovou máximas históricas nesta terça-feira ao ultrapassar pela primeira vez a marca dos 161 mil pontos, impulsionado principalmente pelo cenário externo, em especial pelas expectativas em relação aos próximos passos da política monetária dos Estados Unidos. O índice, referência do mercado acionário brasileiro, refletiu o otimismo global com a possibilidade de novos cortes na taxa básica de juros norte-americana já na próxima semana.

Durante o pregão, o Ibovespa avançou 1,56%, atingindo 161.092,25 pontos na máxima do dia, o maior patamar tanto para fechamento quanto para intradia. Na mínima, marcou 158.611,50 pontos, em um pregão de forte oscilação e volume financeiro movimentado de R$ 24,55 bilhões.


Corte de juros nos Estados Unidos sustenta rali da Bolsa brasileira

A alta expressiva foi atribuída, em grande parte, ao otimismo em relação ao Federal Reserve (Fed). Na avaliação de Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, a performance do Ibovespa está diretamente ligada à perspectiva de que o banco central norte-americano anuncie um novo afrouxamento monetário. Para ele, esse movimento pode abrir espaço para que o ciclo de alta da Bolsa brasileira se estenda pelos próximos meses.

“Se analisarmos o comportamento médio do Ibovespa após a pandemia, percebemos que a bolsa ficou por muito tempo lateralizada… Esse ‘sprint’ de alta que nós temos agora, basicamente poderíamos considerar como um movimento de correção do Ibovespa”, afirmou Queiroz.

Nas contas do mercado, o corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica dos EUA tornou-se praticamente consenso. Conforme a ferramenta FedWatch, da CME, os contratos futuros de juros precificavam, no final da tarde, cerca de 90% de probabilidade de que o Fed reduza a taxa na próxima reunião.


Silêncio de Powell reforça expectativa de afrouxamento monetário

O tom adotado por Jerome Powell, chair do Federal Reserve, também contribuiu para fortalecer o apetite por risco. Em evento realizado na véspera, Powell evitou declarações relacionadas à trajetória futura da política monetária, movimento interpretado pelos investidores como sinal de que o ciclo de cortes segue encaminhado.

De acordo com o economista-chefe e sócio da Forum Investimentos, Bruno Perri, a ausência de sinalizações mais duras do Fed foi suficiente para manter o cenário favorável aos ativos de países emergentes. “O silêncio do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre política monetária em evento na véspera bastou para a manutenção das apostas de novo afrouxamento”, afirmou.


Desaceleração da produção industrial brasileira reforça queda dos juros internos

No Brasil, dados divulgados sobre a produção industrial de outubro contribuíram para o clima positivo no mercado acionário. O desempenho das fábricas veio bem abaixo do esperado, reforçando a percepção de desaceleração da atividade econômica. A leitura sugeriu menor pressão inflacionária à frente e contribuiu para o fechamento das curvas de juros domésticas, ampliando o espaço para valorização dos ativos de renda variável.

Com as expectativas de queda nos juros futuros, setores sensíveis ao custo do crédito, como varejo, construção e consumo, registraram desempenho positivo, auxiliando no avanço do Ibovespa ao longo do pregão.


Ibovespa acumula alta de 33,9% no ano e corrige anos de estagnação

O rali atual ocorre após um período prolongado de movimentos laterais no pós-pandemia. Em 2020, o Ibovespa encerrou o ano a 119.017,24 pontos; em 2024, fechou a 120.283,40 pontos. Em 2025, até o momento, registrou variação negativa apenas nos meses de fevereiro e julho.

No acumulado do ano, a valorização chega a 33,9%, desempenho considerado por analistas como uma recuperação tardia em relação a outros mercados globais que já haviam renovado recordes anteriormente.

“O Ibovespa está andando tudo aquilo que não andou nos outros anos depois do pós-pandemia”, avaliou Queiroz.


Conversa entre Lula e Trump marca agenda política do dia

Além do ambiente econômico, o mercado acompanhou uma conversa telefônica entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Segundo nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o diálogo durou cerca de 40 minutos e abordou temas como tarifas comerciais e ações de combate ao crime organizado.

Embora não tenha gerado impactos diretos no pregão, o telefonema foi monitorado por investidores por envolver negociações estratégicas relacionadas às relações comerciais entre os dois países.


Expectativa é de continuidade do ciclo positivo, mas volatilidade permanece

A renovação de máximas históricas indica confiança crescente dos investidores, mas analistas ressaltam que o cenário permanece sujeito a volatilidade. O desempenho do Ibovespa nas próximas semanas dependerá das decisões do Fed, da evolução dos indicadores domésticos e das percepções sobre atividade econômica global.

Caso o Fed confirme o corte de juros, o movimento pode ampliar o fluxo de capital para mercados emergentes e sustentar novos avanços do índice brasileiro. Por outro lado, surpresas nos dados econômicos dos EUA ou revisões no discurso do banco central podem provocar ajustes e correções.


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