Os Correios suspenderam as negociações para contratar um empréstimo de R$ 20 bilhões após o Tesouro Nacional rejeitar conceder garantia à operação. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e confirmada por integrantes do governo envolvidos nas tratativas. A recusa ocorreu durante reunião no Ministério da Fazenda, onde o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, foi informado de que as condições apresentadas pelos bancos superavam os limites aceitos pela União para operações com aval federal.
A proposta encaminhada por cinco instituições financeiras — BTG Pactual, Banco do Brasil, Citibank, ABC Brasil e Safra — previa remuneração próxima de 136% do CDI. O percentual ultrapassa o teto de 120% do CDI, parâmetro que o Tesouro utiliza como referência para conceder garantias a operações de crédito demandadas por estatais. Diante do descompasso entre o valor solicitado e o limite aceito pelo governo, a operação foi barrada.
Limite técnico do Tesouro impede avanço das tratativas
De acordo com integrantes do Ministério da Fazenda, a equipe responsável pela análise de risco financeiro considerou que a taxa de 136% do CDI elevaria de forma significativa o custo do empréstimo, tornando-o incompatível com os padrões de aval federal. O Tesouro argumentou que a concessão de garantia da União exige condições consideradas estritamente técnicas, voltadas a proteger as contas públicas e evitar exposição desnecessária do governo em operações de alto custo.
O próprio presidente dos Correios já havia sinalizado, em comunicados internos, que a taxa seguia em discussão com os bancos interessados. Apesar disso, o Conselho de Administração aprovou no sábado (29) a contratação do crédito, condicionando o avanço da operação à concordância do Tesouro. Com a negativa, o processo foi paralisado.
Correios tentam renegociar condições com bancos
Após a recusa formal da União, a direção dos Correios decidiu interromper imediatamente as negociações e buscar alternativas. A orientação interna é a de renegociar a taxa de juros com as instituições envolvidas, sob a justificativa de que a presença da garantia federal reduz de forma relevante o risco da operação, o que deveria resultar em custo menor para a estatal.
A empresa avalia que o crédito é considerado estratégico para a reestruturação financeira. O valor de R$ 20 bilhões seria destinado a planos de modernização, digitalização de processos, redução de passivos e reorganização operacional. Mesmo assim, a estatal reconhece que a operação não poderá avançar se permanecer acima dos limites definidos pelo Tesouro, para evitar comprometer a sustentabilidade financeira do grupo empresarial.
Aval da União exige condições específicas
A posição do Ministério da Fazenda segue normas estabelecidas para operações de crédito com aval federal. De acordo com regras internas, o Tesouro só garante empréstimos quando a taxa está dentro de uma margem considerada compatível com o risco da União. A exigência de condições técnicas é tratada como forma de impedir que estatais assumam dívidas com custo elevado que possam, futuramente, recair sobre o governo federal.
Técnicos afirmam que, sem ajustes nos percentuais, a União não poderá revisar a decisão. O Tesouro também avalia que a busca por um empréstimo desse porte requer análise aprofundada sobre capacidade de pagamento, fluxo de caixa projetado e sustentabilidade da dívida após a contratação.
Reestruturação depende de solução financeira
Os Correios atravessam um processo de reorganização em diversas frentes. A reestruturação envolve revisão de contratos, mudanças logísticas, digitalização de serviços e ajustes administrativos. Para viabilizar o plano, a estatal considera necessário ampliar sua capacidade de investimento, o que, segundo assessores internos, justificou a busca por uma operação de crédito em grande escala.
Com a suspensão das negociações, a empresa trabalha em dois cenários. O primeiro é tentar reduzir a taxa de juros junto aos bancos responsáveis pela proposta inicial. O segundo é buscar alternativas de financiamento com outras instituições ou por meio de instrumentos financeiros distintos, desde que atendam às exigências legais e ao custo máximo aceito pelo Tesouro.
Próximos passos dependem de nova análise técnica
A reabertura das negociações dependerá da apresentação de uma nova proposta dentro dos padrões técnicos definidos pelo Ministério da Fazenda. Não há previsão para conclusão dessa etapa. A equipe dos Correios deverá apresentar ao governo estudos atualizados sobre a necessidade do crédito e o impacto das condições financeiras na sustentabilidade da empresa.
A decisão final caberá ao Tesouro, que analisa cada operação com base em risco fiscal, custo total, garantias oferecidas e indicadores da estatal solicitante. Enquanto não houver consenso sobre a taxa, o empréstimo de R$ 20 bilhões permanece suspenso.