Capitalismo financeiro oligopolista: o caso Banco Master

A intervenção do Banco Central no Banco Master expôs desequilíbrios acumulados e reacendeu o debate sobre o poder dos grandes grupos financeiros na economia brasileira / Agência Brasil

No modo de produção capitalista produtos e serviços viram mercadoria, portanto, algo que se pode comprar e vender no mercado.


Em outros modos de produção ao longo da história, como o escravagismo e o feudalismo, também havia esta característica em muitos produtos e serviços, mas não tão fundamental e estruturante para o processo econômico como no capitalismo.

Neste modo de produção contemporâneo, movido pelo processo de acumulação do capital, o comércio de mercadorias é o sangue que corre nas veias.

A moeda, o dinheiro, como não podia deixar de ser, também se torna uma mercadoria. É possível comprar e vender o dinheiro, ele tem um preço, permissível às oscilações de mercado, com ponto de equilíbrio constituído em nível planetário.

A taxa de câmbio (relação entre o preço de uma moeda A vis a vis uma moeda B) é componente vital para a definição do preço da moeda, influenciada pelas condições econômicas mais gerais, particularmente a taxa de inflação.

Os comerciantes de moeda, os bancos, se tornam um setor vital para a economia, com poder de interlocução com todos os demais setores econômicos. Os banqueiros, proprietários do capital enquanto moeda, dinheiro, tem um poder de influenciar como poucas outras frações da classe burguesa, a “Faria Lima”, como se usa dizer.

O capitalismo é cada vez mais capitalismo financeiro. Para cada unidade de moeda que se constitui em mercadoria real (casa, carro, kg de arroz, etc.) há estudos que informam que há cerca de 40 a 70 unidades de moeda virtuais, a depender da metodologia, girando no mercado financeiro planetário: moeda gerando moeda, sem correspondência com o lado real da economia.

Estes “dinheiros” ficam “voando” atrás de investimentos que rentabilizem melhor que a aplicação no próprio mercado financeiro. Daí, fundos de investimento (“private equity”), gestores de fortunas (“family office”) (constituídos por recursos financeiros) são hoje os grandes acionistas nas aquisições e fusões de empresas industriais, comerciais e agropecuárias por todo o planeta.

Como a tendência à concentração do capital implica muitas vezes em monopólio ou oligopólio da atividade econômica, não seria o setor financeiro excessão à regra. O combate ao cartel tem que se dar de maneira permanente pois é uma ação estrutural do capital que, nos marcos do próprio sistema econômico, gera disfunções que prejudicam a reprodução do próprio capital.

Poucos bancos no Brasil controlam a maioria esmagadora dos recursos financeiros disponíveis, captando no mercado e repassando como empréstimo a outrem. É nitidamente um oligopólio, não necessariamente cartelizado. A autoridade pública que supervisiona, fiscaliza e combate as disfuncionalidades, o Banco Central, tem autonomia formal para
“proteger” o sistema, evitando uma crise sistêmica e a cartelização plena.

Mesmo não sendo um dos maiores do país, a intervenção por parte do Banco Central no Banco Master, mostra a gravidade do problema: de R$180 bilhões de reserva do FGC (Fundo Garantidor de Credito, fundo constituído por recursos dos próprios bancos) estima-se a necessidade de R$42 bilhões para ressarcir com até R$250 mil por CPF os credores do banco que sofreu a intervenção.

Este oligopólio, um verdadeiro “rabo que balança o cachorro”, no caso a economia, pelos vasos comunicantes propiciados pelo capitalismo com feição financeira, demonstra o quão preocupante é a concentração do capital neste setor econômico.

A pronta ação do BACEN e da Polícia Federal apenas torna público o que veio acumulando há pelo menos um ano como ilícitos dos seus acionistas e gestores, com pontos de contato no mundo da política. Haverá desdobramentos graves.

Vamos adiante, lutando!

Rodrigo Botelho Campos é economista.

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