Michelle Bolsonaro causa crise no PL e aliados o acusam de projeto próprio de poder

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Lideranças do PL e de partidos aliados ampliaram críticas à atuação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, acusando-a de conduzir articulações eleitorais orientadas por um projeto pessoal de poder. A avaliação, relatada por Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo, é de que suas intervenções têm provocado divisões internas no bolsonarismo, sobretudo nas composições para o Senado em 2026.

Segundo dirigentes ouvidos pelo jornal, Michelle tem priorizado mulheres consideradas altamente leais a ela para disputar vagas estratégicas. Um deputado definiu essas candidatas como “feministas de direita”, termo usado internamente para designar figuras alinhadas à ex-primeira-dama, à frente do PL Mulher. A percepção de parlamentares é de que, se eleitas, essas mulheres consolidariam um núcleo político próprio de Michelle dentro do PL, ampliando disputas com os filhos de Jair Bolsonaro, especialmente com o senador Flávio Bolsonaro, cuja influência diminuiu desde a prisão do ex-presidente.

Disputa no Ceará evidencia divisão entre Michelle e liderança local do PL

O Ceará tornou-se o ponto mais recente de tensão. Michelle atua pela indicação da vereadora Priscila Costa (PL) a uma das vagas ao Senado, destacando sua atuação em temas ligados à família e à vida. A posição contraria a estratégia do presidente estadual do PL, deputado André Fernandes, que busca emplacar seu pai, o pastor Alcides Fernandes, em uma das vagas ao Senado. O movimento integra articulação que envolve o ex-governador Ciro Gomes, recém-filiado ao PSDB, e o senador Eduardo Girão (Novo), pré-candidato ao governo estadual.

Michelle rejeitou publicamente a aproximação do PL com Ciro. “Isso não dá”, declarou após ser informada sobre a articulação. A reação provocou resposta imediata dos filhos de Jair Bolsonaro, que consideraram sua postura autoritária. Fernandes afirmou que a aproximação com Ciro havia sido discutida diretamente com Bolsonaro antes da prisão do ex-presidente. Segundo o deputado, “no dia 29 de maio, Bolsonaro pediu que ligássemos para Ciro no viva-voz”, defendendo que o acordo teria sido acertado naquele momento.

Santa Catarina registra novo confronto entre Michelle e família Bolsonaro

Em Santa Catarina, a disputa é semelhante. Michelle apoia a candidatura da deputada Caroline de Toni (PL-SC) ao Senado. Porém, a vaga do PL no estado está reservada a Carlos Bolsonaro, e a outra vaga da coligação está destinada ao senador Esperidião Amin (PP-SC). Mesmo assim, Michelle fez manifestações públicas em favor de Caroline.

A posição da ex-primeira-dama foi reforçada pela deputada Ana Campagnolo (PL-SC), presidente do PL Mulher no estado, que afirmou que Caroline estaria sendo preterida porque a candidatura ao Senado seria “dada” a Carlos Bolsonaro. A reação dos filhos de Jair Bolsonaro foi imediata: Carlos chamou Campagnolo de “mentirosa”, e Eduardo acusou a deputada de confrontar o “líder maior”, em referência ao ex-presidente, que teria determinado a candidatura do irmão.

Para aliados da família Bolsonaro, essa articulação reforça a percepção de que Michelle busca ampliar uma base pessoal de apoio, competindo diretamente com decisões do núcleo familiar.

No Distrito Federal, apoio de Michelle tensiona relação com aliados

O Distrito Federal também passou a integrar o mapa das divergências. Michelle apoia a candidatura de Bia Kicis (PL-DF) ao Senado, contrariando aliados próximos da família Bolsonaro, como o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), que demonstra interesse na mesma vaga. O movimento é visto por parlamentares como mais um passo na formação de um grupo político próprio dentro do PL.

Dirigentes do PL veem estratégia para formar bloco próprio no Senado

Lideranças do PL afirmam que as escolhas de Michelle seguem critérios de fidelidade pessoal e não apenas de alinhamento ideológico. A avaliação recorrente entre dirigentes citados pela Folha é de que a ex-primeira-dama trabalha para formar um bloco feminino no Senado que lhe dê sustentação própria e influência nacional.

Segundo essas lideranças, o crescimento desse grupo poderia alterar o equilíbrio interno do bolsonarismo, especialmente em um momento em que Flávio Bolsonaro enfrenta limitações políticas devido ao impacto da prisão de Jair Bolsonaro sobre sua capacidade de articulação.

A análise interna é de que Michelle busca ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente, tornando-se uma figura central nas decisões estratégicas e influenciando diretamente chapas regionais. Embora o PL reconheça a força eleitoral de Michelle, dirigentes afirmam que suas intervenções recentes acirraram disputas com parlamentares e com a própria família Bolsonaro.

Cenário aponta fragmentação no campo bolsonarista

Os episódios no Ceará, Santa Catarina e Distrito Federal expõem um processo de fragmentação entre grupos que orbitam o bolsonarismo. As divergências envolvem lideranças regionais, deputados federais, senadores e integrantes do núcleo familiar de Jair Bolsonaro.

Michelle Bolsonaro passou a ser descrita, por dirigentes do PL, como protagonista de um projeto político próprio que tenta se consolidar em meio ao enfraquecimento institucional do ex-presidente. A movimentação ocorre paralelamente a cenários em que Michelle é tratada como possível candidata nacional em 2026, embora publicamente ela negue intenção de disputar cargos majoritários.

A tendência, segundo parlamentares consultados pela Folha, é que os conflitos internos continuem à medida que as definições eleitorais avançarem e os estados consolidarem as chapas majoritárias. O PL deve intensificar negociações nas próximas semanas para tentar reduzir tensões e evitar novos embates públicos entre Michelle, lideranças regionais e a família Bolsonaro.


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