PF prende presidente da Alerj e expõe relações espúrias do estado com o crime organizado

REPRODUÇÃO

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (3) o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, durante a Operação Unha e Carne. A ação teve como alvo um suposto esquema de vazamento de informações sigilosas que, segundo as autoridades, teria prejudicado investigações anteriores sobre a atuação de uma organização criminosa no estado. As informações são do G1.

A PF afirma que “a atuação de agentes públicos envolvidos no vazamento de informações sigilosas culminou com a obstrução da investigação realizada no âmbito da Operação Zargun”. A nova operação cumpriu um mandado de prisão preventiva, oito mandados de busca e apreensão e um mandado de intimação com medidas cautelares, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A ofensiva amplia o cerco a conexões entre grupos criminosos, agentes políticos e servidores públicos no Rio de Janeiro — um eixo investigativo que tem avançado em várias frentes nos últimos meses.


Caso TH Joias e suspeita de infiltração no poder público reacendem alerta

As autoridades também relembraram a prisão de Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, detido em 3 de setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de intermediar a compra de armamentos e acessórios para o Comando Vermelho (CV).

Na ocasião, TH foi alvo de duas operações simultâneas, com mandados expedidos tanto pelo Tribunal Regional Federal (TRF-2) quanto pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Para o Ministério Público do Rio (MPRJ), o parlamentar utilizou seu mandato para favorecer a facção, inclusive nomeando aliados para cargos na Alerj.

A PF já havia identificado, em investigações anteriores, “um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos”. O suposto vazamento que motivou a Operação Unha e Carne teria permitido que integrantes da organização se antecipassem a medidas policiais.


Operação Zargun: interceptada por vazamentos e marcada por prejuízos às investigações

O suposto vazamento está relacionado à Operação Zargun, cuja execução previa 18 mandados de prisão preventiva, 22 mandados de busca e apreensão e o sequestro de R$ 40 milhões em bens, autorizados pelo TRF-2. A investigação, conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF e pelo Ministério Público Federal, buscava desarticular uma estrutura criminosa com capilaridade dentro e fora das comunidades do Rio.

Segundo os investigadores, a facção mantinha uma atuação altamente organizada. “A organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais”, informou a PF.

Os investigados podem responder por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.


Operação Bandeirante amplia denúncias e expõe ramificações do grupo criminoso

Outra frente de apuração, a Operação Bandeirante, levou o MPRJ a denunciar TH Joias e outras quatro pessoas por associação para o tráfico e comércio ilegal de armas de uso restrito. A denúncia aponta vínculos estabelecidos com o Comando Vermelho em territórios como Maré, Complexo do Alemão e Parada de Lucas.

O grupo é acusado de intermediar negociações de armas, drogas e equipamentos antidrones, além de movimentar grandes quantias em espécie para financiar atividades da facção. O procurador-geral de Justiça do estado, Antonio José Campos Moreira, apresentou a denúncia ao Órgão Especial do TJRJ, que autorizou quatro mandados de prisão e cinco mandados de busca e apreensão.

As diligências ocorreram em Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana, reforçando o alcance territorial das operações.


PF, MPF, Polícia Civil e MPRJ unem forças na Ficco/RJ

A operação desta quarta-feira integra a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Rio (Ficco/RJ), composta pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Polícia Civil do Rio e Ministério Público do Estado. A força-tarefa tem concentrado esforços para identificar, mapear e interromper relações entre agentes públicos e grupos criminosos que atuam em áreas estratégicas da administração estadual.

A participação de agentes políticos, como o presidente da Alerj, no esquema investigado, amplia a gravidade do caso e reforça a preocupação das autoridades com a capacidade de infiltração da organização criminosa nas estruturas do Estado.


Cenário político do Rio é impactado e investigações devem se aprofundar

A prisão de Rodrigo Bacellar tem potencial para gerar repercussões políticas imediatas no Rio de Janeiro. Como presidente da Alerj, ele exerce papel central na articulação legislativa e na interlocução com o governo estadual. A investida da PF abre questionamentos sobre a extensão das ligações entre agentes públicos e grupos criminosos, além de ampliar o foco das investigações.

Fontes do Ministério Público e da PF avaliam que novas etapas da operação devem ocorrer nas próximas semanas, com possíveis desdobramentos envolvendo servidores, parlamentares e outros intermediários do esquema.

A expectativa é de aprofundamento das apurações que envolvem tanto o suposto vazamento da Operação Zargun quanto a rede de proteção política mantida em benefício do Comando Vermelho.


Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.