Prisão de Bacellar provoca disputa pelo comando da Alerj e abre crise política às vésperas de decisões no TSE

A prisão de Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), desencadeou uma intensa movimentação política entre as principais lideranças da Casa. Segundo O Globo, já há tendência entre deputados para tentar reverter a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada na quarta-feira (3) pelo ministro Alexandre de Moraes. Interlocutores de três partidos afirmam que persiste dúvida sobre o retorno de Bacellar ao plenário, mesmo que a prisão seja revogada, devido ao impacto institucional e às incertezas jurídicas.

A decisão do STF determinou apenas o afastamento da presidência da Alerj, sem mencionar perda de mandato, o que abriu espaço para diferentes interpretações sobre quem deve assumir o comando da Casa. O caso expôs uma disputa interna que envolve cálculos eleitorais, precedentes regimentais e o futuro político do governador Cláudio Castro (PL).


Delaroli conduz sessão e aguarda notificação formal; defesa deve ser enviada em até 48 horas

Com a ausência de Bacellar, o vice-presidente da Alerj, Guilherme Delaroli (PL) — aliado do dirigente afastado — conduziu a sessão plenária de quarta-feira sem permitir manifestações sobre a prisão. A Assembleia deve receber a notificação oficial da decisão de Moraes até esta quinta-feira (4).

Após o recebimento do documento, o regimento da Alerj garante 48 horas para que a defesa de Bacellar seja entregue à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que precisa emitir parecer antes da votação em plenário. A decisão final, votada de forma aberta, definirá se o deputado permanece preso ou retorna ao mandato.

Mesmo que a maioria dos deputados opte por derrubar a prisão, lideranças afirmam que o STF pode impor novas medidas cautelares, o que prolongaria a incerteza sobre seu eventual retorno ao exercício legislativo.


Vacância e sucessão dividem a Casa: regimento exige eleição, mas precedente aponta para recondução automática

O regimento da Alerj determina que, havendo vacância, uma nova eleição para a Mesa Diretora deve ocorrer no prazo de cinco sessões. Para o deputado Carlos Minc (PSB), líder do partido na Casa, a manutenção da prisão automaticamente levaria à escolha de um novo presidente.

Minc argumenta ainda que a eventual liberação de Bacellar pode gerar forte repercussão política, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nas próximas semanas o julgamento do caso Ceperj, no qual a relatora já votou pela cassação dos mandatos do presidente afastado da Alerj e do governador Cláudio Castro.

Nos bastidores, porém, líderes de outros dois partidos avaliam que, se a prisão for revogada, há espaço para que Delaroli assuma como presidente em exercício até o fim do mandato, sem necessidade de nova eleição. O argumento se baseia em um precedente de 2017: após a Operação Cadeia Velha, o afastamento de Jorge Picciani foi interpretado como não configurando vacância, e a presidência passou ao vice, Wagner Montes.

Meses depois, Montes se licenciou por motivos de saúde, e o cargo foi ocupado pelo segundo vice, André Ceciliano (PT), que comandou a Casa até o fim de 2018 sem nova eleição.


PL se move para assumir o comando: Douglas Ruas ganha força

Apesar do precedente, parte da Alerj avalia que Delaroli não teria “perfil” para conduzir a Casa em meio à crise. O PL, maior bancada, trabalha para consolidar um nome próprio no comando da Assembleia. A sigla articula para que o atual secretário de Cidades, Douglas Ruas — licenciado do cargo de deputado estadual — seja eleito presidente caso a vacância seja oficializada.

Ruas e Delaroli pertencem ao grupo político do deputado federal Altineu Côrtes, que exerce forte influência em São Gonçalo e Itaboraí, aproximando o PL do núcleo de poder estadual.

Essa movimentação ocorre paralelamente às preocupações do governador Cláudio Castro. Para disputar o Senado em 2026, ele precisará renunciar até abril daquele ano. Nesse cenário, caberá à Alerj eleger um governador-tampão, o que torna o controle da presidência estratégico.

Aliados do governador temiam que Bacellar, com quem Castro tem relação desgastada, pudesse conduzir o processo de forma desfavorável. Emplacar um presidente da Alerj alinhado ao Palácio Guanabara garantiria maior segurança para o projeto eleitoral do chefe do Executivo.

Entre os nomes cotados para assumir o governo-tampão está Nicola Miccione, secretário de Casa Civil e figura de confiança de Castro, que mantém diálogo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) — possível candidato ao governo estadual em 2026.


Acusações contra Bacellar ampliam gravidade da crise política

Rodrigo Bacellar foi preso na Operação Unha e Carne, por suspeita de vazar informações sigilosas da Operação Zargun, deflagrada em setembro. A PF afirma que o parlamentar avisou TH Joias, investigado por tráfico, corrupção e lavagem de dinheiro, sobre mandados que seriam cumpridos no dia seguinte.

Principais acusações:

  1. Vazamento de informações sigilosas
    Moraes afirma que Bacellar teria informado TH Joias sobre mandados de prisão e busca, orientando-o a destruir provas. O deputado deixou sua casa “completamente revirada”, usando caminhão-baú para retirar objetos.
  2. Obstrução de investigações criminais
    O ministro cita “fortes indícios” de que Bacellar atuava para proteger o Comando Vermelho e interferir em apurações no âmbito estadual.
  3. Relação com organização criminosa
    A decisão do STF menciona indícios de que Bacellar integraria estrutura criminosa que buscava acesso a dados e proteção institucional.
  4. Circunstâncias da prisão
    Bacellar foi detido ao comparecer a uma suposta reunião na sede da PF; teve o celular apreendido e transportava R$ 90 mil no carro.
  5. Mandados de busca e apreensão
    O gabinete do deputado na Alerj foi alvo de busca autorizada pelo STF, ampliando o escopo da investigação.

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