Alcolumbre recua e faz gesto de reconciliação com Lula após crise sobre STF e disputa por orçamento

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ensaiou nesta sexta-feira (5) um movimento público de reaproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após dias de tensão entre os dois Poderes. O gesto ocorreu durante a inauguração do primeiro Centro de Radioterapia do Amapá, em Macapá, evento que contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

O aceno veio em meio ao clima ainda tenso provocado pela escolha de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF), decisão tomada por Lula e que contrariou a preferência de Alcolumbre pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A indicação provocou irritação no Senado, acentuou divergências internas e abriu um novo capítulo na disputa por influência sobre a composição do Judiciário.

Durante seu discurso, Alcolumbre pediu que Padilha transmitisse uma mensagem direta ao presidente. “Padilha, muito obrigado. Leve meus agradecimentos, pessoal e institucional, ao presidente da República, que tem nos apoiado e apoiado o Amapá a todo instante”, afirmou. O senador destacou ainda a atuação do governo em regiões historicamente vulneráveis. “Os meus agradecimentos ao presidente Lula pela sensibilidade, pelo compromisso e pelo espírito público, muito especialmente com todos os brasileiros, mas de maneira muito carinhosa com o Norte e com o Nordeste que vive um abismo gigantesco do ponto de vista social e humano.”

A fala marcou uma inflexão no discurso adotado nos últimos dias pelo presidente do Senado, que vinha endurecendo posições diante do Planalto.

O evento no Amapá celebrou a entrega do primeiro Centro de Radioterapia do Estado, que recebeu investimento de R$ 17 milhões do Ministério da Saúde. A presença do ministro Padilha foi citada por Alcolumbre como demonstração de que o governo federal não abandonou a região. “A sua presença aqui é a presença do estado brasileiro, que nunca faltou ao povo do Amapá”, disse.

O gesto ocorre em momento considerado sensível pelo Palácio do Planalto, que busca reduzir tensões com o Congresso para avançar na pauta econômica, nas nomeações ao STF e em projetos estruturais.

Crise recente: críticas de Lula ao Orçamento reacenderam atrito

A aproximação ensaiada nesta sexta-feira surgiu menos de 24 horas após um novo episódio de atrito entre Alcolumbre e Lula. Na quinta-feira (4), durante reunião do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável), Lula afirmou que as emendas impositivas representam um “sequestro” de 50% do Orçamento da União. A declaração contrariou parlamentares e irritou particularmente Alcolumbre, que recebeu telefonemas de aliados demonstrando desconforto.

Segundo relatos, um senador ligado ao governo ligou para André Ceciliano, secretário especial de Assuntos Parlamentares, e passou o telefone ao presidente do Senado para que ele ouvisse diretamente a repercussão da fala de Lula. Irritado, Alcolumbre teria questionado “que sequestro” seria aquele, lembrando que tem atuado para aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) nos termos defendidos pelo Executivo.

O senador também tem se movimentado na proposta que envolve a reestruturação dos Correios, considerada fundamental pelo Ministério da Fazenda para evitar cortes no Orçamento de 2026. A articulação é vista dentro do governo como demonstração de que Alcolumbre continua sendo ator decisivo para a agenda fiscal.

Tensão em torno da indicação ao STF permanece no horizonte

Apesar do gesto de conciliação, interlocutores avaliam que o clima ainda está longe da normalidade. A indicação de Jorge Messias ao STF, publicada no Diário Oficial em 20 de novembro, contrariou preferências internas no Senado e expôs fissuras entre governo e parlamentares. Alcolumbre defendia abertamente o nome de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, como sucessor da ministra Rosa Weber.

A decisão de Lula foi interpretada como um recado de que o Planalto não pretende abrir mão de protagonismo nas escolhas para o Supremo, movimento que desagrada segmentos do Legislativo. A sabatina de Messias está marcada para 10 de dezembro, mas a própria tramitação ainda depende do envio da mensagem oficial pelo presidente, o que o governo tem adiado diante do cenário político adverso.

Planaltos e Senado sinalizam busca por redução de conflitos

O gesto de Alcolumbre é visto dentro do governo como um indicativo de que, apesar dos embates, ainda há espaço para recompor pontes. Aliados de Lula acreditam que a aproximação deve facilitar negociações sobre a pauta orçamentária e reduzir resistências para votações previstas até o fim do ano.

Nos bastidores, porém, parlamentares avaliam que o movimento tem limite. Senadores afirmam que continuarão a cobrar mais protagonismo nas decisões do Executivo, sobretudo em temas considerados sensíveis, como nomeações, distribuição de recursos e reformas estruturais.

Para auxiliares de Lula, evitar que a crise se arraste será fundamental para garantir estabilidade institucional e assegurar aprovações estratégicas no Senado durante os próximos meses.


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