Ser flamenguista é acordar com a sensação de que algo épico aconteceu — mesmo quando você ainda está lembrando onde deixou o chinelo. E, quando o assunto é Mengão, o resto do Brasil finge que não vê, mas sente. O texto abaixo explica… ou piora. Depende do time que você torce
Por Rollo — mais afiado que comentarista improvisado no Maracanã, mais ácido que torcedor adversário despeitado no pós-jogo, e trazendo verdades que entram de carrinho sem pedir licença
Tem gente que acorda cedo pra correr, meditar, tomar água com limão ou fazer alongamento na varanda. Eu? Não. Eu acordo para um ritual muito mais elevado espiritualmente: abrir as redes sociais e rever os vídeos da vitória do Flamengo na Libertadores. Aquilo é meu yoga, meu mantra, meu ASMR rubro-negro: aquele arrepio gostoso que desce pela cabeça, passa pelo pescoço e invade a alma como se dissesse: “Calma. Respira. Você torce pro Flamengo. Seu dia já deu certo.” E agora, com o Brasileirão 2025 no bolso, o rubro-negro acorda no modo iluminado: feliz, invencível e com a coluna alinhada só de pensar no Mengão levantando mais uma taça.
O FLAMENGO NÃO GANHA SÓ JOGO: ELE MOVIMENTA A ECONOMIA, O HUMOR E ATÉ O CLIMA
Ser flamenguista vai muito além de futebol. É identidade, cultura, autoestima nacional e, sobretudo, macroeconomia emocional. Quando o Fla ganha, até a inflação fica acanhada. O comércio vende mais. O carioca flutua nas calçadas. E a cerveja evapora dos freezers como verdade universal. O Brasil inteiro entra num feriado emocional coletivo.
O IBGE não confirma, mas o coração do brasileiro confirma. Quem vive no Rio sabe: quando o Mengão vence, a cidade sorri com os dentes todos. Os hotéis lotam, os bares tremem de felicidade, os camelôs fazem mais gol que muito centroavante. Até o vendedor de bandeira na calçada vira PhD em economia do dia pra noite — e com razão. E agora, com a Libertadores e o Brasileirão no mesmo ciclo, o carioca está oficialmente proibido de reclamar de qualquer coisa até segunda ordem divina.
VITÓRIAS QUE VIRARAM PATRIMÔNIO EMOCIONAL (SEGUNDO A CONSTITUIÇÃO AFETIVA DO RUBRO-NEGRO)
Quem vive o Flamengo carrega na memória noites que viraram acontecimentos nacionais — porque, como ensinou o tricolor mais rubro-negro da História, Nelson Rodrigues, “o futebol é a pátria de chuteiras.” E é por isso que ele completava: “Cada brasileiro, vivo ou morto, já foi Flamengo por um instante, por um dia.” E a noite de 1981 é uma delas. Zico, Nunes e Júnior transformaram o país numa bandeira viva — e Nelson estava certo ao dizer: “O sujeito que não for pelo menos um dia Flamengo, não viveu.” Em 2019, no “Milagre de Lima”, dois gols em três minutos fizeram o planeta prender o fôlego pra ouvir Gabi Gol. Era o momento perfeito para outra frase rodrigueana: “O Flamengo se deixa amar à vontade.”
A conquista de 2022 trouxe o prazer conhecido — aquele abraço emocional que só o Mengão sabe dar. E Nelson reforça: “Quando o Flamengo espirra, é o futebol brasileiro que fica resfriado.” E agora, em 2025, o tetra da Libertadores chegou coroado com mais um título brasileiro, reafirmando que o Flamengo é protagonista até quando pisa no freio. A camisa rubro-negra, como Nelson profetizou, é quase uma entidade autônoma: “Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco.” E para completar o capítulo carioca obrigatório: “Flamengo e Fluminense são os irmãos Karamázov do futebol brasileiro.” Mas hoje não tem duelo filosófico: Hoje é festa. É tetra. É tri (de novo). É orgulho.
NEM ELEIÇÃO, NEM NATAL, NEM FINAL DE NOVELA: NINGUÉM UNE O BRASIL COMO O FLA
O Flamengo tem uma capacidade quase diplomática: unir pessoas que não concordam nem sobre o ponto do feijão. Esquerda, direita, centro, subsolo… tudo se abraça no grito de “É campeão!” Isso é gatilho de pertencimento no modo turbo: fazer parte de algo maior que política, geografia e ciências exatas. É também autoridade: o Fla não precisa provar nada — ele só entra em campo e assina presença. E, claro, propósito: torcer pelo Flamengo é projeto de vida, missão civilizacional e equilíbrio emocional do país.
Leo Novais, criador e presidente da torcida organizada Fla Roots desde 2007, descreve o Flamengo com a precisão científica de quem já perdeu anos de vida por causa de um escanteio mal batido. Para ele, o Mengão é basicamente um MBA emocional: “Flamengo é capaz de levar o sujeito literalmente do céu ao inferno com sua performance. Nas vitórias trabalhamos melhor, tratamos melhor nossos familiares e o dia se torna leve e feliz. Na derrota parece que o mau-humor impera, mas nunca deixamos de sonhar com a vitória do próximo jogo e nunca abandonamos o time.” É a filosofia pura do torcedor raiz: sofrer, sorrir, surtar — e seguir firme, porque largar o Manto nunca fez parte do contrato emocional.
Já Eduardo Bandeira de Mello — que presidiu o Flamengo entre 2013 e 2018, tirou o clube da UTI financeira, transformou o Mengão numa multinacional da alegria e hoje é deputado federal pelo PSB — fala com a calma de quem já atravessou o furacão rubro-negro e voltou com o cabelo no lugar: “O Flamengo não chega ao topo por acidente. Chega porque é grande, porque é povo e porque, ao longo dos anos, aprendeu a transformar paixão em projeto. Eu vivi isso por dentro. Com uma equipe altamente competente soube o que é carregar um clube dessa magnitude nas costas e, ao mesmo tempo, ser carregado por milhões.” É a síntese perfeita: no Flamengo, ninguém carrega nada sozinho — nem taça, nem crise, nem vitória. No fim, o Maracanã reparte tudo.
E o São Cristóvão nessa? Padroeiro dos viajantes, deve olhar pro Flamengo e pensar: “meu Deus, lá vai esse povo de novo me dar trabalho”. Porque, convenhamos, proteger rubro-negro em dia de final é função de santo com pós-graduação. Ele carrega no colo não só quem vai de ônibus, de moto, de Uber ou de jegue pro Maracanã, mas toda uma Nação que viaja emocionalmente a cada ataque, a cada chute e a cada taça levantada. É santo, é blindagem espiritual e é tipo aquele amigo que sempre te leva pra casa mesmo quando você já está no nível “não lembro quem fez o gol, mas sei que o Mengão ganhou”. São Cristóvão é o GPS emocional do torcedor — recalcula rotas, segura a onda e ainda dá aquele empurrãozinho divino quando o Flamengo decide ganhar tudo ao mesmo tempo.
O CENSO RUBRO-NEGRO: A MAIOR PESQUISA ESPONTÂNEA DO PLANETA TERRA
E aí chega o momento mais científico do Brasil: o Censo Rubro-Negro, realizado toda manhã seguinte aos jogos do Mengão. Basta sair de casa: é no ônibus, é no metrô, é na praia, é na feira, é no SUS, é na fila da lotérica — está todo mundo de Manto. É espontâneo, é estatístico, é sociológico: do Acre à Paraíba, do Mato Grosso ao Amapá, do subúrbio ao mundo… a Nação aparece. Faça seu teste: conte quantos flamenguistas aparecem no caminho pro trabalho. Se der menos de 30, é porque você acordou cedo demais. Isso não é torcida. Isso não é grupo. Não é segmento. E não é facção. É o maior fenômeno sociológico do país em movimento.
A INVEJA CONFIRMA. AS TAÇAS TAMBÉM
E agora, com o tetra da Libertadores na mão e o Brasileirão de 2025 na estante, fica ainda mais gostoso repetir aquilo que os detratores, os despeitados e os fiscais de Flamengo vivem dizendo — às vezes rangendo os dentes, às vezes com aquela invejazinha que não disfarça: “O Fla é isso, o Mengão é aquilo, é isso e aquilo.” E é mesmo! Podem falar. Devem falar. Porque é mesmo. E, além de ser tudo isso que eles reclama… o Flamengo é tetra na Libertadores. E Campeão brasileiro de 2025.