Nova doutrina de segurança de Trump vê a América Latina como quintal dos EUA

O presidente Donald Trump aperta a mão do secretário de Defesa Pete Hegseth ao chegar para falar com líderes militares seniores na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico em 30 de setembro de 2025, em Quantico, Virgínia. Andrew Harnik/Getty Images

O governo de Donald Trump lançou, na madrugada de 5 de dezembro de 2025, sua nova Estratégia de Segurança Nacional (NSS), um documento que formaliza uma visão perigosa e agressiva para a América Latina. A nova política, batizada de “Corolário Trump”, ressuscita a Doutrina Monroe e retoma, sem disfarces, a ideia de que o continente é o “quintal” dos Estados Unidos.

O texto deixa claro que o objetivo principal é restabelecer a hegemonia total dos EUA no hemisfério. A segurança das fronteiras americanas é elevada a “elemento primário da segurança nacional”, um pretexto para justificar ações em toda a região.

Um dos alvos centrais desta nova doutrina é a China. O documento exige que qualquer ajuda ou aliança com países latino-americanos seja “contingente à redução da influência externa adversária”, uma referência direta a Pequim.

Esta política representa uma ameaça direta às economias da região. A China é hoje a principal parceira comercial de gigantes como Brasil, Chile e Peru, com investimentos massivos em infraestrutura crítica, como o Porto de Chancay no Peru, construído com US$ 1,3 bilhão chinês e inaugurado em 2024. Pequim também está comprometida com a construção da ferrovia transoceânica de 4.400 km que ligará o litoral atlântico brasileiro ao Pacífico, permitindo ao Brasil exportar diretamente para a China e importar produtos chineses por uma nova rota estratégica.

A nova estratégia de Trump busca reverter essa realidade através de pressão e coerção. O documento fala em usar o poderio americano para garantir “oportunidades estratégicas de aquisição e investimento para empresas americanas na região”, um eufemismo para a exclusão forçada da concorrência chinesa.

O perigo não é apenas econômico, mas também militar. O Corolário Trump prevê uma expansão da presença da Guarda Costeira e da Marinha para “controlar rotas marítimas”, um sinal claro da disposição para usar a força para impor seus interesses e conter a migração.

Essa postura belicista intensifica as tensões já existentes. A asfixia econômica sobre Cuba deve aumentar, e a pressão sobre a Venezuela, já sob forte sanção, pode escalar para justificar intervenções sob o pretexto de combater o narcotráfico.

Para o Brasil e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cenário é de imenso desafio. A política externa brasileira, que busca a multipolaridade e a cooperação Sul-Sul, entra em rota de colisão direta com a visão unipolar e dominadora de Trump.

O Itamaraty terá a difícil tarefa de navegar entre a manutenção de sua soberania e a pressão de uma superpotência que não aceita mais a presença de rivais em sua área de influência. A nova doutrina de Trump não é apenas um documento; é uma declaração de que a era da diplomacia cooperativa acabou, e a América Latina está, mais uma vez, sob a mira do “Grande Porrete”.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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