O novo Datafolha, divulgado em 5 de dezembro, registrou aprovação de 49% e desaprovação de 48% para o presidente Lula. Pela primeira vez desde abril de 2024, quando o instituto começou a publicar o indicador binário, a aprovação superou a desaprovação.
Para esclarecer: indicador binário mede aprovação versus desaprovação. Até então, o Datafolha utilizava apenas o indicador trinário, que divide a avaliação em três categorias: ótimo e bom, regular, e ruim e péssimo.
Ainda na sexta, o instituto divulgou os detalhes dos estratos desse indicador trinário.
Nos números trinários gerais: 32% consideram a gestão ótimo/bom, 30% a veem como regular e 37% a avaliam como ruim/péssimo. Para atingir os 49% de aprovação binária, os 32% de ótimo/bom precisam de 17 pontos do regular. Para alcançar os 48% de desaprovação, os 37% de ruim/péssimo precisariam de 11 pontos do regular.
Isso significa que a nota regular, na atual conjuntura, tem um viés mais positivo do que negativo para o governo, o que é uma conclusão igualmente intuitiva, pois num cenário extremamente polarizado, quem dá nota média é porque se inclina mais para a aprovação do que para rejeição.
Quando se desagregam esses números por estratos, temos algumas surpresas bastante positivas para o governo.
Entre os homens, o ótimo/bom chegou a 32% em dezembro, alta de 8 pontos sobre os 24% em fevereiro. A desaprovação recuou de 44% para 39%. O regular ficou em 28%. Essa melhora entre os homens é muito boa para Lula porque esse é o estrato onde a direita tem obtido seus melhores resultados. Se o petista vem melhorando entre homens, isso significa automaticamente enfraquecimento do bolsonarismo.
Ademais, pela minha experiência, já identifiquei que a opinião dos homens costuma antecipar tendências gerais, porque os homens são um pouco mais engajados politicamente e, portanto, captam primeiro os movimentos de suas respectivas classes.
Na faixa de 2 a 5 salários mínimos, que representa aproximadamente um terço do eleitorado, e que é particularmente estratégica do ponto-de-vista político por apresentar abstenção mais baixa que a faixa de renda inferior, a aprovação saltou de 17% em fevereiro para 29% em dezembro. A desaprovação nessa faixa recuou de 47% em setembro para 39% em dezembro.
Entre aqueles que ganham de 5 a 10 salários mínimos, a rejeição está em 53%. Em julho, era 62%.
Essa melhora junto a classe média também é um bom sinal, porque tem sido exatamente a partir desse segmento que o famigerado “antipetismo” mais se expandiu nos últimos anos, contaminando outras classes. O fenômeno bolsonaro, por exemplo, eclodiu em 2026 ou 2017 a partir dessa classe média.
Se a aprovação de Lula melhora nesse estrato, portanto, isso pode significar que o antipetismo está perdendo força na sociedade.
Na faixa acima de 10 salários mínimos, a desaprovação também recuou fortemente de 63% para 40%. O “regular” passou de 16% em julho para 33% em dezembro. A aprovação ficou em 27%.
Apesar do número de eleitores nessa faixa não ser muito expressivo (em torno de 4% do eleitorado), aqui também vale o raciocínio usado anteriormente sobre a classe média: se a rejeição de Lula perde força nesse segmento, isso significa que o antipetismo também está se diluindo numa faixa com influência muito forte na opinião pública.
Entre evangélicos, a desaprovação recuou de 55% para 49%. O ótimo/bom permaneceu em 21%. O regular subiu para 30%. Nessa faixa, particularmente atingida pela polarização, também se pode aplicar o raciocínio de que o aumento dos eleitores evangélicos que dão nota regular é um bom sinal para o governo.
Entre pessoas negras, a desaprovação recuou de 40% em fevereiro para 27% em dezembro. A aprovação chegou a 38%. O regular agora está em 34%.
No Centro-Oeste e Norte, que representam 16% do eleitorado, a desaprovação recuou para 40%, ante 48% em fevereiro. O ótimo/bom subiu para 30%.
No Nordeste, que representa 26% do eleitorado, a aprovação segue estável, num patamar elevado, com 43% de ótimo/bom e apenas 24% de ruim/péssimo. As boas notas de Lula na região significa que a oposição terá dificuldade de emplacar seus candidatos, como estão tentando fazer, por exemplo, no Ceará.
No Sudeste, que representa 46% do eleitorado e é a região mais populosa do país, a desaprovação (ruim/péssimo) recuou de 45% em junho para 40% em dezembro. O ótimo/bom está em 29%. Qualquer melhora nessa região tem efeito muito grande na avaliação nacional.
No Sul, a região onde o antipetismo mais se incrustrou, houve uma importante queda na rejeição ao governo Lula, com as notas ruim/péssimo caindo de 52% do eleitorado para 45% em dezembro. A nota ótimo/bom registrou melhora de 6 pontos desde julho, passando de 19% para 25%.
A tendência positiva dos números de avaliação de governo pode ser confirmada pela liderança confortável de Lula nas intenções de voto para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2026, segundo o próprio Datafolha.
O declínio da rejeição entre os estratos onde o antipetismo mais havia se consolidado pode abrir caminho para o governo reconstruir sua aprovação nos próximos meses.