Era pegadinha

Flávio Bolsonaro mantém pré-campanha apesar de polêmica / Agência Brasil

Comentário de Flávio gera especulação, mas condição se revela inviável; A reação negativa do mercado e a resistência interna testam a viabilidade da pré-campanha, que segue ancorada na dinâmica familiar e na estratégia do bolsonarismo


O gesto que movimentou bastidores políticos no fim de semana acabou tendo um desfecho inesperado. A declaração de Flávio Bolsonaro de que haveria um “preço” para desistir de sua recém-anunciada pré-candidatura à Presidência — frase que foi tratada por analistas como sinal de recuo precoce — revelou-se, na prática, uma pegadinha. Segundo o próprio senador, a única condição para abrir mão da disputa seria ver o pai, Jair Bolsonaro, “livre, nas urnas”, algo descrito até por aliados como uma hipótese praticamente impossível. Ou seja: tratava-se de uma brincadeira feita pelo primogênito, e não de uma desistência real. Na avaliação dele, sua pré-candidatura segue firme, e só deixaria o páreo caso fosse substituído pelo próprio pai.

Senador diz que só sai se o pai puder concorrer

Em entrevista ao Domingo Espetacular, da Record, neste domingo (7), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reforçou que não pretende abandonar o projeto para 2026. Ele reafirmou que o “preço” para deixar o caminho livre a outro nome seria uma única situação: Jair Bolsonaro poder estar “livre, nas urnas”. Condenado por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente cumpre pena de 27 anos e está inelegível.

“Meu preço é justiça. E não é só justiça comigo, é justiça com quase 60 milhões de brasileiros que foram sequestrados, estão dentro de um cativeiro, nesse momento, junto com o presidente Jair Messias Bolsonaro. Então, óbvio que não tem volta. A minha pré-candidatura à Presidência da República é muito consciente”, declarou o senador.

Questionado sobre a possibilidade de uma anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro levá-lo a recuar, Flávio disse que a única coisa que o faria desistir é ver o pai “no páreo das eleições”.

Primeiro ato público e declarações enigmáticas

Na manhã de domingo, o senador participou de um culto evangélico em Brasília — seu primeiro evento público desde o anúncio da pré-candidatura. Cercado por apoiadores, disse que havia “uma possibilidade” de não levar o projeto até o fim e que tinha “um preço” para isso. Ao ser questionado se a condição estaria ligada à votação da anistia, respondeu com ironia: “Tá quente, tá quente”.

Nos bastidores, a fala alimentou leituras de que a candidatura seria apenas um balão de ensaio — um teste para medir reações dentro da direita e do Centrão. Essas análises ganharam força especialmente entre aliados que preferem nomes mais competitivos, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Mas Flávio, mais tarde, tratou de desfazer as especulações.

Rejeição interna e baixa adesão nas pesquisas

O anúncio de Flávio, feito na sexta-feira (5), causou desconforto entre setores do Centrão e da direita. Para alguns, a escolha do senador contrariou expectativas de que a família apostaria em Michelle Bolsonaro ou Tarcísio, avaliados como mais fortes para 2026.

Pesquisa Datafolha divulgada no domingo reforça essa percepção: apenas 8% dos entrevistados acreditam que Flávio deveria ser o nome indicado por Jair Bolsonaro. Michelle e Tarcísio aparecem como preferências mais claras entre eleitores conservadores.

Na segunda-feira (8), Flávio inicia uma rodada de conversas com líderes do Centrão — Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Antonio Rueda, Marcos Pereira e Rogério Marinho. Na terça, visitará o pai, que acompanha as articulações de dentro da prisão.

“Agora é trazer as pessoas certas para o nosso lado”, afirmou. Segundo ele, o objetivo inicial é apenas ouvir e ser ouvido: “Nesse primeiro momento, vamos conversar, sem compromisso de absolutamente nada”.

Mercado reage mal, e Flávio tenta se reposicionar

A pré-candidatura foi oficializada após conversas familiares e aval do ex-presidente, que teria esperado o momento “certo” para liberar o anúncio. A reação imediata do mercado financeiro, porém, foi negativa: o Ibovespa virou para queda e recuou quase 2% após a divulgação.

Flávio disse que a reação era “natural”, mas precipitada. Em seguida, buscou apresentar uma imagem mais moderada — um “outro Bolsonaro”, como descreveu.

“A partir do momento que eu tenho a possibilidade de conhecerem um Bolsonaro diferente, muito mais centrado, que conhece a política, que conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”, afirmou.

Entre tensão e jogo político, a pré-campanha ganha contornos próprios

A pegadinha em torno do “preço” — que muitos interpretaram como desistência — acabou servindo como termômetro sobre a resistência interna à sua candidatura. Mas, pelo menos no discurso, Flávio Bolsonaro permanece decidido a seguir adiante.

Resta saber se conseguirá convencer aliados, eleitores e até o mercado de que seu nome tem força para se manter até o fim — ou se sua pré-campanha ficará limitada às negociações que, por ora, ainda se sustentam mais na dinâmica familiar do que na real viabilidade eleitoral.

Com informações de Domingo Espetacular e Veja.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.