O estudo destaca a importância das unidades territoriais hidrográficas como um recorte geográfico fundamental de análise ambiental e de planejamento. Além das divisões administrativas tradicionais, o instituto faz levantamento com dados sobre geologia, geomorfologia, solos, vegetação, cobertura e uso da terra e suscetibilidade a deslizamentos
Um retrato do país a partir das 12 Macrorregiões Hidrográficas é a proposta da publicação Território e Meio Ambiente – Estatísticas por Macrorregiões Hidrográficas lançada hoje (08) pelo IBGE. O recorte territorial é adotado como alternativa às divisões administrativas tradicionais para a divulgação de estatísticas, integrando dados sobre Geologia, Geomorfologia, Solos, Vegetação, Cobertura e Uso da Terra e Suscetibilidade a Deslizamentos, além de informações sobre extensão de Biomas e população residente em cada Macrorregião Hidrográfica.
“Com essa publicação o IBGE contribui com a perspectiva de olhar de forma integrada dados ambientais, demográficos e de uso da terra, a partir de uma delimitação espacial definida pela dinâmica hidrográfica do país”, explica Ivone Batista, Gerente de Contas e Estatísticas Ambientais do Instituto.
O estudo destaca a importância das unidades territoriais hidrográficas como um recorte geográfico fundamental de análise ambiental e de planejamento, de forma complementar aos recortes político-administrativos tradicionalmente utilizado para gerar estatísticas.
Fernando Dias, Gerente de Meio Ambiente e Geografia na Superintendência do IBGE em Santa Catarina, explica que “a divulgação de dados demográficos e ambientais em recortes diferentes dos usuais permite que novas dinâmicas territoriais e temporais sejam identificadas”.
As 12 Macrorregiões Hidrográficas (MacroRHs) apresentam grande diferença quanto à extensão territorial. A Amazônica, a do Tocantins-Araguaia e a do Paraná formam o conjunto mais extenso, respondendo, respectivamente, por 45,02%, 11,01% e 10,32% do território nacional – quase dois terços do Brasil somados. Na outra ponta, as menores regiões são a Atlântico Sul e a do Uruguai, cada uma com cerca de 2% da área do país. A distribuição populacional, porém, não acompanha essa abrangência territorial e, apesar da ampla extensão de algumas MacroRHs, a ocupação permanece historicamente concentrada em outras regiões.
Do ponto de vista demográfico, todas as MacroRHs têm predominância urbana, com destaque para Paraná e Atlântico Sudeste, onde mais de 93% da população vive em cidades. Essas duas regiões somam mais de 96 milhões de habitantes, o equivalente a 47,35% do total brasileiro. Já os menores quantitativos populacionais estão nas MacroRHs do Paraguai e do Uruguai, com pouco mais de 2,4 milhões e 4,2 milhões de habitantes, respectivamente, ambas marcadas por forte urbanização. Nas demais regiões – Amazônica, Atlântico Leste, Atlântico Nordeste Ocidental, Atlântico Sul, São Francisco e Tocantins-Araguaia – distribuem-se cerca de 35% dos brasileiros e brasileiras, revelando a persistente desigualdade espacial na ocupação do território.
Biomas e Macrorregiões Hidrográficas revelam mosaicos da paisagem brasileira
A análise da distribuição dos Biomas brasileiros pelas Macrorregiões Hidrográficas revela padrões distintos de ocupação e transição. O Bioma Amazônia predomina na MacroRH Amazônica, cobrindo 96,31% da área, e se estende a outras regiões, como Atlântico Nordeste Ocidental (54,27%), Tocantins-Araguaia (35,93%) e Paraguai (9,49%). Já o Cerrado, por sua ampla extensão e posição central no território, é o Bioma mais frequente, presente em 9 das 12 MacroRH, com destaque para Tocantins-Araguaia (64,07%) e Parnaíba (59,37%).
A Mata Atlântica é outro Bioma de grande relevância, predominando na MacroRH Atlântico Sudeste (99,75%) e ocupando proporções significativas na do Paraná (50,55%), Atlântico Leste (49,82%), Uruguai (49,30%) e Atlântico Sul (46,61%). A Caatinga, característica do sertão nordestino, cobre 87,88% da MacroRH Atlântico Nordeste Oriental e aparece na São Francisco (50,87%), Parnaíba (40,62%) e Atlântico Leste (39,91%). Biomas espacialmente mais restritos, como Pantanal e Pampa, ocorrem em regiões específicas: o Pantanal ocupa 41,77% da MacroRH Paraguai, enquanto o Pampa está presente nas MacroRH Atlântico Sul (53,15%) e Uruguai (50,67%).
“Com exceção das MacroRH Amazônica e Atlântico Sudeste, dominadas por um único Bioma, todas as demais apresentam ao menos duas formações, evidenciando complexos mosaicos ambientais. São Francisco, Paraguai e Atlântico Leste concentram a maior diversidade, integrando Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. A centralidade do Cerrado, presente na maioria das macrorregiões, contrasta com a distribuição mais concentrada de Biomas como Pantanal e Pampa. Esse panorama reforça a heterogeneidade das paisagens naturais do país a serem consideradas na gestão dos nossos recursos hídricos” analisa Fernando.
Diversidade de ecossistemas e mudanças no território revelam desafios para gestão ambiental
A diversidade fisiográfica do Brasil, refletindo a pluralidade de rochas, relevo, solos e vegetação, também influencia em grande medida na ocupação humana, assim como no uso da terra.
Cada MacroRH apresenta uma combinação singular de províncias estruturais, tipos de relevo, de solos e de vegetação. Na Amazônica, por exemplo, predominam Patamares (35,69%) e Depressões (28,71%), com Argissolos (40,21%) e Florestas Ombrófilas Densas (44,51%).
Na MacroRH Paraná, sob a província homônima, destacam-se Planaltos (68,98%) e Latossolos (52,91%), cobertos por Savanas (35,25%) e Florestas Estacionais Semideciduais (27,05%).
Na Atlântico Sudeste, Serras (33,45%) e declividades acentuadas sustentam Florestas Estacionais Semideciduais (51,56%) e Florestas Ombrófilas Densas (32,60%). É nessa MacroRH que se concentram as áreas de maior suscetibilidade a deslizamentos, somando 61,51% do território na classe Muito Alta, devido, principalmente, à predominância de relevos serranos. Esse aspecto também é percebido em menor extensão na Atlântico Sul (18,35%) e Atlântico Leste (15,56%).
Observando-se o mesmo aspecto, as MacroRHs Paraguai, Parnaíba e São Francisco apresentam baixa suscetibilidade, associada a formas de relevo mais planas, com 47,94%, 45,77% e 43,30%, respectivamente, de suas terras tipificadas na classe Muito Baixa.
No que diz respeito à dinâmica territorial, entre os anos 2000 e 2020, todas as MacroRHs estiveram sujeitas a alterações de cobertura e de uso da terra pelas atividades humanas, com um avanço das áreas consideradas antropizadas sobre aquelas consideradas naturais florestais e naturais não florestais.
Em termos proporcionais, o maior incremento de áreas antropizadas ocorreu na MacroRH Amazônica, as quais passaram de 264.896 km², em 2000, para 478.882 km², em 2020, o que representa um aumento de 80,78%. O menor avanço ocorreu na Atlântico Sudeste (1,61%), com suas áreas antropizadas passando de 164.964 km² para 167.627 km².
As maiores perdas, em termos proporcionais, de áreas naturais florestais e naturais não florestais ocorreram, respectivamente, nas MacroRHs do Tocantins-Araguaia e Paraná. Na primeira, a redução foi 28,67% (78.027 km²), enquanto na segunda, 27,75% (22.607 km²).
“Essa compreensão integrada de informações é essencial para reforçar a importância de considerar a pluralidade dos ecossistemas brasileiros, tanto para o planejamento territorial, quanto para a gestão de recursos hídricos e para a avaliação de riscos ambientais. As informações reunidas pelo IBGE oferecem subsídios técnicos valiosos para políticas ambientais e para o fortalecimento da contabilidade e estatística ambiental no Brasil”, conclui Ivone.
Além dos dados estatísticos, os usuários também podem consultar e baixar o recorte geográfico de Macrorregião Hidrográfica na página do Quadro Geográfico e na Plataforma Geográfica Interativa (PGI).
Destaques
- Recorte por Macrorregião Hidrográfica: O IBGE organiza dados ambientais e populacionais com base nas 12 Macrorregiões Hidrográficas, reunindo informações físicas, bióticas e de população residente.
- Distribuição populacional: As Macrorregiões Hidrográficas do Paraná e do Atlântico Sudeste concentram quase metade da população do país, enquanto macrorregiões mais extensas, como a Amazônica e a Tocantins-Araguaia, apresentam menor densidade populacional.
- Uso da terra: Entre 2000 e 2020, ocorreu aumento das áreas agrícolas, de pastagens e de silvicultura sobre áreas de vegetação natural, com maior variação nas macrorregiões Amazônica e Tocantins-Araguaia.
- Suscetibilidade a deslizamentos: A variação do relevo e da estrutura geológica está associada às diferenças de suscetibilidade, com maiores proporções nas macrorregiões Atlântico Sudeste e Atlântico Sul.
Publicado originalmente pela Agência de Notícias IBGE em 08/12/2025
Por Breno Siqueira – Editoria Geociências