Rebelião em unidade do Degase termina em fuga de menores no Rio

A rebelião no Cense Dom Bosco resultou na fuga de catorze adolescentes e colocou em evidência a sobrecarga estrutural de uma rede que já opera no limite / Reprodução Degase

Promessas de novas unidades seguem sem avanço, e o MPRJ alerta que centenas aguardam vagas, enquanto fugas revelam o impacto direto da negligência estatal


Uma tarde que deveria transcorrer com atividades rotineiras no Centro de Socioeducação (Cense) Aeroporto Dom Bosco, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, terminou em caos neste domingo (7). Por volta das 14h, uma rebelião tomou conta do pátio e do campo de futebol da unidade. No meio do tumulto, catorze adolescentes aproveitando a confusão conseguiram fugir — um retrato claro da pressão que a superlotação exerce sobre o sistema socioeducativo do estado.

A fuga foi confirmada pela Polícia Militar, acionada assim que a confusão se instaurou. O secretário da corporação, coronel Marcelo de Menezes, informou que entre os fugitivos há dez jovens ligados ao Comando Vermelho (CV) e quatro ao Terceiro Comando Puro (TCP). A situação expôs mais uma vez a fragilidade de um sistema que, há anos, funciona no limite.

Entre os fugitivos, há jovens ligados a facções rivais, enquanto um interno ficou ferido e foi levado ao Hospital Evandro Freire durante a confusão / Reprodução

Interno ferido e buscas sem sucesso

Durante a rebelião, um interno de 18 anos acabou ferido a pedradas. Ele foi encaminhado para o Hospital Municipal Evandro Freire, também na Ilha. Até o momento, não há atualização sobre seu estado de saúde.

Logo após a fuga, equipes policiais foram mobilizadas para cercar a Ilha do Governador com o objetivo de localizar os menores. No entanto, até a última atualização, nenhum deles havia sido encontrado. A própria PM admite que a superlotação tornava o episódio previsível.

Em nota, o Degase explicou que os internos aproveitaram uma confusão durante as atividades externas para escapar. Segundo o órgão, o Grupamento de Ações Rápidas atuou rapidamente para conter a situação, e a corregedoria deve apurar o caso. A unidade não esclareceu se houve registro formal na polícia, e a Polícia Civil não se manifestou.

Superlotação insiste, novas unidades não saem do papel

A crise no Degase não é novidade. Em julho, o governo do estado anunciou um investimento de R$ 53 milhões para erguer oito novas unidades, prometendo 219 vagas adicionais e uma modernização da estrutura de internação. Na prática, porém, nada avançou: nenhuma obra começou.

Enquanto isso, o sistema segue saturado. O Ministério Público do Rio (MPRJ) alerta que mais de 200 adolescentes aguardam vagas para cumprir medidas socioeducativas — um número que evidencia o colapso de um modelo que deveria priorizar ressocialização, mas esbarra em falta de espaço, planejamento e compromisso do poder público.

Atualmente, existem 24 unidades do Degase em funcionamento. A previsão do estado, também feita em julho, era de chegar a 32 até o fim de 2025. Mas, diante da lentidão das obras e da necessidade de transformar unidades antigas para atender à demanda emergencial, o cenário aponta para um futuro igualmente apertado.

O MPRJ acompanha o cumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2021, que prevê 15 novas unidades, descentralização do atendimento e condições que favoreçam a convivência familiar dos jovens. Ainda assim, o ritmo das entregas não acompanha a urgência social — e episódios como a fuga deste domingo revelam o impacto direto da negligência estatal sobre adolescentes que, em tese, deveriam estar sob proteção e política pública eficiente.

Via Rio Carta

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