Enquanto Flávio Bolsonaro tenta consolidar sua recém-anunciada pré-candidatura ao Planalto, lideranças do centrão articulam, nos bastidores, movimentos para isolá-lo politicamente. A tensão se agravou após o senador afirmar que só abriria mão da disputa caso o ex-presidente Jair Bolsonaro recuperasse a liberdade — condição considerada impossível no curto prazo.
A declaração de Flávio, feita no domingo (7), provocou forte reação entre dirigentes e parlamentares do centrão, que preferem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como nome da direita para 2026. Para boa parte desse bloco, o gesto do senador foi interpretado como pressão para que o Congresso aprovasse anistia completa aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 — tema rejeitado pela maioria dos líderes partidários.
A resistência ficou explícita nesta terça-feira (9), quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), comunicou aos líderes que o plenário votará apenas um projeto que reduz penas, sem conceder o perdão integral desejado por bolsonaristas. “No meu relatório não tem anistia. Anistia zero. O que tem é redução de penas”, reforçou Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da proposta, ao responder à pressão do PL.
A sondagem Datafolha publicada no sábado (6) ainda indica um cenário mais favorável ao governador paulista: no segundo turno, Lula venceria Flávio por 15 pontos, mas superaria Tarcísio por apenas cinco.
Mesmo com a resistência crescente, Flávio reforçou nesta segunda-feira (8) que sua candidatura é definitiva. “A única possibilidade de o Flávio Bolsonaro não ser candidato a presidente da República é o candidato ser o Jair Messias Bolsonaro”, afirmou. Ele também declarou: “Eu também atendo a todos os requisitos [para concorrer ao Planalto], com a vantagem de que tenho sobrenome Bolsonaro”.
A frase gerou novo incômodo entre partidos como PP, União Brasil e Republicanos — que avaliam que a alta rejeição ao núcleo bolsonarista pode contaminar campanhas estaduais em 2026. Dirigentes do PP afirmam, inclusive, que o partido deve liberar seus filiados para apoiar qualquer candidato caso Flávio siga na disputa. O temor é que a polarização em torno do senador prejudique a eleição de deputados e senadores, prioridade do centrão.
Para integrantes desse bloco, o senador herda um piso alto de votos por causa da base fiel do bolsonarismo, mas tem baixa capacidade de atrair setores moderados — ao contrário de Tarcísio, visto como o nome com maior viabilidade eleitoral à direita.
No plano legislativo, aliados do governador paulista já descartam qualquer chance de Tarcísio atuar pela anistia de Jair Bolsonaro. Lembram que ele mesmo tentou sem sucesso em um cenário muito mais favorável meses atrás, e classificam como improvável que avance agora, “muito menos sob chantagem”.
Enquanto isso, parlamentares como Efraim Filho (União Brasil), pré-candidato ao governo da Paraíba com apoio da família Bolsonaro, admitem que o lançamento da candidatura reacende o tema da anistia no debate público — mas sem força suficiente para torná-la viável no Congresso.