Alguns fatores me chamaram especialmente a atenção nos relatórios divulgados hoje pelo Datafolha.
Um deles é a força impressionante do Lula na votação espontânea e o desaparecimento virtual de Jair Bolsonaro como opção nesse tipo de resposta. Segundo o instituto, Lula cresceu para 24% das intenções espontâneas — o equivalente a aproximadamente 28,2 milhões de votos, enquanto Jair Bolsonaro desabou para 7%, o que corresponde a cerca de 8,2 milhões de votos.
O cálculo do número de eleitores considera a última atualização do Tribunal Superior Eleitoral, segundo a qual o Brasil tem hoje 155 milhões de cidadãos aptos a votar. Para manter consistência com os dados eleitorais reais, aplicamos a mesma proporção de votos válidos observada em outubro de 2022 — quando 75,77% dos eleitores aptos efetivamente votaram — ao universo atual de eleitores. Isso resulta em aproximadamente 117,5 milhões de votos válidos esperados, que é a base para todos os cálculos de projeção apresentados neste artigo.
Quando o Datafolha simulou cenários de segundo turno, Lula manteve vantagem consistente tanto contra Flávio Bolsonaro quanto contra Tarcísio de Freitas, dois dos principais nomes que a direita projeta como alternativas após o colapso eleitoral do ex-presidente.
No cenário em que enfrenta Flávio Bolsonaro, Lula aparece com 51% das intenções de voto, ante 36% do senador. Em termos absolutos, isso significa algo em torno de 59,9 milhões de votos para Lula contra 42,3 milhões para Flávio Bolsonaro, uma diferença de aproximadamente 17,6 milhões de eleitores a favor do petista.
No embate direto com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, Lula tem 47% das intenções de voto, contra 42% do adversário. Convertendo esses percentuais, o petista teria cerca de 55,2 milhões de votos, ante 49,3 milhões dados a Tarcísio, o que representa uma vantagem de aproximadamente 5,9 milhões de eleitores.
Vale observar como a vitória de Lula em 2022 se compara com a de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos.
No segundo turno de 2022, Lula obteve 60,3 milhões de votos (50,9% dos votos válidos), enquanto Jair Bolsonaro recebeu 58,2 milhões de votos (49,1%), uma diferença de aproximadamente 2,1 milhões de eleitores, ou 1,8 pontos percentuais.
Já Trump, vencedor das eleições de 2024, conquistou 77,3 milhões de votos (49,8%), contra 75,0 milhões de votos de Kamala Harris (48,3%), representando uma diferença de cerca de 2,3 milhões de votos, ou 1,5 pontos percentuais.
Trump e seus apoiadores, tanto nos Estados Unidos quanto aqui no Brasil, frequentemente falam de uma vitória espetacular nos EUA. Em termos de voto popular, porém, Lula obteve uma margem de vitória superior à de Trump — apesar de aqui no Brasil se insistir sempre em caracterizá-la como extremamente apertada.
O Instituto Datafolha publicou hoje a íntegra de três relatórios referentes às pesquisas que realizou entre os dias 2 e 4 de dezembro: um trata da aprovação do governo, outro questiona os entrevistados sobre a prisão de Bolsonaro, e o terceiro aborda as intenções de voto para as eleições presidenciais de 2026.
Confira a íntegra dos três documentos aqui: 1) pesquisa de intenção de votos para 2026, 2) pesquisa de aprovação do governo Lula, 3) pesquisa sobre apoio à prisão de Bolsonaro.
Outro fator que merece atenção é o avanço notável que Lula vem obtendo junto à classe média brasileira.
Entre aqueles que recebem de dois a cinco salários mínimos — um universo que representa 33% do eleitorado, ou 51,2 milhões de brasileiros — Lula ganhou quatro pontos nos últimos meses e hoje alcança 44% de aprovação, o que significa que aproximadamente 22,5 milhões de pessoas desse estrato aprovam o governo Lula.
Entre os que recebem de cinco a dez salários mínimos — cerca de 11% do eleitorado, ou 17,1 milhões de brasileiros — o movimento também é relevante. Lula alcança 41% de aprovação nesse grupo, o que representa cerca de 7,0 milhões de pessoas com esse perfil de renda que aprovam o atual governo.
Entre aqueles que ganham acima de dez salários mínimos — a chamada classe média alta, correspondente a aproximadamente 4% do eleitorado, ou 6,2 milhões de eleitores — a mudança é ainda mais expressiva.
Lula havia chegado ao mínimo de 35% de aprovação em julho de 2025, mas agora, em dezembro, alcança 47%, o que significa que cerca de 2,9 milhões de brasileiros com renda acima de dez salários mínimos aprovam o governo federal.
Esse é um dado interessante, que indica um fortalecimento do petista na opinião pública, um fenômeno que já tínhamos visto por volta de 2009 e 2010, no segundo mandato do presidente.
O Datafolha também detectou uma melhora sensível entre os homens, o que é um excelente sinal para Lula.
Em abril, Lula tinha 44% de aprovação entre os homens; agora, subiu para 48%. Esse foi o público que deu vitória a Jair Bolsonaro em 2018 e sustentou sua aprovação ao longo de todo o seu mandato.
A melhora de Lula entre o eleitorado masculino é mais um sinal de que sua aprovação pode avançar ainda mais nos próximos meses, pois a opinião política dos homens costuma antecipar tendências.
A aprovação geral do governo Lula, segundo o Datafolha, oscilou um ponto para cima, chegando a 49%, o melhor índice da série analisada.
O dado é particularmente significativo porque, pela primeira vez no período, a aprovação ultrapassou a desaprovação — ainda que por apenas um ponto percentual.
Além disso, os números revelam grande estabilidade ao longo dos últimos meses, com a aprovação flutuando entre 46% e 49%, enquanto a desaprovação manteve-se entre 48% e 50%.
Essa trajetória sugere que o governo consolidou uma base de apoio consistente, sem oscilações bruscas, e conseguiu recuperar terreno nos últimos meses, revertendo a tendência de desaprovação que havia predominado no primeiro semestre de 2025.