O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fez críticas contundentes à condução política da Casa sob o comando do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). As declarações ocorreram em um grupo interno do PP e foram reveladas pelo G1 nesta quinta-feira (11). As falas surgiram após o plenário rejeitar a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e aprovar uma suspensão de seis meses, decisão que contrariou a articulação de parte da direita.
Segundo o G1, Lira afirmou que a situação interna da Câmara exige reorganização e que o ambiente político se deteriorou nos últimos meses. “Tem que reorganizar a Casa. Está uma esculhambação”, registrou o parlamentar na mensagem dirigida aos correligionários.
A crítica, ainda que não nominal, foi interpretada como recado direto a Hugo Motta, atual presidente da Câmara, que enfrenta pressões desde a condução dos processos disciplinares analisados na quarta-feira (10).
Referência a representação contra Motta na PGR amplia desgaste
Em outro trecho da conversa, Lira mencionou a representação apresentada pelo PSOL à Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara após a retirada à força de Glauber Braga da cadeira da presidência durante uma sessão em novembro. “PSOL representou contra o presidente Hugo na PGR”, disse o deputado.
A lembrança do episódio evidencia o acúmulo de tensões políticas e regimentais que vêm marcando a gestão de Motta. A ação do PSOL cita abuso de autoridade e uso irregular da força policial legislativa.
A própria votação do caso Glauber Braga se tornou um teste para várias lideranças partidárias. Embora a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o Conselho de Ética tenham recomendado a cassação, articulações de última hora resultaram na aprovação da suspensão temporária.
Conflito antigo entre Lira e Glauber reaparece no debate interno
As falas de Lira reavivam o histórico de confrontos entre o ex-presidente da Câmara e o parlamentar do PSOL. Glauber Braga afirma que o conflito começou quando denunciou o chamado orçamento secreto durante a gestão de Lira, criticando a falta de transparência na distribuição de emendas.
Lira, por sua vez, foi um dos principais articuladores da punição aprovada contra Glauber, alegando quebra de decoro. Apesar disso, a mobilização de setores da esquerda e de parte do centro permitiu que o plenário derrubasse a cassação.
A decisão revelou fissuras internas no comando da Casa e expôs o enfraquecimento da influência de Lira, que deixou a presidência em fevereiro.
Lira também defende manutenção do mandato de Carla Zambelli
Após a votação que salvou o mandato de Glauber, o plenário passou a analisar a cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal e atualmente presa na Itália. O processo também terminou com a rejeição da cassação, sendo aprovado apenas um encaminhamento para que a Mesa Diretora avalie a perda do mandato por faltas.
Lira afirmou a aliados que a votação sobre Zambelli deveria ter sido adiada. “Não existe continuar votando”, disse ele, segundo o G1. Para Lira, o mandato da deputada deveria ser mantido porque, segundo ele, a perda ocorreria automaticamente por ausência prolongada, já que Zambelli está impossibilitada de comparecer às sessões