O PL da Dosimetria, aprovado pela Câmara na madrugada desta quarta-feira, transformou-se rapidamente em um ponto raro de convergência entre extremos políticos que raramente concordam. Um levantamento da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, baseado em 10.889 publicações no X, Instagram e Facebook entre a madrugada do dia 9 e o início da tarde do dia 10, mostra que 85% das postagens foram críticas ao projeto, ainda que por razões completamente distintas.
De um lado, setores da esquerda rejeitam o PL ao classificá-lo como “anistia disfarçada”, afirmando que a redução das penas representaria um incentivo à impunidade para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Para esse grupo, o texto aprovado reabre a discussão sobre responsabilização por crimes contra a democracia e favorece especialmente Jair Bolsonaro, cuja pena também pode ser afetada.
No campo oposto, parlamentares e influenciadores de direita utilizam outra chave de crítica. Ao avaliarem o PL como “esmola”, argumentam que o projeto legitimaria as condenações determinadas pelo STF e ficaria aquém da anistia ampla defendida por aliados do ex-presidente. Embora os dois grupos atuem de forma independente, suas críticas dominam o debate digital e formam a ampla maioria das menções negativas ao projeto.
Entre as postagens favoráveis, que somam 15%, a avaliação mais recorrente vê o PL como um movimento possível dentro das condições políticas atuais. Para esse grupo, a redução de penas abriria caminho para iniciativas legislativas mais amplas voltadas à anistia dos condenados.
A defesa pública do projeto concentrou-se especialmente em Paulinho da Força (Solidariedade), relator da proposta, e nos deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Os três sustentam que o texto aprovado corrige distorções na dosimetria das penas e oferece critérios mais uniformes para julgamentos relacionados ao 8 de janeiro.
A controvérsia nas redes acompanha a repercussão política mais ampla sobre os efeitos imediatos do PL, que ainda precisa avançar no Senado antes de qualquer mudança concreta nas condenações.