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A esquerda voltou a dominar as ruas

É surpreendente que parte da grande imprensa tenha optado por uma abordagem superficial ao cobrir as manifestações de domingo, 14 de dezembro, comparando-as de forma infantil com os atos de 21 de setembro. Manchetes que se limitam a dizer que as manifestações foram “menores” que as anteriores demonstram uma falta de bom senso e uma […]

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Foto de protestos em Brasília, contra PL da Dosimetria / Crédito: Dríade Aguiar / Mídia Ninja

É surpreendente que parte da grande imprensa tenha optado por uma abordagem superficial ao cobrir as manifestações de domingo, 14 de dezembro, comparando-as de forma infantil com os atos de 21 de setembro.

Manchetes que se limitam a dizer que as manifestações foram “menores” que as anteriores demonstram uma falta de bom senso e uma análise preguiçosa.

Comparações entre mobilizações fazem sentido quando revelam tendências políticas reais, como enfraquecimento ou fragmentação do movimento. Porém, os dados não apontam isso. A mobilização nas redes sociais foi massiva, a convocação foi nacional, e a base progressista demonstra vitalidade renovada. São momentos distintos com pautas específicas — setembro era sobre a PEC da Blindagem, dezembro sobre a Dosimetria — mas ambos refletem um campo organizado e ativo, não esvaziado.

E, nesse cenário, as manifestações de domingo foram gigantescas. Mobilizar dezenas de milhares de pessoas em todo o Brasil no final do ano para protestar contra uma anistia velada a golpistas é um feito notável.

Em Brasília, a Polícia Militar estimou cerca de 5 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, em um ato pacífico que concentrou críticas no presidente da Câmara, Hugo Motta.

No Rio de Janeiro, o ato em Copacabana reuniu 18,9 mil pessoas no seu auge, segundo o Monitor do Debate Político da USP. Em São Paulo, na Avenida Paulista, foram 13,7 mil manifestantes, de acordo com a mesma metodologia.

Se for para comparar, que se o faça com a direita, que, mesmo com motivos mais urgentes – seu líder máximo preso e outras lideranças foragidas –, não tem conseguido mobilizar suas bases com a mesma força.

A verdade é que a esquerda voltou a dominar as ruas. As manifestações de 14 de dezembro, somadas às de 21 de setembro, mostram um campo progressista com vitalidade, ampliando sua base e ganhando tração nas redes.

Essa retomada das ruas é acompanhada por um fenômeno igualmente significativo: a esquerda também voltou a crescer na internet e a vencer as batalhas culturais diárias que se travam no espaço virtual.

Pesquisas recentes revelam que em mobilizações políticas importantes, como a votação do PL da Dosimetria, a esquerda publicou sete vezes mais posts que o bolsonarismo.

A aprovação do presidente Lula, que melhorou e se estabilizou ao longo do ano, é um indicativo dessa força renovada.

Com a chegada de um ano eleitoral, a temperatura política tende a subir, e a história mostra que governos com bons indicadores e uma base organizada tendem a se fortalecer.

O governo já planeja para o início do próximo ano uma grande mobilização para apresentar as realizações dos últimos três anos, com os indicadores anuais fechados de 2023, 2024 e 2025.

A direita, por sua vez, encontra-se desorganizada.

No cenário internacional, a situação é mais complexa. Na América Latina, há avanços e recuos. No Chile, Gabriel Boric perdeu as eleições deste domingo, mas já divulgou vídeo cumprimentando o adversário e prometendo uma transição tranquila. O povo chileno, muito politizado, deve se manter mobilizado para evitar retrocessos. Mais quatro anos, e a esquerda volta ao poder no Chile.

No México, a presidenta Claudia Sheinbaum continua muito firme, com grande popularidade e conduzindo uma agenda progressista.

Mas o grande perigo agora é uma guerra imperialista dos Estados Unidos contra a Venezuela. É preciso uma grande mobilização em todo o continente para conter essa loucura americana. Os EUA acabaram de roubar um petroleiro venezuelano. Que absurdo é esse? Matando pescadores, explodindo embarcações com pessoas inocentes. Há denúncias de que são pessoas inocentes sendo mortas. É assassinato a sangue frio por parte de um Estado sem razão nenhuma. A alegação de que são narcoterroristas é ridícula e serve apenas como pretexto para uma agressão imperialista.

Se quisermos uma comparação internacional mais precisa, olhemos para os Estados Unidos, onde a esquerda avança. O Partido Democrata venceu em Miami, tradicional bastião da direita mais reacionária do país, pela primeira vez em décadas e obteve avanços significativos em eleições especiais por todo o país.

Um recuo claro do trumpismo é visível em vários estados americanos.

A vitória de um prefeito socialista e muçulmano em Nova York é um exemplo espetacular dessa tendência progressista.

As manifestações deste domingo, portanto, fecham o ano político brasileiro com chave de ouro. Elas ocorrem em um cenário nacional e internacional favorável e demonstram a força de uma base que se reencontrou com as ruas e com as redes sociais.

A esquerda está pronta para os desafios do próximo ano.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Nilson Moura Messias

15/12/2025 - 12h42

Miguel, análise racional. Parabéns!


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