O uso da palavra “prostituição” pelo cantor Zezé Di Camargo ao se referir ao SBT foi o principal motivo que levou a emissora a cancelar a exibição do especial É o Amor, que estava programado para ir ao ar nesta quarta-feira (17). A informação foi revelada pela colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
A decisão foi tomada após a divulgação de um vídeo publicado pelo cantor nas redes sociais na madrugada de segunda-feira (15), no qual ele criticou a emissora por ter convidado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para a cerimônia de lançamento do canal SBT News, realizada no domingo (14), em São Paulo.
Segundo a reportagem, o conteúdo da gravação causou forte reação interna na emissora, especialmente entre as filhas de Silvio Santos, que assumiram o comando do grupo após a morte do fundador.
Críticas à emissora e às herdeiras de Silvio Santos
No vídeo, Zezé Di Camargo afirmou que não se sentia confortável em manter o especial na programação diante das mudanças editoriais que, segundo ele, teriam ocorrido após a morte de Silvio Santos. O cantor sugeriu que as decisões atuais do SBT não refletiriam o pensamento do fundador da emissora.
“A partir do momento em que as pessoas [filhas de Silvio] pensam diferente do que o pai pensava, do que grande parte do Brasil pensa, do que eu penso, para mim não faz sentido colocar esse especial no ar”, declarou.
Na sequência, Zezé fez críticas diretas às herdeiras do apresentador. “Filho que honra pai e mãe, para mim não existe”, afirmou. Em outro trecho da gravação, o cantor intensificou o tom ao usar a expressão que, segundo a colunista, foi determinante para o rompimento com a emissora.
“Amo vocês, amo o SBT, tenho o maior carinho, tudo, mas eu acho que vocês estão, desculpe, prostituindo. Então, não faço parte disso”, disse.
Tentativa de mediação antes da decisão
Antes de assistir à íntegra do vídeo, uma das filhas de Silvio Santos, Patrícia Abravanel, chegou a procurar Zezé Di Camargo com o objetivo de tentar evitar um rompimento. Segundo a apuração, a intenção era esclarecer que o convite feito pelo SBT seguiu um protocolo institucional.
Patrícia explicou ao cantor que o presidente Lula foi convidado na condição de chefe do Poder Executivo e que Alexandre de Moraes participou do evento como vice-presidente do STF, uma vez que o presidente da Corte, ministro Edson Fachin, não pôde comparecer.
Apesar da tentativa de diálogo, a situação mudou após as herdeiras assistirem ao vídeo completo. O uso da palavra “prostituição” para se referir à emissora foi considerado ofensivo e inaceitável, levando à decisão de cancelar o especial e encerrar o vínculo relacionado ao projeto.
Reação das filhas de Silvio Santos
Uma das filhas de Silvio Santos falou com a coluna de Mônica Bergamo na noite de segunda-feira (15), logo após a confirmação da suspensão do programa. Segundo ela, a reação interna foi de indignação.
“Foi um verdadeiro absurdo, estamos indignadas”, afirmou. A executiva disse ter ficado “revoltada” com o uso do termo para se referir a uma empresa que atualmente é comandada por seis mulheres.
Ela também contestou a acusação de que as filhas não estariam honrando o legado do pai. De acordo com o relato, Silvio Santos sempre manteve relações institucionais com presidentes da República, independentemente de posicionamento ideológico.
“Está cheio de fotos do meu pai com o Lula, com todos os presidentes”, disse, ao rebater a ideia de que o fundador do SBT teria adotado uma postura de distanciamento institucional em relação a governos.
Cancelamento do especial e repercussão
O especial É o Amor estava previsto para celebrar a trajetória musical de Zezé Di Camargo e tinha produção já concluída. Com o cancelamento, a emissora optou por não exibir o conteúdo e não informou se haverá reaproveitamento do material em outra plataforma.
O episódio marca um dos rompimentos mais ruidosos entre um artista historicamente associado ao SBT e a emissora fundada por Silvio Santos. Zezé Di Camargo construiu parte significativa de sua carreira com forte presença nos programas da casa e participação recorrente em atrações musicais do canal.
Tensões políticas e impacto no setor cultural
O caso também expõe como o ambiente político tem impactado relações entre artistas, veículos de comunicação e empresas do setor cultural. A presença de autoridades dos três Poderes no lançamento do SBT News foi tratada pela emissora como um gesto institucional, mas acabou sendo interpretada por Zezé Di Camargo como um afastamento de posições que ele associa ao fundador do canal.
Até o momento, o cantor não se manifestou oficialmente após o cancelamento do especial. O SBT também não divulgou nota pública detalhando os termos do rompimento, limitando-se a confirmar a retirada do programa da grade.
O episódio reforça o grau de sensibilidade em torno de posicionamentos políticos no meio artístico e midiático e evidencia como declarações públicas podem produzir efeitos imediatos em contratos e parcerias consolidadas ao longo de décadas.