A China colocou em operação uma das maiores plataformas móveis de aquicultura do mundo ao transformar um navio de 150 mil toneladas em uma fazenda de peixes gigante capaz de se deslocar em busca das melhores condições ambientais. Batizada de Guoxin 1 2-1, a embarcação integra tecnologia de sensores, robôs e sistemas automatizados para produção de peixes em águas profundas, com logística desenhada para entregar pescado fresco em poucas horas a mercados costeiros e do interior do país.
Em 4 de dezembro de 2025, autoridades chinesas divulgaram novos detalhes do projeto, considerado o mais avançado da aquicultura industrial em alto-mar. Imagens aéreas registradas por drones em abril mostraram o navio no porto de Beihai, em Qingdao. Atualmente, a embarcação opera ancorada nas águas de Zhoushan, na província de Zhejiang, consolidando-se como a primeira plataforma móvel de aquicultura inteligente desse porte no mundo.
Lançado oficialmente em abril de 2025 e colocado imediatamente em fase de testes, o Guoxin 1 2-1 recebeu mais de 1 milhão de juvenis de corvina-amarela em maio. Em novembro, a operação registrou uma captura única superior a 46 mil peixes adultos, demonstrando estabilidade produtiva em escala industrial.
Estrutura e capacidade de produção
O navio funciona como uma fazenda de peixes gigante flutuante, equipada com 15 tanques comerciais padrão, quatro tanques circulares de exercício e 22 tanques experimentais, totalizando cerca de 96 mil metros cúbicos de água. Apesar do porte e da complexidade da operação, a embarcação opera com apenas 35 tripulantes, dos quais 16 atuam diretamente nas atividades de aquicultura.
Segundo a operadora responsável, o projeto foi concebido para reduzir a dependência de estruturas fixas próximas à costa, frequentemente expostas à poluição, variações bruscas de temperatura e limitações ambientais. Ao operar em alto-mar, o navio pode reposicionar-se conforme a estação, a espécie cultivada e a qualidade da água disponível.
Mobilidade para buscar melhores condições ambientais
O conceito central do Guoxin 1 2-1 é funcionar como uma plataforma móvel, capaz de se deslocar para regiões com melhor combinação de temperatura, correntes marítimas e níveis de oxigênio. De acordo com o diretor de produção, Sun Linlin, a lógica se inspira no deslocamento sazonal de rebanhos em busca de melhores pastagens, aplicada agora à aquicultura marinha em larga escala.
A mobilidade permite reduzir o estresse dos peixes, minimizar choques térmicos e manter condições ambientais mais estáveis ao longo do ciclo produtivo. Com isso, a embarcação se afasta das incertezas do mar raso e amplia o controle sobre a criação em águas profundas.
Rede de sensores, câmeras e automação
Para sustentar esse modelo, o navio conta com uma infraestrutura tecnológica avançada. São mais de 200 câmeras e cerca de 2 mil sensores distribuídos pelos tanques e sistemas internos. Esses equipamentos monitoram em tempo real parâmetros como temperatura da água, oxigenação, velocidade das correntes, comportamento dos peixes e consumo de ração.
As informações são centralizadas em uma sala de controle, onde operadores acompanham painéis digitais e ajustam remotamente os parâmetros da produção. O sistema permite que cerca de 30% das decisões operacionais sejam tomadas automaticamente por algoritmos, incluindo ajustes nos ciclos de alimentação e na circulação da água.
O índice de mecanização ultrapassa 90%, com nível de automação cerca de 45% superior ao do primeiro Guoxin 1, considerado o pioneiro mundial na aquicultura inteligente em navios.
Alimentação automatizada e redução de mão de obra
A alimentação dos peixes é totalmente automatizada. Cada tanque consome entre 1 e 1,5 tonelada de ração por dia, distribuída por sistemas de silos, trilhos e carrinhos automatizados. Com esse arranjo, apenas dois funcionários são suficientes para alimentar todos os tanques da embarcação diariamente.
A automação reduziu em aproximadamente 20% os custos de mão de obra, além de diminuir a exposição humana a tarefas repetitivas e fisicamente exigentes. A equipe técnica passa a se concentrar na supervisão, análise de dados e ajustes estratégicos da produção.
Logística integrada e entrega rápida ao mercado
Outro pilar do projeto é a integração entre produção e logística. Após a colheita e o processamento inicial a bordo, o peixe é encaminhado para canais de distribuição capazes de atender rapidamente os mercados consumidores.
Segundo a operadora, o sistema permite entregar peixe fresco em até seis horas para destinos a até 500 quilômetros e em até 15 horas para distâncias de até 1.000 quilômetros. Isso amplia o alcance da fazenda de peixes gigante, atendendo tanto cidades costeiras quanto regiões interiores da China.
A produção pode ser direcionada a diferentes linhas comerciais, incluindo peixe fresco inteiro, porções processadas e produtos pré-cozidos, atendendo desde mercados tradicionais até redes de varejo e conveniência.
Expansão da frota e impacto na aquicultura
O Guoxin 1 2-1 é o primeiro de uma nova geração de navios de aquicultura inteligente. Seu navio-irmão, o Guoxin 1 2-2, já foi lançado com foco em espécies de água fria, como salmão e truta. Quando as unidades da série estiverem em plena operação, a produção anual combinada deverá ultrapassar 10 mil toneladas.
Para os responsáveis pelo projeto, o modelo representa um avanço na aquicultura industrial em alto-mar, oferecendo maior flexibilidade geográfica e sazonal. A iniciativa faz parte da estratégia chinesa de desenvolver o chamado “celeiro azul”, voltado à segurança alimentar e ao uso mais eficiente dos recursos marinhos.