Em reunião ministerial realizada nesta quarta-feira (17), a última de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou uma aproximação com o segmento evangélico ao anunciar a intenção do governo de transformar a música gospel em patrimônio cultural brasileiro. A declaração foi feita durante um discurso de balanço político e econômico do ano, em meio às articulações do governo para o cenário eleitoral de 2026.
A reunião reuniu ministros e integrantes da cúpula do Executivo federal e teve como foco a avaliação das principais medidas adotadas ao longo do ano. Lula destacou avanços econômicos, institucionais e legislativos, além de comentar desafios políticos e a necessidade de aprimorar a comunicação das ações do governo junto à população.
Avaliação positiva do ano legislativo
Durante o discurso, o presidente ressaltou que o governo conseguiu aprovar pautas consideradas estratégicas mesmo sem dispor de uma base parlamentar numerosa no Congresso Nacional. Segundo ele, análises políticas iniciais apontavam dificuldades para o avanço da agenda governista.
“Tudo aquilo que os analistas políticos achavam impossível acontecer num governo que tinha menos de 120 deputados numa Câmara de 513 e 14 ou 15 senadores num Senado de 81, aconteceu”, afirmou Lula.
O presidente atribuiu os resultados à articulação política e ao diálogo constante com deputados e senadores. Para ele, a construção de consensos permitiu a aprovação de propostas relevantes para a gestão.
Medidas consideradas prioritárias
Lula também citou a aprovação de medidas que classificou como essenciais para o governo. Entre elas, mencionou mudanças na política tributária e alterações no Imposto de Renda, apontadas como compromissos centrais da atual administração.
“Aconteceu pela persistência de cada um de vocês, pela capacidade de conversa, de argumentação”, disse o presidente aos ministros, ao enfatizar o diálogo como método de atuação política.
Segundo Lula, a disposição para negociar e apresentar argumentos foi determinante para viabilizar projetos considerados sensíveis no Congresso Nacional.
Defesa da diplomacia internacional
No campo internacional, o presidente utilizou um diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para reforçar sua defesa da diplomacia e da negociação entre países. Ao mencionar a conversa, Lula destacou a importância do diálogo como alternativa a conflitos armados.
“Eu falei para o Trump: fica mais barato conversar e menos sofrido do que guerra. Se a gente acreditar no poder do argumento, no poder da palavra, a gente evita muita confusão na vida dos países”, declarou.
A fala foi utilizada como exemplo da postura do governo brasileiro em relação às relações internacionais, baseada na negociação e no entendimento entre nações.
Polarização e percepção pública
Apesar de classificar o cenário do governo como favorável, Lula reconheceu dificuldades na percepção pública dos avanços alcançados. Segundo ele, a polarização política influencia diretamente os resultados das pesquisas de opinião.
“Existe uma polarização no país. É como se fosse Corinthians e Palmeiras, Ceará e Fortaleza, Grêmio e Internacional, Atlético Mineiro e Cruzeiro, Flamengo e Vasco”, comparou.
O presidente afirmou que, em contextos de forte polarização, mudanças de posicionamento tendem a ocorrer apenas em momentos decisivos, como períodos eleitorais.
2026 como “ano da verdade”
Ao projetar o cenário político futuro, Lula afirmou que 2026 será determinante para o debate nacional. Segundo ele, o governo precisará intensificar a comunicação de seus resultados para a sociedade.
“O ano eleitoral vai ser o ano da verdade. Nós temos que criar a ideia da ‘hora da verdade’, para mostrar quem é quem nesse país”, disse.
O presidente destacou a necessidade de apresentar de forma mais clara as transformações ocorridas em áreas como economia, educação, saúde e políticas de inclusão social.
Papel dos ministros e partidos aliados
Lula também ressaltou a responsabilidade dos ministros e dos partidos que integram a base aliada no processo eleitoral. Para ele, a definição de posicionamentos será inevitável ao longo de 2026.
“Cada ministro e cada partido vai ter que estar no processo eleitoral e vai ter que definir de que lado está. Será inexorável as pessoas definirem o discurso que vão fazer”, afirmou.
A declaração reforça a expectativa de maior engajamento político dos integrantes do governo no próximo ciclo eleitoral.
Anúncio sobre música gospel
Ao final do discurso, o presidente destacou o que chamou de superação da invisibilidade social no país. “Nós acabamos com a invisibilidade do povo pobre desse país”, declarou.
Na sequência, anunciou a iniciativa voltada ao segmento evangélico. “A última novidade, na semana que vem, é que nós vamos transformar a música gospel em patrimônio brasileiro. Vamos fazer um reconhecimento”, afirmou.
A proposta dialoga com um grupo social que, segundo pesquisas eleitorais recentes, apresenta maior resistência ao presidente.
Encerramento em tom informal
Em tom descontraído, Lula dirigiu-se ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ao comentar a futura medida. “Você pode estar preparado porque além de ser ministro da Suprema Corte, você vai poder cantar música gospel dentro do Palácio do Planalto”, disse.
O comentário encerrou a reunião ministerial com referência direta ao anúncio, que sinaliza uma tentativa de aproximação institucional do governo com o segmento evangélico no contexto político e eleitoral que se aproxima.