Campanha da Havaianas com Fernanda Torres gera chilique na extrema-direita

Uma campanha publicitária da Havaianas para o fim de ano provocou reação negativa entre políticos ligados à direita brasileira, que acusaram a empresa de fazer militância política e atacar o campo conservador. As críticas se concentraram em uma peça estrelada pela atriz Fernanda Torres, na qual ela diz: “Não quero que você comece 2026 com o pé direito. Desejo que você comece o Ano Novo com os dois pés”.

A frase, utilizada em tom publicitário para promover o uso de sandálias da marca, foi interpretada por parlamentares como uma provocação ideológica. Nas redes sociais, nomes como o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), o vereador paulistano Adrilles Jorge (União Brasil) e o deputado estadual Paulo Mansur (PL-SP) criticaram duramente a empresa e associaram a campanha a um suposto alinhamento político à esquerda.

Críticas de parlamentares

O deputado Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, publicou mensagem na rede social X na qual afirmou que a campanha seria inadequada para o período natalino. Segundo ele, “em pleno Natal, tempo de união, respeito e reconciliação, a Havaianas escolhe usar o marketing para provocar e dividir, sugerindo ‘não começar o ano com o pé direito’”. Para o parlamentar, a publicidade não se enquadra como criatividade, mas como um “desserviço à sociedade”.

Pazuello também afirmou que a marca teria abandonado o respeito aos consumidores conservadores. “O Natal não combina com deboche ideológico nem com desprezo pelos valores de milhões de brasileiros. Marca que afronta seus próprios consumidores erra feio”, escreveu, acrescentando que o público conservador responderia retirando “apoio, respeito e mercado”.

O vereador Adrilles Jorge adotou um tom ainda mais duro. Para ele, a campanha seria uma “campanha política explícita contra a direita”. Em publicação, afirmou que o episódio evidenciaria um suposto domínio ideológico de esquerda sobre grandes marcas e meios de comunicação. “Não só o jornalismo, mas as grandes marcas são hegemonicamente esquerdistas”, escreveu. O vereador também fez críticas ao sistema político e judicial brasileiro, alegando perseguição a setores conservadores.

Já o deputado estadual Paulo Mansur afirmou que a Havaianas teria optado por “fazer militância política”. Para ele, a frase usada na propaganda não seria uma brincadeira ou recurso criativo, mas uma provocação ideológica. Em tom de boicote, declarou que deixaria de consumir produtos da marca.

Fernanda Torres e o contexto da campanha

A escolha de Fernanda Torres para estrelar a peça publicitária também foi mencionada pelos críticos. Em 2025, a atriz se tornou a primeira brasileira a conquistar o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama, por sua atuação como Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles.

O longa retrata a história da família Paiva após o desaparecimento de Rubens Paiva, ex-deputado federal preso, torturado e morto durante a ditadura militar brasileira (1964–1985). O reconhecimento internacional da atriz e o tema do filme, ligado à memória do período autoritário, passaram a ser citados por setores da direita como elementos de um suposto engajamento político da artista, embora a campanha da Havaianas não faça referência direta a temas partidários ou históricos.

Debate sobre publicidade e política

O episódio reacende o debate sobre os limites entre publicidade, liberdade criativa e interpretação política por parte do público. Especialistas em comunicação apontam que campanhas comerciais frequentemente utilizam linguagem simbólica e metáforas que podem ser apropriadas por diferentes leituras, sobretudo em contextos de forte polarização política.

Até o momento, a Havaianas não se manifestou oficialmente sobre as críticas feitas pelos parlamentares. A empresa tampouco indicou qualquer intenção de alterar ou retirar a campanha do ar. A ausência de posicionamento institucional mantém o debate concentrado nas redes sociais, onde apoiadores e críticos da marca trocam acusações de boicote e de censura ideológica.

Repercussão e impacto

A reação de políticos conservadores se soma a uma série de episódios recentes em que marcas, artistas e veículos de comunicação são alvo de críticas por suposto alinhamento político. Em um cenário marcado pela polarização, campanhas publicitárias passaram a ser analisadas não apenas sob critérios de marketing, mas também como possíveis manifestações simbólicas no debate público.

Analistas observam que, embora declarações de boicote ganhem visibilidade nas redes, o impacto efetivo sobre grandes marcas depende da adesão do consumidor e da duração da controvérsia. No caso da Havaianas, uma das marcas brasileiras mais conhecidas internacionalmente, ainda é cedo para avaliar se as críticas terão efeitos comerciais ou se permanecerão restritas ao campo político e simbólico.

Enquanto isso, a campanha segue como exemplo de como peças publicitárias podem se tornar catalisadoras de disputas ideológicas em um ambiente social altamente sensível a interpretações políticas.

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