A importante melhora da avaliação do governo junto aos deputados federais, segundo a Quaest

23.04.2025 - Entrega da PEC da Segurança Pública Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Entrega da PEC da Segurança Pública. Palácio do Planalto. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Após a aprovação do orçamento federal na última sexta-feira, em comissão mista de Câmara e Senado, o governo pode comemorar um ano com mais vitórias do que derrotas em sua relação com o Congresso.

Entretanto, a melhor notícia para o Executivo veio numa pesquisa que teve divulgação discreta, e quase não foi comentada pelos analistas de política.

Trata-se de um levantamento da Genial Quaest sobre o que pensam os deputados federais sobre os principais temas da política brasileira. Os parlamentares foram sondados sobre sua avaliação do governo Lula, do STF, o favorito nas eleições presidenciais de 2026, Hugo Motta, PEC da Segurança Pública, fim da jornada 6×1, entre outros assuntos.

A pesquisa sugere, surpreendentemente, que a influência do governo federal entre os deputados é maior do que se tem falado ultimamente, e a avaliação que eles fazem de Lula vem registrando uma melhora expressiva nos últimos meses.

No geral, a avaliação positiva do governo Lula junto aos deputados federais cresceu 11 pontos desde junho e chegou a 38% em dezembro. A nota regular hoje é de 21%. E 40% dos parlamentares qualificam negativamente o Executivo (eram 46% em junho).

Se convertêssemos esses percentuais para a fórmula binária aprovação X desaprovação, considerando que todos que dão nota positiva e metade dos que dão nota regular costumam aprovar, então o governo teria uma aprovação aproximada de 48% no parlamento, ou cerca de 249 deputados.

Ironicamente, é uma avaliação muito próxima daquela que Lula goza na sociedade, segundo diversas pesquisas.

A pesquisa da Quaest organiza a Câmara dos Deputados a partir de três classificações complementares, apresentadas aqui em ordem analítica: ideologia, posicionamento político e alinhamento com o governo Lula.

A primeira classificação é ideológica. Segundo a Quaest, 24% dos deputados se definem como de esquerda, o que corresponde a cerca de 123 parlamentares. O centro reúne 28% da Câmara, com cerca de 144 deputados, enquanto a direita forma o maior bloco, com 43%, equivalente a cerca de 220 parlamentares.

A segunda classificação é de posicionamento político, um recorte mais detalhado, que ajuda a compreender o comportamento dos deputados nas votações. Nesse eixo, 19% se identificam como lulistas (cerca de 97 deputados), 14% como esquerda não lulista (cerca de 72 parlamentares), 34% como independentes (cerca de 174 deputados), 21% como direita não bolsonarista (cerca de 108 deputados) e 12% como bolsonaristas, grupo formado por cerca de 62 deputados.

A terceira classificação diz respeito ao alinhamento com o Executivo. Nesse critério, 32% dos deputados se declaram governistas, somando cerca de 164 parlamentares. Outros 28% se definem como independentes (cerca de 144 deputados), enquanto 35% se colocam na oposição, totalizando cerca de 180 parlamentares.

A leitura conjunta dessas três classificações mostra uma Câmara mais complexa do que a divisão simples entre governo e oposição. Embora a direita seja majoritária do ponto de vista ideológico, ela se fragmenta politicamente entre bolsonaristas e não bolsonaristas. É nesse espaço intermediário, sobretudo entre a direita não bolsonarista e os independentes, que se concentra a principal margem de negociação para a formação de maiorias no Congresso.

Se somarmos a avaliação positiva com a regular por posicionamento político, o governo mantém diálogo com um número expressivo de deputados. Entre os lulistas, 100% avaliam positivamente ou como regular. Na esquerda não lulista, igualmente100%. Entre os independentes em termos de posicionamento político, 74% têm avaliação positiva ou regular de Lula. Na direita não bolsonarista, 42% na soma de regular e positivo. E ainda temos 3% dos bolsonaristas que têm uma avaliação regular do governo Lula.

Somando esses grupos, o governo tem interlocução potencial com cerca de 67% da Câmara (345 deputados).

A melhora na avaliação do governo fica evidente quando se observa o recorte por alinhamento com o Executivo. Entre os governistas, a avaliação positiva salta de 71% em junho para 97% em dezembro. Entre os independentes, houve mudança importante: a avaliação negativa caiu de 44% em junho para 24% em dezembro, enquanto a positiva subiu de 8% para 21%. A maioria dos independentes em relação ao governo hoje se concentra na avaliação regular (55%).

Mesmo na oposição, há sinais de deslocamento. A avaliação negativa caiu de 96% para 88%, e o grupo que avalia o governo como regular subiu para 12%. Não se trata de adesão, mas de uma oposição menos homogênea.

No recorte ideológico, o padrão se confirma. Entre os deputados de esquerda, 96% avaliam o governo positivamente. No centro, 38% avaliam positivamente e 44% consideram o governo regular. Ou seja, a maioria do centro não rejeita o governo. Na direita, o apoio positivo é pequeno (6%), mas há diferença relevante entre bolsonaristas e não bolsonaristas.

Conforme a própria pesquisa indica, um percentual relevante dessa direita não bolsonarista considera o governo pelo menos regular, abrindo margem para diálogo. O desenho final é claro: o único bloco que funciona como oposição dura, coesa e previsível é o bolsonarismo. Fora dele, há um conjunto expressivo de deputados — de esquerda, de centro e até de direita — que não rejeitam de forma absoluta o governo e mantêm algum espaço de negociação, mesmo que modesto e restrito a alguns temas específicos.

Outro dado relevante diz respeito ao favoritismo eleitoral de Lula entre os deputados que se declaram independentes em relação ao governo. Nesse grupo — que representa 28% da Câmara — Lula aparece como favorito para a eleição presidencial de 2026 em crescimento consistente. Em maio de 2024, 25% dos deputados independentes apontavam Lula como favorito. Em junho, esse percentual caiu para 23%, mas em dezembro saltou para 40%. Ao mesmo tempo, diminuiu a fatia que via um candidato da oposição como favorito, e cresceu a incerteza.

Esse movimento é particularmente importante porque os independentes funcionam como termômetro da correlação de forças no Congresso. Quando Lula avança nesse segmento, não se trata de adesão ideológica, mas de reconhecimento de viabilidade política e eleitoral — um fator que pesa diretamente nas decisões legislativas.

A pesquisa também traz dados sobre a avaliação do Supremo Tribunal Federal entre os deputados federais. Entre parlamentares de esquerda, a avaliação positiva do STF permanece elevada e volta a crescer em dezembro, alcançando 86%. No centro, observa-se uma inflexão importante: a avaliação positiva sobe no fim de 2025, enquanto a negativa recua. Mesmo na direita, onde predomina a rejeição, há diferenciações. A direita não bolsonarista apresenta uma avaliação menos hostil do STF do que o núcleo bolsonarista, com maior presença de respostas regulares e menor radicalização. Já entre os bolsonaristas, a rejeição ao Supremo se mantém extremamente elevada e homogênea.

Esse padrão reforça a leitura de que o bolsonarismo constitui hoje o principal polo de antagonismo institucional, não apenas em relação ao governo, mas também ao Judiciário. Fora desse núcleo, há gradações importantes de conflito, acomodação e negociação.

A violência se consolidou como principal preocupação do Congresso. Em agosto de 2023, apenas 7% dos deputados apontavam a violência como o principal problema do país. Em dezembro de 2025, esse percentual saltou para 43%, ultrapassando a economia (14%) e a corrupção (10%). Essa mudança de percepção ajuda a explicar a centralidade crescente da agenda de segurança e cria um ambiente mais favorável para iniciativas do Executivo nessa área.

Essa dinâmica se confirma quando se observam pautas específicas. Sobre a PEC da Segurança Pública, a pesquisa pergunta se ela será votada nesta legislatura — não se o deputado é favorável ou contra. Ainda assim, quem responde afirmativamente tende a ser favorável: se a PEC for pautada, a tendência é ser aprovada. O problema é o bloqueio da pauta, não a votação em si.

No total, 52% dos deputados acreditam que será votada (cerca de 267 deputados), contra 39% que não acreditam (cerca de 200 deputados). Na esquerda, a expectativa de votação é maciça (79%). No centro, a maioria acredita que será votada (59%), mas com divisão relevante. Na direita, predomina o ceticismo (56% acham que não será votada), mas mesmo entre os bolsonaristas, 28% admitem a viabilidade da PEC. Entre os independentes, há quase empate, com leve viés positivo. Na direita não bolsonarista, a divisão é praticamente equilibrada.

O apoio substantivo à PEC cresceu entre junho e dezembro: de 42% para 49% a favor. Isso equivale a cerca de 251 deputados favoráveis. Ocorre que uma PEC exige quórum qualificado de 3/5 dos deputados em dois turnos de votação — ou seja, 308 votos. A PEC está hoje aproximadamente 57 votos abaixo do mínimo necessário.

O apoio está fortemente concentrado na base do governo, que responde por cerca de 70% dos votos favoráveis. Os independentes contribuem com aproximadamente 60 votos, e a oposição com cerca de 34. Sem uma inflexão clara dos independentes — ou uma fissura relevante na oposição — a PEC enfrenta alto risco de travamento no plenário, sobretudo no segundo turno, onde historicamente o custo político para mudanças constitucionais tende a aumentar.

A tarifa zero no transporte público é uma pauta com potencial de maioria transversal na Câmara. Entre os governistas, o apoio é praticamente unânime (97%). Fora da base formal, quase dois terços dos independentes (64%) se declaram favoráveis. Até na oposição, o apoio chega a 43%. Isso indica que o principal obstáculo à tarifa zero não é a rejeição substantiva, mas a construção do arranjo fiscal e institucional para viabilizá-la.

A regulação de trabalhadores de aplicativos segue padrão semelhante: 94% de apoio entre governistas, 70% entre independentes e 41% na oposição. A resistência se concentra no núcleo bolsonarista, enquanto há espaço real de negociação com independentes e parte da direita não radicalizada. A segunda fase da reforma tributária também encontra apoio majoritário entre governistas (84%) e independentes (73%), com divisão mais equilibrada na oposição (36% a favor, 47% contra).

Já o fim da escala 6×1 encontra um cenário mais polarizado. O apoio segue alto entre governistas (82%), mas cai de forma significativa entre independentes (38%) e se torna residual na oposição (13%). Trata-se de uma pauta que opõe interesses trabalhistas e empresariais de forma mais direta. Ainda assim, a resistência fora da base governista não se traduz em rejeição absoluta: entre independentes, mais da metade se posiciona contra, mas há um contingente expressivo de indecisos, o que sugere espaço para negociação.

No campo fiscal, há consenso transversal para taxar apostas (100% entre governistas, 93% entre independentes, 78% na oposição), reduzir supersalários do setor público (87%, 93% e 94%, respectivamente) e aumentar a taxação das fintechs (95%, 74% e 32%). Em contraste, emendas parlamentares e assistência social são áreas de forte resistência. Apenas 63% dos governistas, 30% dos independentes e 29% da oposição aceitam reduzir gastos com emendas. O Congresso aceita ajuste fiscal, mas rejeita custos políticos diretos para si ou para suas bases eleitorais.

A avaliação de Hugo Motta permanece majoritariamente positiva entre independentes (70%) e até na oposição (49%), apesar da queda entre governistas (de 77% em junho para 44% em dezembro). Isso sugere que ele ocupa um papel de mediação institucional mais amplo, não identificado exclusivamente com o governo, o que ajuda a entender sua centralidade no atual equilíbrio da Câmara.

Clique aqui para baixar o relatório da pesquisa Quaest entre os deputados federais.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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