O custo do endividamento público deve manter o Brasil em uma posição isolada no cenário internacional ao fim de 2025. De acordo com estimativas baseadas em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país deverá novamente liderar o ranking global de gastos com juros da dívida pública em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), repetindo o desempenho já observado em 2024.
A projeção, divulgada em análise do jornal Valor Econômico, indica que as despesas financeiras brasileiras devem se aproximar de 8% do PIB neste ano, patamar que reflete a combinação entre um nível elevado de endividamento e uma taxa básica de juros ainda extremamente alta. Mesmo diante da expectativa de início de um ciclo de queda da Selic — atualmente em 15% ao ano —, o impacto sobre o custo da dívida tende a ser limitado no curto prazo.
Os dados mais recentes apontam que, em 2024, o Brasil já ocupava a primeira posição no ranking, com gastos equivalentes a 8,28% do PIB. Para 2025, a liderança deve ser mantida entre os 153 países analisados. Na sequência aparecem economias como Sri Lanka, com despesas financeiras de 7,81% do PIB, Paquistão, com 7,76%, e Bahrein, com 6,54%. Entre grandes emergentes, o peso dos juros também é elevado, ainda que inferior ao brasileiro: México (6,48%), África do Sul (5,26%) e Índia (5,11%).
No acumulado de 12 meses até outubro, as despesas líquidas com juros — diferença entre os valores pagos e recebidos pelo setor público — alcançaram R$ 987,2 bilhões, o equivalente a 7,88% do PIB. A expectativa é que, no fechamento de 2025, esse montante ultrapasse R$ 1 trilhão, consolidando a marca próxima de 8% do produto nacional.
O peso dos juros explica praticamente a totalidade do déficit nominal das contas públicas. Projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) indicam que esse déficit deve chegar a 8,5% do PIB, resultado de gastos financeiros em torno de 8% do PIB combinados a um déficit primário estimado em 0,5%.
Esse cenário pressiona a trajetória da dívida pública. Após encerrar 2022 em 71,7% do PIB, a dívida bruta do governo geral deve avançar para 77,6% em 2025 e alcançar 82,4% em 2026, segundo a IFI. O quadro evidencia os limites da política fiscal diante de um ambiente de juros elevados e reforça os desafios para estabilizar o endividamento nos próximos anos.