‘Chefão’ do Bradesco não poupa elogios a Lula e destaca política externa do governo

O ano de 2025 ficará registrado como um dos mais turbulentos para a economia global e para o comércio internacional desde a crise financeira de 2008. O principal fator de instabilidade foi o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a mais de 180 países, uma medida sem precedentes recentes que afetou cadeias produtivas, fluxos de exportação e relações diplomáticas em escala mundial. No caso do Brasil, contudo, a resposta ao choque externo seguiu um caminho distinto: em vez do confronto, prevaleceram o diálogo, a coordenação institucional e a negociação gradual.

A avaliação é do presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo. No texto, Trabuco analisa os impactos do tarifaço americano e sustenta que a estratégia adotada pelo governo brasileiro resultou em vitórias importantes para a política externa e para o desempenho do comércio exterior, mesmo em um cenário global adverso.

Tarifas começaram em abril e escalaram no meio do ano

Segundo o artigo, a primeira rodada de tarifas foi anunciada em 5 de abril de 2025, durante o chamado Liberation Day, quando os Estados Unidos impuseram uma taxa inicial de 10% sobre produtos brasileiros. O quadro se agravou em julho, com a elevação adicional de 40%, criando, nas palavras de Trabuco, “uma dificuldade quase intransponível para o acesso dos produtos brasileiros ao principal mercado consumidor do mundo”.

A escalada tarifária gerou forte apreensão sobre os efeitos para a economia global. Analistas passaram a discutir riscos de retração no comércio internacional, aumento de custos e possíveis guerras comerciais. Para países exportadores como o Brasil, a medida representava uma ameaça direta à competitividade de setores estratégicos.

Estratégia brasileira evitou retaliação e apostou em negociação

Diante do cenário, o Brasil optou por uma estratégia que se afastou da retórica confrontacional adotada por outros países. De acordo com Trabuco, “o que prevaleceu foram a temperança, a paciência e as declarações parcimoniosas”, tanto no discurso público quanto nas ações diplomáticas.

Em vez de retaliar com tarifas equivalentes ou adotar declarações agressivas, o governo brasileiro priorizou o diálogo institucional e a articulação com diferentes atores do mercado americano. Esse movimento envolveu empresas exportadoras nacionais, importadores dos Estados Unidos, representantes setoriais e diplomatas, criando um ambiente propício à negociação técnica.

O resultado desse esforço, segundo o artigo, começou a aparecer no fim do ano. Em novembro de 2025, os Estados Unidos suspenderam a taxa adicional de 40% aplicada aos produtos brasileiros, reabrindo o caminho para negociações que visam a normalização das relações comerciais entre os dois países.

Empresas reagiram e ampliaram presença em novos mercados

Mesmo com o mercado americano temporariamente mais restritivo, o setor privado brasileiro mostrou capacidade de adaptação. O artigo destaca que diversas empresas buscaram alternativas para manter o volume de negócios, ampliando exportações para países com os quais o Brasil já mantinha relações comerciais e abrindo novos mercados.

Esse movimento, segundo Trabuco, evidenciou a qualidade e a competitividade dos produtos brasileiros, que conseguiram se reposicionar em cadeias globais apesar do ambiente desfavorável. A diversificação de destinos ajudou a reduzir a dependência de um único mercado e a preservar o ritmo de crescimento das exportações.

Números recordes no comércio exterior em 2025

Os dados apresentados no artigo reforçam a leitura de resiliência da economia brasileira. A estimativa é de que as exportações alcancem US$ 345 bilhões em 2025, um recorde histórico. Já a corrente de comércio com o mundo deve atingir US$ 629 bilhões, crescimento próximo de 10% em relação a 2024.

Trabuco atribui esse desempenho ao aumento do volume de operações e à abertura de mercados em 80 países nos últimos três anos. Até a primeira quinzena de dezembro, o saldo da balança comercial brasileira já superava US$ 61,1 bilhões, indicando forte contribuição do setor externo para a economia nacional.

Resiliência econômica e lições para o futuro

Ao concluir o artigo, Trabuco classifica o tarifaço americano como “o fato econômico mais relevante do ano” e avalia que o episódio deixou lições importantes para a condução da política econômica e externa. Para ele, a resposta brasileira demonstrou que, em cenários de pressão extrema, a busca por soluções negociadas pode ser mais eficaz do que reações imediatas.

“O tarifaço deixa como lição a importância da humildade e da paciência na gestão de cenários agressivamente desafiadores, e assim evitar que a pressa do curto prazo vire um problema de longo prazo”, afirma o autor.

Segundo Trabuco, a combinação de diplomacia ativa, coordenação com o setor privado e ampliação de mercados contribuiu para preservar a posição do Brasil no comércio internacional e evitar que um choque externo se transformasse em uma crise prolongada para a economia nacional.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.