Os Correios assinaram um contrato de empréstimo de R$ 12 bilhões com um consórcio de bancos, em uma operação de longo prazo que terá validade até 2040 e conta com garantia da União. O aval do Tesouro Nacional reduz o risco para as instituições financeiras envolvidas e estabelece que o governo federal deverá honrar as parcelas do financiamento caso a estatal se torne inadimplente, oferecendo uma camada adicional de segurança ao crédito concedido.
A contratação ocorre em um momento crítico para a empresa, que enfrenta a pior crise financeira de sua história recente, marcada por prejuízos bilionários, forte pressão sobre o fluxo de caixa e a necessidade de medidas estruturais para garantir a continuidade das operações.
Tesouro avaliza operação e aponta cumprimento das regras
Após a formalização do empréstimo, o Tesouro Nacional informou que a operação respeitou os limites de juros previstos para financiamentos com garantia da União e atendeu aos critérios de avaliação da capacidade de pagamento exigidos para empresas estatais.
Segundo o Tesouro, a concessão do aval está condicionada à existência de um plano de reequilíbrio econômico-financeiro aprovado pelas instâncias competentes, o que, no entendimento do governo, foi cumprido pelos Correios. Esse tipo de garantia transfere parte do risco da operação para o setor público, mas permite que a estatal acesse crédito em condições mais favoráveis do que as que obteria sem o respaldo federal.
Prejuízo recorde agravou situação financeira em 2025
A assinatura do contrato ocorre após a divulgação de resultados que evidenciam a gravidade do cenário. Apenas no primeiro semestre de 2025, os Correios registraram prejuízo de R$ 4,36 bilhões, o maior já contabilizado pela empresa em um período equivalente.
A partir de janeiro, diante da escassez de recursos e do risco de desequilíbrio operacional, a estatal e o governo federal intensificaram discussões sobre alternativas para recompor o caixa e evitar interrupções nos serviços. O empréstimo de R$ 12 bilhões é visto como uma medida emergencial para garantir liquidez no curto e médio prazos.
Fatores que explicam a crise dos Correios
Entre os principais fatores apontados para o resultado negativo estão:
Forte aumento dos gastos com pessoal, que pressionou a estrutura de custos;
Mudanças no programa Remessa Conforme, que reduziram receitas com encomendas internacionais;
Queda acentuada do fluxo de caixa, com entradas insuficientes para cobrir despesas correntes;
Crescimento das despesas com precatórios, decorrentes de decisões judiciais;
Baixa rentabilidade da rede física, com cerca de 85% das agências operando no prejuízo.
Esse conjunto de fatores expôs fragilidades estruturais do modelo de negócios da estatal, em um contexto de transformação do setor postal e de maior concorrência no mercado de logística.
Plano de reestruturação prevê cortes, PDV e venda de ativos
Para tentar reverter o cenário, a nova gestão dos Correios aprovou um plano de reestruturação que combina redução de custos, revisão de processos e busca por novas fontes de receita. Entre as principais medidas estão:
Implantação de um Programa de Demissão Voluntária (PDV);
Venda de imóveis ociosos pertencentes ao patrimônio da empresa;
Renegociação de contratos com fornecedores;
Redução da jornada de trabalho e mudanças nos planos de saúde;
Retorno ao trabalho presencial;
Lançamento de um marketplace próprio, como tentativa de diversificar receitas.
O plano também prevê ajustes administrativos e operacionais para adequar a empresa às novas dinâmicas do mercado de encomendas e logística.
Privatização volta ao debate, mas Lula descarta a hipótese
Nos bastidores, a crise reacendeu o debate sobre a privatização dos Correios como alternativa ao modelo atual. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, voltou a descartar essa possibilidade de forma categórica.
“Enquanto eu for presidente não vai ter privatização. Pode ter construção junto com empresas. Enquanto eu estiver na presidência não vai ter privatização dessas empresas, pode ter parceria, economia mista, mas privatização não vai ter”, afirmou Lula.
O presidente também atribuiu parte das dificuldades a problemas de gestão e defendeu mudanças internas para recuperar a estatal.
Presidente cobra eficiência e destaca papel estratégico da empresa
Ao comentar a situação financeira dos Correios, Lula afirmou que uma empresa pública não pode operar de forma permanente no prejuízo e ressaltou a importância estratégica da estatal para o país, especialmente em regiões onde o setor privado tem menor presença.
“Uma empresa pública não pode ser a rainha do prejuízo. Trocamos o presidente dos Correios, chamamos a ministra Esther e o Rui, colocamos alguém com muita expertise e responsabilidade e vamos tomar medidas que tivermos que tomar, mudar todos os cargos que tivermos que mudar e colocar pessoa com competência”, declarou.
Empréstimo garante fôlego, mas desafio permanece
Com a contratação do empréstimo de R$ 12 bilhões, os Correios ganham fôlego financeiro imediato, mas especialistas avaliam que a sustentabilidade da estatal dependerá da efetiva implementação do plano de reestruturação e da capacidade de adaptação do modelo de negócios.
A garantia da União reduz riscos no curto prazo, mas também amplia a responsabilidade do governo federal sobre o futuro da empresa. O desempenho dos próximos anos será decisivo para definir se as medidas adotadas serão suficientes para reverter a maior crise financeira já enfrentada pelos Correios.