O Fundo Monetário Internacional (FMI) ajustou nesta terça-feira, 29, sua projeção de crescimento econômico do Brasil para 2026, passando a estimar uma expansão de 2,1% no Produto Interno Bruto (PIB), 0,1 ponto percentual acima da previsão divulgada em abril. Apesar da alta, a projeção indica desaceleração em relação ao crescimento de 2,3% esperado para este ano.
As novas estimativas constam no relatório “Perspectiva Econômica Global”, que considera as políticas comerciais em vigor até o momento da publicação e desconsidera o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros anunciado pelos Estados Unidos. O documento informa que, mesmo em casos de medidas temporárias ou pendentes, o cenário traçado assume continuidade das regras vigentes, sem considerar novas sanções tarifárias.
“Esse é o caso mesmo em relação a medidas que foram enquadradas como temporárias ou pendentes, o que significa que considera-se que pausas nas tarifas mais altas continuarão em vigor após seus prazos de validade e que taxas mais altas não entrarão em vigor”, afirmou o FMI no relatório.
A previsão do Fundo não incorpora, portanto, os possíveis efeitos da tarifa de 50% prometida pelo governo norte-americano, que deve ser aplicada a partir de 1º de agosto. A medida, anunciada por Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos em seu segundo mandato, vem sendo tratada com preocupação por autoridades brasileiras.
O governo brasileiro tem encontrado dificuldades para avançar no diálogo com representantes norte-americanos em relação à pauta comercial. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem liderado as negociações com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Até o momento, não houve definição sobre exclusões ou revisões da tarifa.
A estimativa do FMI para 2025 também foi ajustada anteriormente. Em abril, o relatório apontava um crescimento de 2,0% para o Brasil. Após visita técnica ao país no âmbito da “Consulta do Artigo IV”, o Fundo revisou a projeção para 2,3% em junho. Na avaliação do órgão, a economia brasileira apresentou avanços estruturais que justificam a revisão para cima nas projeções, ainda que os desafios internos permaneçam.
No entanto, as estimativas do FMI seguem abaixo das expectativas do governo brasileiro. O Ministério da Fazenda revisou neste mês sua projeção de crescimento para 2,5% em 2025, acima dos 2,4% previstos em maio. Para 2026, a projeção foi reduzida de 2,5% para 2,4%. Assim como o FMI, os números do governo ainda não refletem o impacto de eventuais tarifas adicionais dos EUA.
O desempenho recente da economia brasileira também foi destacado no relatório. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do país cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação aos três meses anteriores. Em 2024, a economia teve expansão de 3,4%. Os resultados do segundo trimestre serão divulgados em 2 de setembro.
O cenário traçado pelo FMI também aponta para uma desaceleração gradual da atividade econômica brasileira, impulsionada por uma política monetária restritiva. A taxa básica de juros Selic permanece em 15% e, segundo projeções do mercado, deve ser mantida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana.
A alta dos juros impacta diretamente o consumo e o investimento, mas um mercado de trabalho com indicadores positivos pode manter a resiliência da atividade econômica no curto prazo, de acordo com a análise do Fundo.
No contexto regional, a previsão para o crescimento da América Latina e Caribe em 2025 foi elevada para 2,2%, um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao relatório anterior. Para 2026, a projeção foi mantida em 2,4%.
Para o grupo das Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, no qual o Brasil está incluído, o FMI elevou a projeção de crescimento para 4,1% em 2025 e 4,0% em 2026, acréscimos de 0,4 e 0,1 ponto percentual, respectivamente, em comparação com os dados de abril.
Grande parte da revisão positiva foi influenciada pelo desempenho da China. O crescimento projetado do país asiático em 2025 passou de 4,0% para 4,8%, reflexo de uma atividade econômica mais forte do que o esperado no primeiro semestre e da redução de tarifas dos Estados Unidos, o que favoreceu o comércio exterior chinês.
Com os Estados Unidos mantendo a possibilidade de aplicar uma das tarifas mais elevadas do mundo sobre produtos brasileiros, os analistas acompanham com atenção os desdobramentos diplomáticos e as possíveis repercussões no crescimento projetado para o Brasil nos próximos anos.
O governo brasileiro, por sua vez, mantém sob análise os possíveis impactos da medida e avalia instrumentos de mitigação em caso de efetivação da tarifa. Entre as possibilidades em estudo estão medidas compensatórias, estímulos a setores exportadores e ações para preservar empregos em áreas afetadas.


Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!